Azambuja vence Delcídio (PT), e PSDB governará o MS pela primeira vez

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O deputado federal Reinaldo Azambuja (PSDB), 51, venceu o segundo turno na eleição para governador do Mato Grosso do Sul, derrotando o senador Delcídio do Amaral (PT) neste domingo (26). O PSDB assume o Executivo do Estado pela primeira vez, enquanto o PMDB deixa o poder após dois mandatos seguidos de André Puccinelli.

Azambuja viu sua candidatura decolar durante a campanha eleitoral, saindo de uma situação de empate técnico com o candidato governista Nelsinho Trad (PMDB), no início de agosto, para se consolidar como rival de Delcídio, líder das pesquisas no primeiro turno.

Mesmo chegando ao duelo final com menos votos do que o petista em 5 de outubro — 39,09%, contra 42,92% do rival –, Azambuja angariou eleitores suficientes para reverter a situação no pleito deste domingo.

Reinaldo Azambuja deixou de lado a administração de fazendas para se eleger duas vezes prefeito de Maracaju, no interior do Estado, entre 1997 e 2004. Ficou conhecido em sua gestão por completar o asfaltamento da cidade, de 41 mil habitantes, e por fazer dela a quinta maior do Estado em PIB, sete posições à frente do que estava quando ele assumiu a prefeitura.

Dois anos depois, ganhou a eleição para deputado estadual e, em 2010, conquistou uma vaga na Câmara Federal. Em 2012, terminou em terceiro na disputa pela Prefeitura de Campo Grande, ficando atrás de Alcides Bernal (PP), eleito, e Edson Giroto (PMDB). Em 2014, o novo governador sul-mato-grossense foi um dos candidatos mais ricos do país, com patrimônio de R$ 37 milhões declarado à Justiça Eleitoral.

Desde o início, Azambuja se apresentou como “candidato da mudança”, mas enfrentou oposição dura de Delcídio, que se aproveitou da condição financeira do pecuarista para caracterizar a eleição como uma disputa entre defensores de pobres contra partidários da elite.

Em resposta, o tucano procurou explorar denúncias de irregularidades em gestões petistas, como o caso de corrupção envolvendo a Petrobras e o governo federal, e ligá-las ao candidato rival.

Justiça Eleitoral

O duelo entre PT e PSDB no Estado também viu os candidatos subirem o tom nos últimos dias de campanha, como ocorreu com Dilma Rousseff e Aécio Neves na disputa pelo Planalto. Delcídio, por exemplo, ligou Azambuja ao caso conhecido como “Máfia do Câncer”, em propaganda posteriormente vetada pela Justiça Eleitoral, enquanto o rival chamou o petista de “mentiroso”.

Os ataques de Delcídio fizeram o petista perder quase duas horas em direitos de resposta concedidos a Azambuja. As decisões favoráveis ao tucano consideraram que as críticas do petista foram “sabidamente inverídicas” e “distorceram a realidade”. A coligação liderada pelo PT afirmou que a Justiça Eleitoral estava sendo parcial e que o candidato do PSDB parecia “incriticável” aos olhos do TRE do Estado.

As perdas fizeram com que Delcídio ficasse sem o último programa eleitoral na televisão, na sexta-feira (24). O horário do petista exibiu apenas três inserções de direito de resposta do tucano, que somaram 8min40s do tempo total de dez minutos. No 1min20s restante, foi exibida uma tela azul com a inscrição “tempo perdido pela coligação Mato Grosso do Sul com a Força de Todos por infringência à lei eleitoral”.

Delcídio, no entanto, também obteve dois direitos de resposta no último horário eleitoral do adversário, que somaram aproximadamente 4min30s.

Apoios e rachas

Antes do duelo, os dois candidatos quase estiveram lado a lado na campanha. No início do ano, o PT e o PSDB do Mato Grosso do Sul cogitaram uma coligação que teria Delcídio como candidato ao governo do Estado, e Azambuja como postulante ao Senado. No entanto, as direções nacionais dos partidos, rivais históricos, vetaram o acordo.

Azambuja teve a seu lado DEM, PSD, SD, PPS e PMN na coligação Novo Tempo e angariou diversos apoios após o primeiro turno, como o de Nelsinho Trad (PMDB), terceiro colocado com 16,42% dos votos, e da senadora eleita Simone Tebet (PMDB), que obteve 52,61% nas urnas, assim como dos sete partidos aliados ao PMDB na campanha (PSB, PT do B, PSC, PRTB, PTN, PEN e PHS).

Delcídio, por sua vez, teve como aliados o ex-prefeito de Campo Grande Alcides Bernal (PP) — cassado em março deste ano e que acabou derrotado por Simone Tebet na disputa pelo Senado — e Sidney Melo (PSOL), quinto colocado na disputa pelo governo sul-mato-grossense.

Mato Grosso do Sul

Reinaldo Azambuja governará um Estado que tem população de 2,6 milhões de pessoas, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2013, espalhadas em 79 municípios. Cerca de 26% dos moradores são migrantes de outros Estados e países. Entre 1991 e 2010, a taxa de mortalidade infantil caiu de 34 a cada mil nascidos vivos para 18, e a expectativa de vida subiu de 67 para 75 anos, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano. Em 2010, 94% da população tinha acesso à rede de esgoto.

Elevado à categoria de Estado em 1979, após se desmembrar do Mato Grosso, o Mato Grosso do Sul tem a pecuária, com extensas pastagens, e a agricultura como principais atividades econômicas. De acordo com dados mais recentes do IBGE, de 2010, a renda média per capita é de R$ 799 (a média brasileira é de R$ 668) e a taxa de analfabetismo é de 8% (9% em todo o país).

Principais problemas

Na enquete do “Esperançômetro”, do UOL, o atendimento à saúde, apontado por grande parte dos internautas do Estado em outubro, é um dos itens que os sul-mato-grossenses mais esperam que melhore em sua vida.

Azambuja tem como proposta estabelecer o mutirão da saúde, promovendo melhor atendimento nos hospitais regionais e diminuindo as filas para realização de exames e cirurgias. Segundo o novo governador, a destinação de recursos aos centros médicos no interior também desafogará o atendimento na capital Campo Grande.

UOL