Nos 80 anos de morte do cangaceiro mais temido do Nordeste, marcado neste sábado (28), o JORNAL DA PARAÍBA lembra a resistência dos paraibanos ao homem que durante vinte anos implantou o medo no povo sertanejo. Nas tentativas que fez, o chamado ‘rei do cangaço’, encontrou um relacionamento não amigável, por ter sido escorraçado das terras paraibanas numa ação de conjugação de forças, entre governo e coronéis que formaram fileiras para impedir a ação do bando.Houve um tempo que os coronéis temiam perder suas terras, as mulheres a sua integridade física e até os padres da Igreja Católica se arrepiavam com o anúncio de que o bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, estava na área. Era sinal que eles chegariam para surrupiar tudo o que tivesse de valor no local. De todos os recantos por que percorreram os cangaceiros de Lampião, a Paraíba era o mais odiado pelo líder do cangaço.
O período em questão, sobretudo pela a abrangência das limitações impostas ao bando de cangaceiro, foi durante o governo do presidente João Suassuna (1924-1928), quando este buscou como aliado fazendeiros do Sertão paraibano, principalmente do seu amigo José Pereira, do município de Princesa Isabel, que havia rompido o relacionamento com Lampião, porque este havia incendiado a fazenda de seus familiares.
Outro fato que apressou o cerco ao bando de Lampião porque, sob o comando do seu irmão Antônio, junto com o grupo comandado por Chico Pereira, de Nazarezinho, foi por ele ter saqueado a cidade de Sousa a 27 de julho de 1924, com reprovadas estripulias contra famílias locais e, inclusive, desacatando o juiz da Comarca, Arquimedes Souto Maior que teria sido obrigado a sair pelas ruas vestido apenas com pijama de dormir. Era o final do governo de Solon de Lucena.
Lampião temia Suassuna
Em resposta, o presidente Suassuna, que meses depois assumiu o comando do governo do Estado, buscou apoio dos coronéis, seus amigos, que a exemplo deles, também vivia sob a ameaça de saques de cangaceiros. Durante sua administração pouco se tem notícia de que o Rei do Cangaço tenha pisado nas terras da Paraíba.
Um acordo entre os estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte para que as forças pudessem circular no território dos três estados e prender acusados, não vinha sendo cumprida à risca. Quando João Suassuna assumiu o governo, aproveitando-se do fato de que José Pereira havia se distanciado de Lampião, estreitou ainda mais o poder de fogo para impedir a ação de cangaceiros no território paraibano.
Agora, quando os 80 anos da morte do cangaceiro são lembrados com várias manifestações culturais e, de modo especial, com a celebração de uma missa na localidade Angico, localizado na divisa dos municípios de Poço Redondo e Canindé de São Francisco, Sertão de Sergipe, onde Lampião foi morto, é motivo para fazer memória destes fatos.
Parece que quanto mais o tempo passa, mais aumenta a veneração do povo do Nordeste pela cultura que gira em torno de figura de Lampião, se tornando cada vez mais lendária. Mesmo sendo uma figura que protagonizou atrocidades pelas caatingas do Sertão do Nordeste. Em torno dele surgiram muitas lendas e histórias descritas em cordéis e narrativas repassadas de geração a geração, tantos anos depois de sua morte.
Morte de Lampião
No amanhecer do dia 28 de julho de 1938, na Grota Angico, ainda nublado, e os 31 cangaceiros que integravam o bando ainda estava dormindo quando, uma volante policial comandada pelo tenente João Bezerra os atacou, destes onze morreram. Lampião e Maria Bonita, sua mulher, foram degolados.
O local onde estavam alojados fica a 700 metros da margem do Rio São Francisco e se transformou em ponto de visitação de turistas curiosos com o desfecho da vida do cangaceiro mais temido da história brasileira. No local a cruzes e placas contando detalhes da história, que chega aos seus 80 anos.
Os eventos para marcar a passagem dos 80 anos das mortes de Lampião e Maria Bonita e demais cangaceiros, será celebrada uma missa no Monumento Natural Grota do Angico, organizada pela neta de Lampião, Vera Ferreira. A filha do cangaceiro, Expedita de Oliveira Ferreira Nunes estará presente ao evento religioso e outros atos culturais que acontecerão por todo o dia.
* Especial para o Jornal da Paraíba: José Nunes é jornalista e Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP)
Fonte: Jornal da Paraíba
Créditos: JOSÉ NUNES