As manifestações do Dia Internacional da Mulher neste 8 de março serão palco de críticas ao governo de Jair Bolsonaro, em uma retomada do movimento #EleNão, organizado na campanha eleitoral. Movimentos sociais e integrantes de partidos da oposição farão atos em todas capitais do País.
A luta contra a reforma da Previdência é a principal bandeira. “O nosso chamado é Mulheres contra Bolsonaro. Não só pela reforma, mas o pacote de propostas dele como um todo afetará as mulheres”, afirmou ao HuffPost Brasil Sônia Coelho, integrante da Marcha Mundial das Mulheres e da Organização Sempre Viva.
Quanto às mudanças nas regras de aposentadoria, a militante destaca que haverá um impacto mais danoso a mulheres do campo e à população negra. “A reforma não reconhece a desigualdade entre homens e mulheres”, critica. Ela lembra dados que indicam diferença no sistema atual.
Hoje, as mulheres são maioria entre os que se aposentam por idade. Elas representam 64%, com benefícios em torno de um salário mínimo, de acordo com o estudo “Diferenças na legislação à aposentadoria entre homens e mulheres: breve histórico”, do Ipea. Na modalidade tempo por contribuição, por sua vez, onde os rendimentos são maiores, a presença feminina cai para 30%.
A proposta de emenda à Constituição (PEC) enviada pelo Palácio do Planalto em fevereiro estabelece uma idade mínima de 65 anos para homens e 62 para brasileiras terem acesso ao benefício.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS), por sua vez, lembra que no sistema dos funcionários públicos, a reforma irá aumentar a idade mínima em 7 anos para as brasileiras – que hoje se aposentam a partir dos 55 anos – e em 5 anos para os homens – que têm direito ao benefício após os 60 anos. “A proposta desconsidera o trabalho que a mulher realiza e não é contabilizado. Elas são as primeiras a levantarem da cama e as últimas a se deitarem”, disse à reportagem.
“A proposta [da reforma da Previdência] desconsidera o trabalho que a mulher realiza e não é contabilizado. Elas são as primeiras a levantarem da cama e as últimas a se deitarem”, diz Maria do Rosário (PT-RS).A parlamentar que foi ministra de Direitos Humanos no governo de Dilma Rousseff irá participar de um debate com transmissão online nesta sexta-feira (8), promovido pelo PT. A ex-presidente e outras integrantes da gestão petista, como Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Eleonora Menicucci (ex-secretária de Políticas para Mulheres) também estarão presentes.
De acordo com Rosário, a expectativa é que a onda de críticas ao novo presidente feitas no Carnaval reforcem a oposição. “Hoje os movimentos não acontecem só nas ruas. O Carnaval foi um exemplo disso. Quem imaginaria que iria se transformar num grito contra o Bolsonaro? Não tenho dúvida de que o sentimento da população está virando contra o Bolsonaro”, afirmou.
No feriado, um boneco gigante do presidente foi hostilizado em Olinda (PE). Bloquinhos e marchinhas fizeram sátiras ao novo governo, incluindo fantasias em referência ao esquema de candidatas laranja em que integrantes do PSL são investigados e o escândalo envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e seu ex-assessor, Fabrício Queiroz.
O vídeo com conteúdo obsceno publicado pelo presidente da República com críticas à festa popular também repercutiu negativamente. A publicação foi vista como ofensiva à comunidade LGBT.
“Acho que foi uma vitória democrática nesses 5 dias de Carnaval o eco dos populares, jovens, mulheres, LGBTs, negros e negras, que soou bem alto contra o governo reacionário do Bolsonaro e a favor dos nossos direitos”, diz Fernanda Melchionna (PSol-RS).
Críticas a Bolsonaro no Carnaval
Outras bandeiras que terão destaque nos protestos do 8 de março, de acordo com os movimentos envolvidos na organização dos atos, são o combate à violência doméstica, a legalização do aborto e a cobrança pela investigação da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ). O próximo dia 14 marca um ano da morte da parlamentar negra, lésbica, feminista e nascida no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.
Marielle foi uma das homenageadas no desfile da Mangueira, campeã do Carnaval Rio 2019 com enredo História para ninar gente grande, que lembrou heróis da resistência negros e índios. “Acho que foi uma vitória democrática nesses 5 dias de Carnaval o eco dos populares, jovens, mulheres, LGBTs, negros e negras, que soou bem alto contra o governo reacionário do Bolsonaro e a favor dos nossos direitos”, afirmou ao HuffPost Brasil a deputada Fernanda Melchionna (PSol-RS).
Na avaliação da parlamentar, esse foi o “Carnaval mais politizado da história recente do nosso País” e o vídeo publicado pelo presidente fortalece “a ideia de que o governo está preocupado com o grau de mobilizações e contrariedade que tem às suas políticas reacionárias”.
De acordo com pesquisa divulgada em 26 de fevereiro pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), a avaliação positiva do governo está em 39% e a negativa, em 19%. O resultado é pior do que o registrado no início do primeiro governo Dilma (49%) e dos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (57% no primeiro e 50% no segundo). A avaliação é melhor que de Michel Temer (11%) e o segundo mandato da petista (11%).
Além dos atos nesta sexta, também há uma agenda prevista para o fim de semana. No sábado, por exemplo, serão realizadas manifestações no ABC Paulista.
Integrante do partido do presidente e uma das organizadores de atos pró-Bolsonaro em 2018, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) minimiza os atos ligados a partidos como PT, PSol e PCdoB. “Tem de deixa elas chorar. O papel delas é esse. Ficar fazendo oposição. Enquanto elas ficam chorando e sendo mimizentas, a gente trabalha. Essa é a diferença entre elas e a gente”, afirmou ao HuffPost Brasil.
De acordo com a parlamentar, as 9 mulheres na bancada do PSL, a votação expressiva da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) e a presença das ministras Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura) rebatem acusações de machismo atribuído ao novo governo.
Ela também cita como exemplo a flexibilização do porte de armas de fogo. “Várias mulheres começaram a ir em clubes de tiro para aprender a atirar. São muitas vezes mães solteiras, que não têm um homem para defendê-las, e o Bolsonaro fez essa medida que favoreceu muito mães solteiras ou mulheres que o marido viaja, separadas”, disse.
Especialistas em violência doméstica, contudo, alertam que o decreto pode agravar os indicadores de violência doméstica.
Pacto contra violência doméstica
Nesta sexta, a ministra Damares Alves, e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, assinam um acordo de cooperação técnica para estabelecimento de políticas públicas de combate agressões contra mulheres. Também será lançada a campanha #SalveUmaMulher.
De acordo com a assessoria do Ministério de Direitos Humanos, as medidas têm como objetivo “mobilizar as unidades, agentes e serviços de ambos os órgãos em ações de atendimento e proteção a mulheres vítimas de violência, além de fomentar o tratamento dos agressores que estejam no sistema prisional, monitorados eletronicamente (por tornozeleiras eletrônicas) ou em cumprimento de penas alternativas”.
Quanto à participação feminina na esfera pública, Zambelli aponta que há diferenças que independem da atuação do presidente. “A mulher não quer participar da política porque a mulher em si é conservadora. É difícil ir para Brasília 3 vezes por semana, deixar os filhos e marido em casa. A mulher tem um papel diferente na sociedade. Um papel duplo, de jornada em casa e no trabalho”, afirmou.
Fonte: MSN
Créditos: MSN