Aposta do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) para melhorar seus índices de popularidade nos setores de baixa renda às vésperas do pleito, a expansão do Auxílio Brasil não reverteu a tendência de vitória do PT nos municípios mais pobres do país.
Com 43,2% dos votos válidos até a meia-noite deste domingo (2), Bolsonaro disputará o segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tinha 48,4%. O novo presidente eleito será conhecido no próximo dia 30.
A Folha de S.Paulo observou o padrão de votação dos dois candidatos nos municípios brasileiros, considerando a cobertura do programa social que substituiu o Bolsa Família. A análise foi realizada com 99% das urnas apuradas.
Os dados indicam que a probabilidade de Bolsonaro ter vencido em uma determinada cidade diminui à medida que aumenta a parcela de famílias beneficiadas com a transferência de renda. Padrão inverso, benéfico ao PT, é observado desde 2006.
A estatística mostra uma correlação significativa entre os números do Auxílio Brasil e das urnas. Não é possível afirmar, contudo, que haja uma relação de causa e consequência, pois outras variáveis influenciam paralelamente, como o tamanho da cidade e seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), por exemplo.
Bolsonaro recebeu 24% dos votos nas cidades mais pobres do país, ante 71% de Lula, considerando aquelas proporcionalmente mais atendidas pelo Auxílio Brasil -três quartos ou mais das famílias inscritas no programa.
Nos municípios menos beneficiados -até um quarto das famílias-, o atual presidente teve melhor desempenho, com em média 51% dos votos, contra 39% do adversário petista.
Esse padrão se repetiu nas diferentes regiões do país. Mesmo no Sul e no Sudeste, onde saiu vitorioso em todos os estados há quatro anos, Bolsonaro teve votações menos expressivas nas áreas mais pobres.
No Rio Grande do Sul, Bolsonaro obteve 32% dos votos nas cidades mais beneficiadas pelo programa social e 50% naquelas menos atendidas. Lula ficou com 62% e 41%, respectivamente, também considerando os recortes com até um quarto das famílias ou mais de três quartos das famílias inscritas.
Em Pernambuco, o candidato à reeleição ficou com 24% dos votos nos municípios mais atendidos pelo Auxílio Brasil, e 41% naqueles proporcionalmente menos dependentes. O petista, por sua vez, obteve 72% e 52%, respectivamente
A correlação neste ano, porém, foi menor do que em edições anteriores. Na faixa das cidades com três quartos ou mais das famílias atendidas pelos programas de transferência de renda, o PT chegou a obter 73% e 77% dos votos, em 2010 e 2014, respectivamente, com Dilma Rousseff.
A análise considerou os dados da apuração do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a média do número de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família e pelo Auxílio Brasil nos três meses anteriores ao primeiro turno, segundo o Ministério da Cidadania, e o número de famílias por município, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na avaliação do economista Valdemar Neto, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e autor de pesquisas sobre o efeito eleitoral dos programas sociais, ao menos três fatores podem ter contribuído para que o Auxílio não tenha se revertido em um bônus para Bolsonaro nas urnas. O primeiro é o contexto econômico.
“O Auxílio veio como uma política compensatória, em um ambiente consideravelmente adverso devido à pandemia, com menos emprego e renda. Já o Bolsa Família atingiu as populações vulneráveis em um contexto de relativa estabilidade. Com isso, a sensação de melhoria das condições de vida pode ter sido maior no período do Bolsa Família, mesmo com um valor inferior”, afirma.
Em segundo lugar, diz o especialista, políticas como essa precisam de tempo e maturidade para que os eleitores a reconheçam como algo de caráter permanente e duradouro, e também para que possam associá-las ao governo vigente.
Fonte: Notícias ao Minuto
Créditos: Notícias ao Minuto