Alberto Fernández e Cristina Kirchner

'Bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder' na Argentina, diz Bolsonaro sobre vitória da oposição nas primárias

Chapa formada por Alberto Fernández e Cristina Kirchner ganhou com larga vantagem as eleições primárias na Argentina. Nesta terça, Fernández chamou Bolsonaro de 'racista, misógino e violento'

O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta quarta-feira (14), que “bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder” na Argentina, ao comentar a vitória da chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner nas eleições primárias.

“A Argentina está mergulhando no caos, a Argentina começa a trilhar o rumo da Venezuela, porque nas primárias bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder”, afirmou Bolsonaro em evento no Piauí.

Nesta terça-feira (13), Alberto Fernández chamou Bolsonaro de “racista, misógino e violento”. A declaração foi feita em um programa de televisão horas após Bolsonaro ter dito que o Brasil poderia ver uma onda de imigrantes fugirem da Argentina se políticos de esquerda vencerem as eleições presidenciais de outubro.

O presidente brasileiro apoia Mauricio Macri, candidato à reeleição na Argentina. Diante da derrota nas primárias, o presidente argentino anunciou nesta quarta novas medidas econômicas, como elevação do salário mínimo, bônus a trabalhadores e congelamento do preço da gasolina por 90 dias.

Em discurso para moradores de Parnaíba (PI), que o aguardavam no aeroporto, Bolsonaro também criticou “corruptos e comunistas” do Brasil, voltando a usar o termo cocô.

“O Mão Santa [prefeito de Parnaíba] me disse uma coisa: vamos acabar com o cocô no Brasil, o cocô é essa raça de corruptos e comunistas. Nas próximas eleições, nós vamos varrer esta turma vermelha do Brasil. Já que na Venezuela acabou, vou mandar este cambada para lá”, afirmou.

É pelo menos a quarta vez que o presidente da República menciona a palavra cocô ao falar em público nos últimos dias. Na sexta-feira (9), ao ser questionado sobre preservação ambiental, sugeriu a repórteres em Brasília que “fazer cocô dia sim, dia não” poderia reduzir a poluição.

No sábado (10), repetiu a sugestão a jornalistas, dizendo que se tratava de uma brincadeira. “Para a gente preservar o meio ambiente, vai um dia no banheiro e no outro dia, não. Um dia faz cocô, no outro não faz. Levaram para o lado sério.” Na segunda (12), em visita ao Rio Grande do Sul, o presidente disse que encontrar “cocozinho petrificado em índio” impedia a realização de obras públicas.

Ida ao Nordeste

Nesta quarta, Bolsonaro teve o primeiro encontro com um governador do Nordeste após a polêmica causada por declaração sobre governadores da região. Ele foi recebido por Wellington Dias (PT), que o cumprimentou e logo voltou a Teresina.

A fala do presidente sobre o Nordeste foi gravada durante conversa informal com o ministro Onyx Lorenzoni no dia 19 de julho. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que “daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão”. Governadores reagiram cobrando explicações do presidente e afirmaram ter recebido “com espanto e profunda indignação a declaração”.

No dia seguinte, Bolsonaro afirmou que fez uma “crítica” aos governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e da Paraíba, João Azevêdo (PSB), “nada mais além disso”.

Durante o discurso a apoiadores nesta quarta, Bolsonaro disse que “alguns governadores estão querendo separar o Nordeste do Brasil, estes cabras estão no caminho errado. O caminho do Brasil é um só, um só povo, só raça, uma só bandeira verde-amarela”.

“Nunca fechei as portas pra ninguém, eles que se reúnem, fazem manifestações contra mim, querem dividir o Nordeste, o Brasil é um país só, estamos nos livrando desse mal vermelho, do comunismo, isso é muito bom”, afirmou.

Durante entrevista à imprensa, o presidente também disse que ficou “muito honrado” com a concessão do seu nome a uma escola do Sesc que será inaugurada nesta quarta-feira em Parnaíba. O letreiro chegou a ser colocado no prédio do imóvel, mas foi retirado. O presidente do Sesc, Valdeci Cavalcante, disse não ter obtido autorização de Bolsonaro para isso.

“Fico muito honrado com essa possibilidade. Ações na Justiça foram movidas, caso elas sejam vencidas, o prefeito que decide. No momento está sob judice, e não vim aqui pra fazer campanha antecipada”.

“No nosso coração permanece o desejo de homenagear o presidente, dando o nome dele para a escola. Ainda nessa semana ele me disse que vai pedir a autorização do jurídico do Planalto para poder aceitar o convite e ter seu nome em uma de nossas escolas do Sesc”.

“O Bolsonaro prefere agir com mais cautela, para que as pessoas não se aproveitem da situação e façam jogo político ou antecipem campanha”, disse Valdeci Cavalcante..

Bolsonaro também negou a possibilidade de criar um novo imposto – o chefe da Receita Federal, Marcos Cintra, pretende implantar a Contribuição Provisória (CP) para substituir impostos federais – e disse que ainda não escolheu o nome do próximo Procurador-Geral da República.

“A PGR ainda tenho tempo ainda, tá difícil a escolha, tem muitos bons nomes e tenho certeza que o escolhido além de ser aprovado no Senado […]. Não tem nome A, B ou C”, disse.

A viagem do presidente nesta quarta foi a primeira ao Piauí e a terceira ao Nordeste desde que ele tomou posse. Depois da frase polêmica, Bolsonaro fez duas viagens à Bahia, mas não se encontrou com o governador Rui Costa (PT) em nenhuma delas.

Radares

O presidente voltou a criticar instalação de radares nas rodovias. Há dois dias ele disse que iria anunciar o fim dos radares móveis nas estradas federais. “A partir de segunda-feira, tá suspenso radar móvel”, disse nesta quarta.

“Respeito a Justiça, mas não consigo entender. Se quiserem que eu instale mais de 8 mil pardais no Brasil, vai custar 1 bilhão pro povo, pra botar assaltantes na pista, pra roubar vocês, não queremos pardais mais. É nossa intenção, agora temos uma batalha pela frente”, afirmou no Piauí.

Fonte: G1
Créditos: G1