“Será que você conhece alguém com o cabelo tão forte e comprido, capaz de arrastar uma geladeira? Eu conheço”, diz a contracapa de Peppa, da escritora e ilustradora Silvana Rando. O livro foi recolhido de todos os pontos de venda do país a pedido da autora depois de receber críticas de que se tratava de “uma obra racista” e que “minava a autoestima de crianças de pele negra e branca”.
Peppa é a história de uma menina que tem cabelos volumosos, encaracolados e fortes a ponto de mover objetos. A menina faz um alisamento, mas para que os fios se mantenham intactos, recebe uma série de recomendações que incluem, dentre outras brincadeiras, “não rir demais”, “não rolar na grama” e “não nadar na piscina”. Cansada das restrições, Peppa decide ignorá-las e seus cabelos voltam a ser cacheados.
O livro foi lançado em 2009 pela editora BrinqueBooks e estava na 10ª reimpressão, com 27 mil exemplares vendidos. Em 2010, Peppa foi eleito um dos 30 melhores livros do ano pela revista Crescer e, no mesmo ano, foi adotado pela Prefeitura de São Paulo, pelo programa Minha Biblioteca São Paulo. Em 2013, foi incluído na iniciativa literária Minha Biblioteca Itaú. Silvana Rando escreveu 10 livros, ilustrou mais de 40 e foi vencedora do Prêmio Jabuti em 2011 com Gildo, na categoria ilustração de livro infantil.
Há mais de um ano, a obra vinha recebendo críticas de que o livro seria ofensivo e de que reforçava estereótipos racistas. Um vídeo, publicado em abril de 2016, em que a youtuber Ana Paula Xongani questiona a mensagem que Peppa pode transmitir às crianças foi uma das críticas que mais repercutiu.
“Que informação a gente está passando pra essa crianças? Que seu cabelo de novo é ruim? Que seu cabelo é complicado de tratar? Já Peppa tem que escolher, ou ela vai ter os cabelos lisos e sedosos ou ela vai brincar? Isso é um absurdo, a gente está cerceando a liberdade da criança brincar com a sua beleza natural. Na última página do livro vem o ápice do absurdo: “lá se vai o cabelão liso e sedoso de Peppa”. A gente está falando de autoestima com essa frase?”, pergunta Xongani.
O vídeo tem mais de 300 comentários, a favor e contra as afirmações. Depois dele, o livro recebeu avaliações negativas nos sites das principais livrarias do país. Por outro lado, escritores, pais e professores que trabalhavam Peppa em sala de aula se manifestaram em apoio à obra. A autora conta que o livro estava entre os mais lidos no Hospital de Câncer de Sorocaba, porque ajudava as crianças que estavam perdendo o cabelo a aceitarem que elas não precisavam ser iguais às outras crianças.