Por Tereza Cruvinel, do 247
Desde o início da semana a cúpula peemedebista temia que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, fosse transformado em alvo das manifestações marcadas para o dia 12 de abril. O protesto veio nesta sexta-feira, durante o segundo evento da série “Câmara itinerante”, que ele pretende transformar em marca de seu mandato, na Assembléia Legislativa de São Paulo. Semanas atrás ele estreou a série com sucesso em Curitiba. Em outra frente, ele vem implantando uma política de controle sobre os veículos de comunicação da Câmara, composto pela TV Câmara, rádio e Jornal da Câmara. Outro projeto que ele já começou a tocar é o da construção do Anexo V da Casa, para abrigar gabinetes e serviços parlamentares.
Alguns deputados veem nestes movimentos um plano para voos políticos mais elevados que podem incluir a disputa da presidência da República em 2018. O PMDB vem dizendo que desta vez terá candidato próprio e isso ajuda a explicar o comportamento ambíguo do partido em relação ao governo Dilma: o PMDB ocupa seis ministérios mas vem fustigando o governo, especialmente através de ações de Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros, impondo ao país uma espécie de parlamentarismo informal.
O programa de visitas aos estados tem objetivos defensáveis. Busca “o fortalecimento do pacto federativo por meio da aproximação entre o Parlamento brasileiro e a população dos estados e municípios, colaborando para o pleno exercício da representação nas esferas federal, estadual e municipal. As atividades incluem audiências públicas e visitas dos deputados a instituições que promovam ações bem-sucedidas relacionadas aos temas sociais em debate”, diz o release da Câmara. O problema, diz um deputado que evita se identificar temendo retaliações, é que tal aproximação envolve apenas Cunha e um pequeno grupo de deputados a ele vinculados, e não o conjunto da Casa, os líderes e presidentes de comissões, por exemplo. Tal como estruturado, seu objetivo é dar maior visibilidade ao presidente e propiciar o estreitamento de seus vínculos com forças políticas regionais. Nas sessões previstas para acontecer nas assembleias legislativas, como hoje em São Paulo, os contatos são com deputados estaduais, vereadores e presidentes regionais de partidos. Depois, Cunha e o grupo, em que predominam os evangélicos, visitam uma instituição de natureza social.
O outro movimento que incomodou alguns deputados foi a criação, através de projeto de resolução, de uma Secretaria de Comunicação Social, cujo titular, deputado Cleber Verde (PRB-MA), não foi eleito e sim nomeado por Cunha. O deputado Chico Alencar, líder do PSOL, foi dos poucos que ousou externar o incômodo. “Não podemos perder a independência dos órgãos de comunicação da Casa. Isso é um erro, pode desqualificar a comunicação da Casa e prejudicar o conjunto na sua sagrada diversidade”, disse ele. Os veículos de comunicação, garantiu Cunha, continuarão sendo dirigidos por jornalistas e profissionais da área, mas respondendo diretamente ao Secretário de Comunicação. Antes, eram vinculados à presidência, e é óbvio que o presidente não tem condições de supervisioná-los. Agora, o fará através de um delegado de confiança.
A TV Câmara é distribuída por canais de TV por assinatura e já tem canais abertos em vários estados, operando em sistema digital. A rádio também vem montando uma rede nos estados e o jornal é um informativo impresso que circula basicamente dentro da Casa.
No mês passado, diante da repercussão negativa, Cunha desistiu do pagamento de passagens para cônjuges de deputadas e deputados os visitarem em Brasília. Para evitar reações negativas, ele já anunciou que o Anexo V será construído mas através de uma parceria público-privada, sem a utilização de recursos orçamentários.
O grupo que o vaiou em São Paulo era composto majoritariamente por jovens ligados ao PSOL mas Cunha atribuiu o protesto a petistas “colocados ali exclusivamente com essa finalidade.” Acreditando ou não que foi o PT, ele ganhou mais argumentos para fustigar o governo. Ali mesmo, perguntando se o PMDB, que defende a redução do número de ministérios para 20, abriria mão de alguma pasta que ocupa ele foi curto e grosso: “abrirá mão de todos se for necessário”.
Se ele tem mesmo pretensões presidenciais para 2018, em algum momento passará mesmo a defender o rompimento com o governo. Mas continua no radar o risco de ele novamente atacado por manifestantes no dia 12.