
A investidura, em abril, do governador João Azevêdo no comando do diretório estadual do PSB está sendo encarada por aliados mais próximos do chefe do Executivo como oportunidade valiosa para deflagrar-se uma “virada de chave” no projeto político do líder socialista em relação ao futuro. Até o momento João Azevêdo evita alarde sobre uma provável candidatura ao Senado em 2026, limitando-se a dizer que a hipótese é seu “Plano A”, mas não descendo a detalhes a respeito, muito menos estimulando especulações, inclusive, sobre o segundo nome da chapa oficial para o Senado. Por sua conta e risco a senadora Daniella Ribeiro, que se viu na contingência de deixar o PSD e ainda não definiu a nova sigla em que vai pontificar, tem agitado a pretensão de candidatar-se à reeleição, sendo categórica no propósito mesmo quando lembrada de que seu filho, o vice-governador Lucas Ribeiro, do PP, em cada vez mais se preparando para ser candidato ao governo, fortalecido pela perspectiva de estar investido na titularidade com a desincompatibilização de João.
No que diz respeito a João, ele ainda mantém a mesma postura contida de 2018 quando seu nome foi retirado do bolso do colete do então governador Ricardo Coutinho e atirado à liça como postulante ao Palácio da Redenção, sem nenhuma precedência de militância política ou de exercício de mandato, quer no governo, quer no Parlamento, contabilizando apenas uma trepidante passagem pelos escalões governamentais como super-secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos. Era visto, então, como um técnico, quase igualado ao “neófito” Tarcísio Burity quando este foi indicado governador, por via indireta, pelo regime militar. O “técnico” João Azevêdo surpreendeu a toda a Paraíba quando foi eleito em primeiro turno ao Executivo com o apoio decidido do ex-aliado Coutinho, que chegou mesmo a permanecer no cargo até o último dia do mandato para poder ter um controle melhor sobre os rumos da sua sucessão. O fenômeno “João Azevêdo” medrou numa conjuntura em que a fogueira de vaidades na oposição sobre candidatura produziu impasse ao invés de consenso e partiu-se para uma chapa sem maior repercussão junto ao eleitorado paraibano, capitaneada por Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo do então prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, ambos no PV. Lucélio havia sido derrotado em 2014 por José Maranhão na campanha ao Senado.
No primeiro ano de governo, na gestão inicial, Azevêdocomeçou a ser testado em embates políticos-partidários diante de notórias divergências com o antecessor, que dava a impressão de apenas ter “emprestado” o governo e, por isso mesmo, não admitir que o sucessor tivesse liberdade ou autonomia para fazer suas escolhas e definir os rumos da gestão que passara a empalmar. Pelo estilo centralizador e personalista de Ricardo Coutinho, era lógico adivinhar que o rompimento estava a caminho – e assim as coisas aconteceram, com direito a queda-de-braço pelo controle do PSB e a manobras que empurravam João para fora do partido. Ele sobreviveu, no período de tempestade, dentro do Cidadania, com que não tinha maiores afinidades, mas que era o partido que se lhe oferecia para escapar da borrasca. Só mais tarde, fortalecido com sua própria atuação administrativa, ele foi readmitido com honras dentro do PSB – aí, foi a vez de Ricardo pular fora e voltar aos braços do PT, já que o metro quadrado havia ficado estreito demais para acomodar os dois líderes. O aprendizado político de João foi sendo forjado, então, nesses conflitos e nas ameaças constantes de reviravolta.
Ainda assim, fortalecido e prestigiado, ele não quebrou lanças para assumir o comando partidário, deixando que essa função caísse nas mãos do deputado federal Gervásio Maia, que por um certo tempo chegou a alimentar pretensões na disputa majoritária paraibana – nunca concretizadas, infelizmente para ele. Reeleito em 2022, João Azevêdopassou a enfrentar pressões legítimas de aliados próximos ou de expoentes do seu entorno, também chamados de integrantes do “núcleo duro”, para se afirmar como líder partidário tendo em vista o seu próprio futuro na atividade política, diante da perspectiva de acontecimentos excepcionais em 2026. João deixou passar as eleições municipais do ano passado, dividindo-se, salomonicamente, entre palanques do PSB e de outros partidos que integram a sua base de sustentação. Estava claro que seu partido caminhava para um crescimento espetacular, como decorrência da perspectiva de poder que continuava a oferecer na realidade política do Estado.
Mesmo que o resultado das eleições municipais tenha exprimido certo equilíbrio na correlação de forças entre partidos como PSB, PP e Republicanos no tocante ao controle de prefeituras municipais, o governador João Azevêdo foi considerado vitorioso no confronto com a oposição – tanto por ter derrotado Pedro Cunha Lima (ex-PSDB) em segundo turno como por ter ampliado o número de prefeituras sob hegemonia do esquema, em regime de compartilhamento de espaços. A ideia de ascender ao comando do PSB teria sido aventada pelo próprio João Azevêdo em sondagens junto a figuras que compõem a cúpula nacional partidária – e a receptividade foi das melhores, em face da avaliação positiva que o governo da Paraíba tem alcançado em matéria de equilíbrio fiscal-financeiro e de oportunidades concretas de investimentos e de crescimento econômico e social. Azevêdovai, então, para “as cabeças” na militância partidária – e a expectativa é que tenha habilidade para não incompatibilizar o PSB com outros partidos da base e para não comprometer o êxito de um projeto administrativo que, teoricamente, tem dado certo no Estado.