Durante entrevista na manhã desta segunda-feira (1º), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou duas medidas de interesse público, e poderia ter anunciado uma terceira. Primeiro, garantiu que o Governo Federal se comprometeu a entregar 140 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 até maio. Segundo, afirmou que ficou acertado, também com Jair Bolsonaro, o valor de R$ 250 para uma nova rodada do auxílio emergencial pelo período de quatro meses, de março a junho.
A primeira medida traz esperanças à população. No entanto, Lira assume um risco tremendo ao expor e trazer para si garantias feitas pelo Governo Bolsonaro no que diz respeito à luta contra a Covid-19. Um governo que, sabemos, sempre contrariou e sabotou medidas de prevenção ao vírus e de proteção à população. Já a segunda medida, é a concretização do que Bolsonaro já desejava no ano passado: o pagamento de apenas R$ 250 como auxílio emergencial. É sempre importante lembrar que o auxílio só chegou a R$ 600 após brigas da oposição.
Porém, o que mais chamou atenção na fala de Lira passou despercebido e não foi anunciado, uma lástima. Ele foi questionado e falou, pela primeira vez após a campanha para à presidência, sobre as análises dos mais de 60 pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro. Na resposta, Lira afirmou que ainda não teve tempo de se debruçar sobre eles. Disse ainda que o tema que deve ser tratado com “responsabilidade e seriedade”.
O cacique alagoano colocou ainda que é contrário a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) neste momento para apurar eventuais irresponsabilidades na condução do combate à pandemia, mas não descartou uma investigação no futuro: “O momento agora é que nós todos possamos debater ações conjuntas, a classe politica e a população, para trazer vacinas, mais leitos e saídas emergenciais com reformas. Depois disso, a gente vai ter oportunidade de fazer essa ou aquela CPI para investigar e punir eventuais erros”, respondeu.
É aí que Arthur Lira cai em contradição. Se o momento é de debater ações conjuntas no combate à pandemia, o que tem a ver a PEC da Imunidade (ou da Impunidade) com ela? Arthur Lira esqueceu de responder a essa pergunta. O detalhe é que, na mesma entrevista, Lira comentou a polêmica proposta. Voltou a negar que a chamada PEC das Prerrogativas seja uma forma de blindar o Parlamento e disse que ela foi tratada “de maneira injusta”.
Como é possível afirmar que não é o momento de discutir irresponsabilidades na condução da pandemia, justamente em seu pior momento? E aqui nem é uma discussão sobre se há condições políticas para a queda do presidente, que provavelmente até se livraria do processo, com o apoio do próprio Lira e do Centrão. Mas, aliado a vacina e ao auxílio, o impeachment de Bolsonaro é, inegavelmente, mais uma medida eficaz para nos livrarmos de forma mais rápida e eficaz do vírus. Já a blindagem de parlamentares, não. Ela só dificulta e retira o foco daquilo que deve ser a principal prioridade. Lira caiu em contradição e deu mais uma prova, entre tantas, que seu discurso não está alinhado com suas ações.
Ele ainda não compreendeu que presidir a Câmara não é liderar o Centrão, e agora, há cobranças, há opinião pública que vigia e espera muito mais dele do que quando era apenas líder de um bloco que já não se espera muito. A prova disso é a tentativa desesperada de convocar uma reunião com os governadores para esta semana, é evidente que isso ocorre ante a inércia do Governo e a relação desgastada do presidente com os governadores, mas vem também após suscetíveis derrotas durante a semana, por exemplo, a incapacidade de votar o Orçamento sem desobrigar o gasto mínimo com Saúde e Educação. A consulta aos governadores é um apelo para ouvir medidas eficientes e populares, que, pela falta de proximidade de Lira com a realidade da população, ele não é capaz de elaborá-las.
https://www.polemicaparaiba.com.br/opiniao/com-pec-da-imunidade-e-pec-emergencial-semana-na-camara-tem-festival-de-horrores-por-samuel-de-brito/
Fonte: Samuel de Brito
Créditos: Samuel de Brito/Polêmica Paraíba