Um vídeo compartilhado pelo presidente Jair Bolsonaro em seu canal no Youtube, ao longo de todo esse domingo (22), aumentou a tensão na disputa por espaço dentro de seu governo entre os apoiadores do escritor Olavo de Carvalho e os militares. Na gravação compartilhada pelo presidente, Olavo diz que os “milicos” só fizeram “cagada” nas últimas décadas e que “entregaram o país ao comunismo”. A publicação só foi apagada ontem à noite.
A exclusão do material coincidiu com um post feito quase no mesmo horário pelo vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, no Twitter. “Começo uma nova fase em minha vida. Longe de todos que de perto nada fazem a não ser para si mesmos. O que me importou jamais foi o poder. Quem sou eu neste monte de gente estrelada?”, escreveu Carlos, também ontem à noite, em mensagem que sugere seu afastamento do controle das redes sociais do pai e a sua participação no compartilhamento do vídeo.
Na gravação, Olavo contesta o principal argumento utilizado pelos militares para justificar a tomada do poder em 1964, com a destituição do então presidente João Goulart. “Esse pessoal subiu ao poder em 1964, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas, que tomaram o poder. Eles dizem: ‘Livramos o país dos comunistas’. Não, eles entregaram o país ao comunismo”, diz o escritor em trecho do vídeo.
“Se tivessem vergonha na cara, confessariam seu erro, mas é só vaidade pessoal, vaidade grupal e vaidade esotérica. Os milicos têm que começar a confessar os seus erros”, afirma. “Essa é a lei de Cristo. Primeiro, os seus pecados. Depois, os dos outros. Criaram o PT e não têm coragem de confessar.”
Olavo também sugere que o interesse dos militares não é patriótico. “Todos querem entrar na elite, não derrubar a elite. Tudo o que querem é ficar em Brasília, brilhar e embolsar o dinheiro do governo.”
No início do mês, Bolsonaro disse em café da manhã com jornalistas que era responsável por tudo o que entrava em suas redes sociais, mesmo que não tivesse sido o autor da publicação, já que apenas pessoas de sua “total confiança” têm acesso às respectivas senhas.
Carlos, que sempre apontou Olavo de Carvalho, como seu principal mentor intelectual, é visto como desafeto do vice-presidente Hamilton Mourão, que tem sido atacado pelo escritor gaúcho radicado nos Estados Unidos. Na semana passada, após encontro com Olavo, o vice-líder do governo no Congresso Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), entrou com pedido de impeachment contra o vice-presidente. Feliciano acusa Mourão de deslealdade e de “conspirar” contra Bolsonaro. Ele cita, entre suas justificativas, o fato de o vice ter curtido um comentário crítico feito pela jornalista Rachel Sheherazade ao presidente.
O Ministério da Educação é o principal foco de atrito entre os chamados olavates, seguidores do escritor, e o núcleo militar. Indicado por Olavo para o cargo, Ricardo Vélez Rodríguez deixou a pasta no início do mês após cerca de três meses de paralisia gerencial e trocas constantes em cargos importantes do ministério.
O seu substituto, o economista Abraham Weintraub, também é adepto das ideias do polemista gaúcho e tem trazido de volta ao governo outros nomes ligados a Olavo de Carvalho. Outro ministro que chegou ao cargo sob as bênçãos dele é o titular das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Bolsonaro, Ernesto e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, ofereceram um jantar em homenagem a Olavo durante a passagem da comitiva presidencial pelos Estados Unidos em março.
No mesmo mês o escritor chamou Mourão de “um cara idiota”. O vice-presidente respondeu, ao ser questionado sobre a declaração por jornalistas, mandando um “beijinho” para o polêmico influenciador intelectual dos filhos de Bolsonaro.
Fonte: Congresso em Foco
Créditos: Congresso em Foco