Quando a campanha eleitoral teve início oficialmente, parecia claro que três braços influenciariam no sucesso ou fracasso dos candidatos. O primeiro, como sempre, máquina política. A capacidade que partidos têm ou não de ter gente trabalhando pessoalmente nos mais distantes rincões do país. E, depois, o grande debate. Televisão e internet. Ambos os canais de comunicação têm peso. Mas, ainda assim, o debate corria solto. Esta, afinal, seria a última eleição da TV? Ou a primeira eleição da internet?
Deu para ver rápido: é a primeira eleição digital. Nunca mais candidatos com o peso e a relevância de Marina Silva (Rede) ou Geraldo Alckmin (PSDB) entrarão numa corrida eleitoral com estrutura tão amadora de marketing on-line.
Dentre os candidatos novatos sem qualquer estrutura, nenhum cresceu mais do que João Amoêdo (Novo). O que ele tem e os outros não? Uma sólida rede de participantes voluntários que fazem campanhas intensas via Facebook e Twitter.
Só um candidato se mantém de pé e estável perante o natural rumo à polarização do eleitorado que se divide entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). É Ciro Gomes (PDT). Ciro, enquanto no PT ainda imperava a confusão, foi também aquele que conseguiu disparar rápido na largada. O que ele tem? Uma sólida campanha voltada para toda sorte de nichos em comunidades digitais específicas. Tem grupos dedicados para cada estado, o irônico Ciro Gomes Zueiro, assim como o Ciro Sincero, além da marca principal Time Ciro Gomes. A campanha consegue, assim, falar com tons diferentes, dependendo do público, e produzir material de memes e vídeos que possam ser distribuídos fartamente pelos eleitores. E são.
A rede é usada para unificar a mensagem. Com quase nenhum tempo na TV e uma máquina precária, é a internet que mantem Ciro viável.
Não é que os outros tenham jogado mal. No extenso período de pré-campanha, Ciro levou uma rasteira, e Alckmin marcou o gol mais importante. Ciro não conseguiu botar de pé uma aliança de partidos que lhe garantisse TV. Alckmin conseguiu, e vastamente. O problema está na aposta feita pelo tucano: de que a TV seria suficiente para alavancá-lo. Não aconteceu. É justo lembrar que, nesse meio tempo, sua estratégia de atacar Bolsonaro foi interrompida pelo atentado contra a vida do ex-capitão.
Mas este é um jogo de comparação.
É inevitável observar que Haddad e Bolsonaro têm, em comum, a melhor estrutura de internet de todos os candidatos. Porque não se trata, apenas, de bom marketing na utilização das redes — caso de Ciro. É uma arte que, antes de tudo, exige a construção de uma extensa rede de simpatizantes. É o que os candidatos de PT e PSL têm e ninguém mais conseguiu criar.
Poderia se argumentar que o PT tem votos de graça, por conta da popularidade de Lula. Cada um vai explicar essa popularidade de um jeito. Carisma. Demagogia populista. Ou reais benefícios percebidos em seu governo por uma parcela da população. A explicação é menos importante. A popularidade é real. Mas ele tinha um problema imenso para resolver em sua estratégia contorcionista. Teria de explicar em muito pouco tempo que Haddad é seu candidato. E teria de fazer isso sem poder circular por palanques ou gravar filmes.
O WhatsApp deu conta de espalhar a mensagem rápido pelos mais remotos cantos do país.
O mesmo WhatsApp que mantém o eleitorado de Bolsonaro ativadíssimo, ainda que o militar esteja preso a uma cama de hospital, incapaz de falar.
É inevitável enxergá-lo: o Brasil está vivendo sua primeira eleição digital.
Fonte: O Globo
Créditos: O Globo