O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou nesta quarta-feira (23) que vai a Brasília receber um prêmio pela gestão da água no Estado de São Paulo, dado a ele pelo Congresso Nacional, apesar de haver milhares de pessoas sob forte racionamento (entrega controlada de água) há um ano e meio.
“Modéstia à parte, [o prêmio] é merecido”, afirmou Alckmin, cuja gestão da água é alvo, desde 2014, de diversas críticas de especialistas e entidades. Na avaliação do governador tucano, “São Paulo hoje é um modelo para o Brasil do ponto de vista de recursos hídricos”.
Ao justificar a premiação, Alckmin, que participou no final da manhã de um evento sobre segurança pública, no bairro da Liberdade (região central de São Paulo), listou as ações, alguma “históricas”, segundo ele, tomadas pela sua gestão no combate à crise da água. Ele dividiu os louros da conquista com os moradores do Estado.
“O prêmio não é a mim, mas a toda a população de São Paulo, ao esforço que foi feito pela Secretaria de Recursos Hídricos e pela Sabesp.”
O governador paulista é um dos vencedores do prêmio Lucio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação, que visa reconhecer as iniciativas que buscam a melhora da vida dos cidadãos. Para receber o prêmio, Alckmin foi indicado pelo deputado tucano João Paulo Papa. O parlamentar, além de ter sido prefeito de Santos, também foi diretor da Sabesp.
Papa justificou a escolha alegando que houve avanços de São Paulo, nos últimos anos, para atingir a universalização do saneamento. O deputado disse que a atual crise hídrica apenas joga luz no esforço do governador nesse setor.
Após a indicação do deputado, Alckmin foi eleito de maneira unânime pelos parlamentares membros da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara.
CONTROVÉRSIA
Apesar do prêmio no Congresso, a gestão da água em São Paulo já foi alvo de críticas até mesmo de Jerson Kelman, hoje presidente da Sabesp (empresa paulista de saneamento), mas que apontava falhas na condução da crise pelo governo no ano passado.
Antes de ser escolhido para comandar a Sabesp, Kelman havia criticado a demora do governo estadual em adotar medidas antipopulares que pudessem frear a utilização de água pela população. Ele questionava a não adoção de uma tarifa mais cara para consumidores que aumentassem seu consumo.
A crítica foi feita em 2014, ano eleitoral que reconduziu Alckmin ao posto de governador. A tarifa mais cara para os “gastões”, como o próprio governador gosta de chamar quem aumentou o consumo de água, só foi instituída um ano após o início da crise e depois de sua reeleição.
Para o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo, faltou planejamento na condução da estiagem que ocasionou a crise em São Paulo. A tese é compartilhada por relatórios do Tribunal de Contas do Estadoque apontam que o governo do Estado tinha indícios de que uma forte seca atingiria São Paulo. Segundo o TCE, os alertas poderiam ter suscitado ações mais eficientes.
OUTRO LADO
O secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, divulgou na terça (22) defendendo as iniciativas tomadas pelo poder público. Para ele, a condução do governo perante a crise foi “absolutamente irrepreensível, dentro dos mais rigorosos padrões técnicos.”
Como bons exemplos, Braga cita “campanhas de conscientização, estímulos financeiros e grande adesão da população; manobras de interligação de sistemas e obras emergenciais para aumentar a oferta de água em tempo recorde”.
Folha de S. Paulo