WALTER SANTOS: A Solidão de Ricardo e a Virtuosidade espetacular do “Baque Solto”

RECIFE – Olhando da Torre, bairro da cena siamesa cultural pernambucana, é mais fácil ver com a visão despoluída e emocional sobre os passos da vida política paraibana que, a cada dia que passa, mais transforma o governador Ricardo Coutinho num líder solitário, bem distante da reca de gente cultivada por um Coletivo. Mas, neste domingo de Botafogo “envenenado” contra o Tiradentes – CE, é indispensável reconhecer o show memorável que Lenine e Lula Queiroga, dois gênios da inquietude rejuvenescedora, fizeram para comemorar 30 anos do LP “Baque Solto” com a presença fantástica e saudosista da M-PB nas figuras musicais de Bráulio Tavares, Tadeu Matias Van Santos (hoje morando na Alemanha), Alex Madureira e Pedro Osmar – este ausente fisicamente, mas presente fortemente no repertório com sua “A Barca”.

 

Quanto ao corte e mergulho na cena política, há algum tempo vemos com certo questionamento conjuntural o que tem feito o governador Ricardo Coutinho se transformar em pessoa recatada, de poucos amigos ao redor e de uma visível retração de sua agenda social para poucos quando, o histórico prova isso, ele era homem de agitos e de muita gente ao redor. Era.

A solidão de Ricardo pode ter vários fatores mas, se se continua assim, terá muitos efeitos d´agora em diante porque se não der sinais de interesse em motivar amigos e tropa pode construir um futuro à base do que foi a trajetória meteórita de Ivan Bichara Sobreira, homem culto e decente, mas que não passou de um mandato à frente do Governo do Estado. E, olhem, que foi até reformista em algumas áreas – sobretudo na relação com o Servidor Estadual mas, sem saber construir os passos seguintes, se isolou e se perdeu.

A dados de hoje não se pode aplicar sistematicamente este contexto de derrota antecipada ao governador, mas seu recato por diferir sua vida anterior dá sinais de que cansaço, algum abuso da rotina de problemas ao redor e, pior, da redução de amigos em torno dele para dar motivação como se fez tanto lá atrás na formação do seu tamanho e trajetória.

A impressão é de que Ricardo Coutinho ou se reinventa ou a solidão pode causar danos irrecuperáveis. Se não sabe, dentro do seu governo, da sua equipe, já não há mais a mesma dedicação de antes e setores ali e acolá já criam clima de desembarque ou descrédito no projeto que prometeu revolucionar a Paraiba – algo que não tem se concretizado.

BAQUE SOLTO – A FORÇA DA MÚSICA DA PARAIBA E PERNAMBUCO

A casa de shows “Baile Perfumado”, emRecife, testemunhou ontem uma cena musical espetacular produzida a partir do LO (Long Play), formato da indústria musical até os anos 80 – o disco é de 83 – no qual o Brasil passa a conhecer Lenine e Lula Queiroga como referências da nova safra de cantores e compositores egressos do Nordeste brasileiro, de Pernambuco em particular.

O LP acabou que meio “inédito” porque não teve a dimensão à altura de seu conjunto de canções – referência numa conjunção de letras, arranjos e interpretações de nível elevado na Música brasileira, mas que só veio a ser entendida assim no decorrer dos anos com outros trabalhos , sobretudo de Lenine – descolado e mugangueiro (de muganga mesmo) internacional com sua marcação, gingado e filosofia farta de inovação atemporal.

No show, ancorado por Lula Queiroga e Lenine quem foi viu um elenco de quinze artistas (músicos e compositores) de naipe máximo na qualidade musical.

Coincidência ou não, a cena expôs a força qualitativa que as gerações musicais de Pernambuco e da Paraiba têm se afirmado ao longo do tempo. No palco, ver Bráulio Tavares, Tadeu Matias, Van Santos com a presença (ausente fisicamente) de Pedro Osmar enfeixando o show, bem dimensiona a natureza do encantamento e genialidade que os dois Estados produzem para o Brasil e o mundo inteiro sem parar, através de seus artistas.

Desculpem-me pela expressão comum nas rodas do Mangue, à lá Alex Madureira, mas o show foi do carai. Fuba, Capilé, Lucas Sales , Eudes Hermano e nós da Torre, sobreviventes desse tempo todo, podemos atentar a genialidade encantada e exposta por Lula e Lenine.

ÚLTIMA

“Lá vem a barca/ chamando o povo/

pra liberdade que se conquista..