Advogado muda regras para eleição após lançar porco como candidato

A candidatura o porco Giggles (assim chamado porque ele parece estar sempre sorrindo com a boca “apertada”, o que é descrito em inglês com a palavra “giggle”) foi para valer. Para saber como um porco pode ser candidato a um cargo público e receber votos, é preciso entender o processo eleitoral dos EUA, especialmente no que se refere à cédula de votação.

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Por João Ozorio de Melo

A campanha eleitoral para a Prefeitura de Flint, no estado de Michigan, perdeu a graça depois que, na quinta-feira (11/6), foi retirada a candidatura de Giggles, o porco. A campanha “Giggles, o Porco, para Prefeito de Flint” (“Giggles the Pig for Flint Mayor”) fez um grande sucesso no país e só terminou porque seu objetivo foi cumprido: as autoridades corrigiram erros no processo eleitoral, o que se recusavam a fazer até então.

A candidatura o porco Giggles (assim chamado porque ele parece estar sempre sorrindo com a boca “apertada”, o que é descrito em inglês com a palavra “giggle”) foi para valer. Para saber como um porco pode ser candidato a um cargo público e receber votos, é preciso entender o processo eleitoral dos EUA, especialmente no que se refere à cédula de votação.

Ao elaborar a cédula de votação, as autoridades listam os candidatos que cumpriram alguns requisitos eleitorais e, logo abaixo de seus nomes colocam o termo “Write-in”, que significa “escreva o nome de seu candidato”, para ser preenchido com qualquer nome que não esteja na lista.

Isto é, o eleitor pode escrever o nome de uma pessoa que, para ele se qualifica para o cargo, mesmo sem autorização da pessoa que sequer é candidata, e até mesmo de um personagem de ficção — ou de um porco.

Foi mais ou menos o que já aconteceu na eleição para vereador de São Paulo, em 1959, quando o rinoceronte Cacareco recebeu quase 100 mil votos (o mais votado na ocasião); ou no Rio de Janeiro, em 1988, quando o macaco Tião teve mais de 400 mil votos para prefeito (o quarto mais votado entre 12 candidatos).

Uma vez que o nome foi escrito na célula, o voto é contado — no Brasil, os votos para os bichos foram todos considerados nulos. Nos EUA, o resultado não chega, normalmente, ao conhecimento público, porque a imprensa nunca dá atenção aos votos escritos.

Porém, desta vez a imprensa e a população deram atenção à campanha eleitoral de Giggles, o Porco, que o advogado Michael Ewing, dono do animal, disparou apenas no Facebook inicialmente. Com o sucesso da campanha virtual, o “candidato” foi levado às ruas, para um corpo a corpo com os eleitores.

A prefeitura de Flint, que estava sob intervenção estatal, retomou seu processo democrático muito mal. Para começar, as autoridades deixaram de colocar os nomes de quatro candidatos na cédula de votação. E, em vez de corrigir a falha, sugeriram que os eleitores poderiam escrever o nome de seus candidatos, onde a cédula diz “write-in”. Isso iria tirar toda a transparência das eleições.

Para complicar ainda mais, dois dos candidatos mais fortes eram ex-presidiários. O candidato Wantwaz Davis passou 19 anos na prisão, depois de se declarar culpado de homicídio, em 1999. O candidato Eric Mays foi condenado por assalto em 1987, também depois de se declarar culpado.  Mais recentemente, foi acusado de dirigir embriagado, causar um acidente sem ter seguro do carro, posse de maconha e se recusar a tirar impressões digitais.

O advogado, lendo o jornal sentado em sua varanda, olhou para seu porco de estimação, deitado a seu lado, e comentou: “até você seria melhor candidato do que essa gente”. Na campanha para eleger Giggles, o Porco, o texto ao lado de sua foto apontava algumas qualidades do candidato: “Sem ficha criminal”; “Nunca foi irresponsável fiscalmente”; “Não irá obter dinheiro de interesses especiais”; “Apoia a Polícia”; “Nunca perdeu um prazo” – todas em referência a problemas dos candidatos humanos.

Uma grande quantidade de camisetas da campanha de “Giggles, o Porco para Prefeito de Flint” foi vendida, rendendo recursos financeiros consideráveis para uma entidade beneficente da cidade.

Com a repercussão da campanha na mídia social, o governador de Michigan, Rick Snyder, aprovou rapidamente uma lei que corrigia os erros cometidos pelas autoridades eleitorais, o que colocou as eleições nos eixos e prontificou a retirada da candidatura.

Mas o site da campanha de Giggles também foi usado para chamar a atenção dos eleitores para as eleições municipais, ajudar a educar os eleitores, prestar informações e encorajar os residentes a exigir mais das autoridades eleitas.

Ao responder perguntas frequentes sobre o candidato de Giggles nas eleições, o advogado disse que ele não vai votar porque é um porco. “E isso é a única justificativa que alguém pode ter para não votar em uma eleição”, afirmou, de acordo com o Huffington Post, Detroit Free Press e outras publicações.

É claro que a retirada da candidatura de Giggles veio acompanhada de uma nota oficial do comitê de campanha:

“Desafortunadamente, devemos anunciar que Giggles está retirando sua candidatura a prefeito de Flint. As autoridades estaduais trabalharam juntas e passaram uma lei que permitirá a colocação dos nomes dos candidatos nas cédulas – mesmo dos candidatos que se registraram após o prazo (…). Pelo menos agora sabemos quem exatamente está disputando o cargo de prefeito da cidade, em oposição a uma eleição sem transparência, que resultaria do processo de write-in”.

“Embora a campanha de Giggles tenha tido vida curta, ela nos deu oportunidade de usar um pouco de criatividade para conscientizar a população sobre as eleições. Se a eleição permanecesse na base do ‘write in’, usaríamos a página da campanha para divulgar os nomes dos candidatos concorrendo ao cargo e fornecer links para as campanhas deles. Giggles nunca teve medo de concorrência”, diz parte da nota.