Rubens Nóbrega

Deprimente, mas virou chacota. Nunca antes na história da Pequenina um governo se empenhou tanto e conseguiu com tanto sucesso transformar a Paraíba em piada nacional tantas vezes assim em tão pouco tempo.

A sensação é a de que chegamos ao fundo do poço, mas o governo continua cavando. Essa triste impressão instalou-se no meu juízo com foros de certeza no começo da tarde de ontem, quando passava na frente de uma loja de shopping no centro da cidade.

Ao meu aceno de cumprimento, o dono do estabelecimento respondeu com um chamado para que eu fosse até o balcão. Quando me aproximei, ele me abordou de um modo que me deixou sem palavras, sem ter mesmo o que dizer.

Acompanhem a seguir o diálogo que travamos sobre os deploráveis acontecimentos dessa terça-feira de pânico e terror em nossa capital.

***

– Rubão, você viu o absurdo que está acontecendo na cidade, com esses bandidos fechando escolas e o comércio?
– Mas o comandante da PM está dizendo que tudo não passa de boato…
– Boato ou não, Rubão, o fato é que escolas e lojas foram fechadas e as pessoas estão com medo até de sair de casa ou mandar filho pra colégio. E isso acontece, Rubão, porque o povo está intranquilo, inseguro e esse governador não faz nada!
– Mas Ricardo…
– Que Ricardo, Rubão? Que Ricardo? Estou falando do governador Eduardo Campos, que só quer saber de Pernambuco e deixa nós aqui, do interior, ao Deus dará…

Grampeador cirúrgico

Da loja, já meio angustiado com a possibilidade de estar pegando essa história de que somos periferia, quintal, sucursal ou interior de Pernambuco, fui tomar um cafezinho e bater um papo pra ver se desanuviava.

Mas no cafezinho encontro um grupo em torno de um celular desses mais completos e mais sofisticados do que um computador. Na tela do aparelho, a reprodução de charge que faz graça com o caso da furadeira do Hospital de Trauma da capital.

A ‘esquete’ é ambientada na sala do diretor de um hospital que recebe a visita de fiscal rigoroso e meio conformado assiste à apreensão de ‘instrumentos’ cirúrgicos como furadeiras e um pé de cabra que estaria sendo utilizado no lugar do fórceps.

Apesar do ‘confisco’, no final o diretor mostra-se aliviado porque o fiscal deixa de recolher o grampeador que ‘serve’ para dar ponto em pacientes submetidos a cirurgias ou vítimas de cortes profundos.

A charge, pelo que me disseram, é de autoria do mesmo e requisitado artista que faz para a TV Globo as charges com os participantes do Big Brother Brasil.

Como se não bastasse…

Tomei meu café ligeirinho e pedi a conta, mas, enquanto esperava o troco, os amigos Potinho de Veneno e Gosto Ruim me cercaram para contar “a mais nova”.

– Sabe por que chamam o governador de tirano, camarada? – pergunta Veneno.
Antes que eu pudesse esboçar alguma explicação com um mínimo de seriedade, Gosto Ruim adianta-se, atropela-me a fala e diz o significado do adjetivo que, segundo Potinho, é “o mais leve” com que muitos se referem atualmente ao Ricardo I:

– Chamam ele de tirano, Rubão, porque o homem está ‘tirano’ tudo. ‘Tirano’ o aumento da Polícia, ‘tirano’ gratificação de quem trabalha, ‘tirano’ a Acadepol do terreno dela pra dar pr’um empresário, ‘tirano’ a paciência do povo…

Pior do que eu pensava

E muito! Daí por que não acredito que fiquem impunes os responsáveis por essa vergonhosa e escandalosa terceirização do Hospital de Trauma da capital.

Não depois do que constatou e declarou ontem o doutor Eduardo Varandas, procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho na Paraíba a respeito da contratação da Cruz por R$ 7,2 milhões/mês para fazer o que é obrigação do Estado fazer e estava fazendo por R$ 4,5 milhões até a entronização do Ricardo I.

“Não existe base legal para o malsinado contrato de gestão pactuada. Ocorre completo desvirtuamento das parcerias com o terceiro setor, resvalando para um sistema ineficiente, oficioso e criminoso de privatização da saúde pública”, disse o Doutor Varandas.

Fico cada vez mais fã desse cara. Ele tem aquela capacidade de fazer a gente readquirir a fé na decência, na moralidade e noutros valores que podem perfeitamente, até mesmo na Paraíba de hoje, resgatar o caráter público da administração pública.

O POVO QUER SABER

E aí, vai ter outdoor dos juízes do TRE que votaram contra a cassação de Veneziano?