Muito tem se falado que 2020 será o ano das eleições onde a mídia pós-massiva e as redes sociais influenciarão diretamente o comportamento do eleitor brasileiro e a sua decisão do voto. De fato, as eleições em tempos de pandemia serão um grande desafio não apenas para os candidatos, mas para a justiça eleitoral e especialmente os eleitores que terão que se reconfigurar diante de uma campanha totalmente diferente da que eles estavam acostumados a ver e participar.
Digo isso porquê com a proibição de comícios, carreatas, passeatas e apenas uma campanha de rua tímida com visitas curtas e rápidas à moradores de localidades específicas, tem-se nas redes sociais um instrumento acessível de participação popular e de geração de conteúdo orgânico onde o político se torne mais perto do potencial eleitor.
Em um dos meus artigos que escrevi nas eleições de 2018, falava justamente do protagonismo das gerações Y e Z. Especialmente porque elas que estavam vivendo o período de convergência midiática e tendo a tecnologia como cerne de suas vidas. É evidente que nos últimos anos, nos tornamos reféns da tecnologia, usuários assíduos de smartphones, das plataformas de redes sociais, de uma cultura midiatizada e propagável que nos fizeram produtores, criadores, reconfiguradores, propagadores e influenciadores de conteúdo na rede. Como se não bastasse passamos a ser adeptos do streaming de vídeo, tendo nele a primeira opção ao invés da televisão (o que o torna concorrência direta das TVs abertas e fechadas, cuja tendência tem-se a tornar-se irreversível) o que de fato tem acontecido.
Contudo, gostaria de atentar ao querido leitor, que mesmo diante da espetacularização midiática das eleições em tempos de pandemia; do uso das redes sociais por parte de todos os candidatos que tiveram que se moldar a este novo cenário; do protagonismo da juventude e das gerações nas plataformas móveis e na construção de conteúdo; devo voltar atrás e dizer que há um fator preponderante para a eleição de um prefeito , vice, e vereadores. Mas afinal, que fator é este? Nem todos tem acesso a internet! Sim, meu caros! Ainda vivemos um grande apartheid tecnológico onde muitos vivem não apenas em favelas sociais, mas, também, em favelas digitais. Muitos se quer tem acesso a um smartphone e terão nas mídias massivas a oportunidade de conhecer melhor o seu candidato.
O que eu quero dizer é que esta eleição não será digital. Pelo contrário, será a eleição em que mais se utilizará de mídia massiva onde o tempo de rádio e TV serão preciosos para construção da formação da opinião pública e sua influência na decisão do voto. Como assim? A TV e o rádio – tidos como meios analógicos e ultrapassados serão um divisor de águas nestas eleições?
Muito simples meu caro, leitor (a): Sim! As equipes de campanha e especialmente de marketing político utilizarão dos meios de comunicação de massa para construir uma narrativa onde o potencial eleitorado (que está em casa em virtude da pandemia), terá um olhar diferenciado e se prenderá ao conteúdo que é produzido. A eleição do presidente Jair Bolsonaro criou uma falsa ilusão de que as redes sociais podem e devem eleger um político. Pelo contrário, as redes sociais serão apenas o meio de ressoar ou dar continuidade a narrativa construída na TV e no rádio. O conteúdo será o mesmo, a história será a mesma, o candidato terá uma nova roupagem, talvez apresentado como pai do povo, líder charmoso, herói, fora da lei, gestor, sábio, amante, criador, prestativo ou o candidato sui generis (comum). Como se não bastasse, as eleições deste ano, não serão apenas de atores políticos, mas, de temas. E a saúde pública será um dos principais tendo em vista a realidade pública do Brasil somada aos diversos problemas das cidades que permeia: educação, saneamento básico e geração de emprego e renda.
O que eu quero dizer com tudo isso, é que não retrocedemos. Pelo contrário, teremos o protagonismo das mídias de massa (produção de conteúdo para TV e rádio que interferirá diretamente na tomada de decisão do eleitor que manifestará sua opinião e constituirá novos conteúdos nas plataformas de redes sociais. Se o candidato souber trabalhar sua imagem, sua candidatura na TV, ele com toda certeza direcionará um grande público às redes sociais. especialmente os jovens de 16 e 17 anos que a preço de hoje são críticos e politizados cuja formação da opinião é consolidada na espacialidade e temporalidade das redes sociais.
Este público somado aos 35% do eleitorado jovem entre 18 e 29 anos, pode fazer a diferença nestas eleições, pois terão a oportunidade de se tornarem os ‘porta-vozes’ do conteúdo disseminado pelo político nas mídias sociais. Finalizando, por mais que o povo espere um político conectado que ofereça ‘livemicios’ semanais, sem engessamentos nas redes sociais, onipresente virtualmente (pois as redes sociais se transformaram em extensão do seu corpo e da sua identidade), com uma campanha humanizada e sem promessas estrambólicas. É a TV e o rádio que chega na casa de 96% dos brasileiros e que ditará o andar da campanha deste ano e seu reflexo nas redes sociais.
Online e Offline andarão juntos, as estratégias deverão ser bem pensadas e calculadas e isso requer um trabalho de expertise, para transmitir o posicionamento da candidatura. Não obstante, lembro que temos dois campos diferentes de comunicação com o eleitor. Na internet, é possível chegar mais próximo e falar para nichos mais específicos, enquanto na TV é preciso tentar criar uma peça que encante a todos É o conjunto que vai dar a liga. (Na televisão) Quanto mais tempo você tem, mais recursos criativos você pode ter para convencer aquele eleitor. Será a força das propostas e como vai ser comunicado isso. No interior, o rádio também tem sua importância na tomada de decisão dos eleitores, especialmente as rádios comunitárias que na grande maioria são dominadas por ‘coronéis eletrônicos’ – políticos que usam das rádios para eleger seus filhos e apadrinhados políticos.
Por fim, se os candidatos e as equipes de campanha souberem trabalhar com esta proposta que se adeque a realidade do eleitor, tenham domínio da produção de conteúdo nas mídias massivas e sua veiculação nas plataformas midiáticas com uso da tecnologia, terão fortes chances de agregar o público à sua campanha de forma orgânica. Afinal, por trás de cada métrica do seu Analytics, de cada visitante do seu site ou seguidor de suas redes sociais existe um eleitor que só quer o bem da sua cidade.
Rodolpho Raphael é Professor, Jornalista, Mestre em Computação, Comunicação e Artes (UFPB) e Especialista em Mídias Digitais, Comunicação e Mercado (CESREI) e Docência no Ensino Superior (FMU).
Fonte: Rodolpho Raphael
Créditos: Polêmica Paraíba