Vassouras na praia

Rubens Nóbrega

Graças à militância que eleva e espalha a melhor cidadania, a Capital paraibana transforma-se hoje na primeira cidade depois de Brasília e Rio a receber e a expor as vassouras que simbolizam nova e contagiante luta contra a corrupção no Brasil.

Os militantes ‘puxadores’ de tão nobre causa são o advogado Léo Vieira, coordenador do Núcleo de Apoio ao Estagiário da OAB-PB, e a jornalista Marcela Sitônio, presidente da Associação Paraibana de Imprensa (API).
Doutor Léo articulou e Marcela de imediato apoiou a montagem da instalação que acontecerá hoje pela manhã nas areias de Tambaú, na área do Busto de Tamandaré, onde serão fincadas as 594 vassouras da campanha ‘Cada Não conta’.

O número corresponde aos 513 deputados federais e 81 senadores que no dia 29 de setembro último viram o gramado do Congresso Nacional tomado pelas vassouras verdes levadas a Brasília pela ong Rio da Paz.
A organização realizou aquele ‘protesto cênico’ com o propósito de chamar a atenção para a necessidade de se promover uma limpeza no Parlamento brasileiro e, a partir dele, uma faxina em todos os poderes da República, dos estados e municípios.

O movimento consistia inicialmente em manifestar apoio à efetivação da Lei da Ficha Limpa, mas evoluiu, atraiu as atenções de todo o Brasil, do resto do mundo e terminou por se fundir à campanha global “Corrupção: cada não conta’.

Praga a ser combatida
Iniciativa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a campanha ‘Cada não conta’ tem o propósito de fazer com que todos comecem a dizer não a pequenos atos de corrupção, fomentando uma cultura de tolerância zero contra essa praga.

Praga que consome o dinheiro público e abate a moral pública, mas é a base e o meio do enriquecimento mais fácil e rápido de bandidos travestidos de autoridades, alguns deles tão cínicos que se dizem pessoas de bem e de mãos limpas.

Na Paraíba, a manifestação de hoje tem ainda o apoio dos Centros Acadêmicos de Direito Flamarion Tavares Leite da Fesp, de Direito da UFPB, do Diretório Central dos Estudantes do Unipê e do Ministério Público.

Espero que dê praia hoje, que abra um sol bonito no céu mais azul possível, que é para mais e mais pessoas passarem por Tambaú, onde poderão observar as vassouras e refletir sobre o que elas significam.

Tenho certeza como muitos vão se imaginar pegando na vassoura para varrer o lixo que vai se acumulando por aí, por obra e graça da sujeira de quem antes a gente tinha como exemplo de limpeza.
O absurdo dos absurdos
Fiquei verdadeiramente horrorizado ao ler ontem neste jornal e depois em minha caixa postal eletrônica notícias segundo as quais o secretário titular e o adjunto da Receita do Estado teriam assediado moralmente uma funcionária para que ela cedesse matrícula e senha para que eles pudessem cobrar imposto no lugar de colegas do Fisco que estão em greve.

Inacreditável! Ou melhor, seria se não fosse o governo que aí está e os métodos de intimidação que vem usando contra quem ousa contrariar suas vontades ou criticar suas vaidades. Por essas e outras, não espanta nem admira que autoridades de governo tenham pressionado uma moça que estaria em estágio probatório, além de grávida e vulnerável a esse tipo de investida.

A funcionária teria sido socorrida por colegas que flagraram anteontem pela manhã o secretário titular e o executivo da Receita, Rubens Aquino e Petrônio Rolim, respectivamente, constrangendo uma auditora fiscal a fornecer-lhes matrícula e senha para a emissão das faturas relativas ao ICMS Garantido do mês de setembro.

“Visivelmente nervosa pelo constrangimento e ameaças, e ainda sem ter conhecimento técnico dos procedimentos a serem adotados para a emissão das faturas, a servidora sofreu um aumento da pressão arterial, tendo que ser socorrida às pressas para um hospital. Gestante de dois meses, a servidora é mais uma vítima da truculência desses dirigentes e do modo de agir desse governo, que, além de desrespeitar os servidores e ignorar a lei, colocou em risco a gestação e a vida da colega”, relatou-me uma das notas enviadas via i-meio.


O silêncio do ‘outro lado’

Apesar da credibilidade das fontes e da confiança na procedência da denúncia, fiz o que sempre procuro fazer em situações do gênero: pedi informações e esclarecimentos à parte acusada. Para tanto, usei a ferramenta de contato e denúncia disponibilizada pela própria Secretaria Estadual da Receita no portal do Governo.

Mais uma vez, ‘pra variar’, não obtive resposta alguma. Mas, se por acaso eles lerem isso aqui e quiserem rebater ou responder algo, fiquem certos de que serão acolhidos e publicados. Enquanto não, permito-me reproduzir com foro de verdade incontestável o que saiu no JP e o que me mandaram dizer alguns amigos do Fisco.