Conversei ontem à noite com Jonas, um voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), a quem pedi alguns dados para divulgar o trabalho dessa organização que considero de imensa utilidade pública.
Pra falar com Jonas ou qualquer outro membro do CVV basta discar 141 ou, então, no caso de João Pessoa, para o 3224.4111. Mas se o amigo ou a amiga precisar, pode também comparecer pessoalmente que será atendido(a).
O CVV da Capital funciona no Lactário da Torre, com apenas uma dúzia de pessoas que se dispõem a dar pelo menos cinco horas por dia de seu tempo para ouvir semelhantes com necessidade de ter alguém com quem conversar ou, simplesmente, serem ouvidos.
Por enquanto, o nosso Centro só dispõe de 12 voluntários e por conta dessa limitação o atendimento é feito apenas à tarde e à noite. Em Campina Grande também tem um. Mais detalhes, busquem no Google, por favor, ou outra ferramenta parecida.
Quando ao funcionamento na Capital, “a meta é preenchermos todos os horários”, disse-me Jonas, que se prepara para viajar em breve até o Rio, onde participará de um congresso nacional de CVVs. Nesse encontro, o nosso representante vai apresentar um trabalho que ele ficou de me passar por i-meio. Quando chegar, darei notícia da participação do rapaz aos leitores.
Um milhão de desabafos
Lembrei-me de abrir espaço para o CVV ao receber esta semana um i-meio da jornalista Celiana Waldeck. Ela me mandou matéria assinada por Verônica Mambrini, do Portal iG, de São Paulo, datada do último dia 19, que revela um número emblemático da atuação e importância do CVV para um milhão de brasileiros.
O título da matéria é, justamente, ‘CVV ajuda mais de um milhão de pessoas por ano a lidar com suas angústias, sentimentos e até a compartilhar alegria’, marca que o Centro atingiu “sem preconceito e também sem dar conselhos”.
Sim, porque o objetivo é, sobretudo, colher desabafos, na certeza de que o ser humano alivia a angústia ou domina a ansiedade quando bota pra fora tudo o que lhe vai de ruim ou de bom e excitante no íntimo. Por aí dá pra ver, como viu a colega Verônica Mambrini, que nem todo mundo que liga para o CVV é para contar histórias tristes.
“Por telefone, e-mail, chat, carta ou até pessoalmente, as pessoas buscam o serviço para conversar. E não são necessariamente diálogos tristes. A atriz Maristela Vanini, 39 anos, lembra da primeira vez que usou o serviço, aos 25 anos: “Eu tinha passado no meu primeiro teste profissional e era minha estreia. Cheguei em casa muito feliz e não tinha para quem contar, a minha família toda já estava dormindo Ela ligou para o CVV e começou a falar sobre sua noite. A euforia foi se dissipando e ela desligou o telefone aliviada”, conta a jornalista do iG.
Um quase quarentão
Ainda conforme a matéria do iG, o serviço foi fundado em 1962 por um grupo de universitários alarmado com o aumento no índice de suicídios. “O começo foi quase intuitivo: o grupo pegou uma linha telefônica e passou a oferecer atendimento a pessoas. Hoje, são 70 postos no país, responsáveis por cerca de um milhão de atendimentos por ano, que duram em média 40 minutos, no caso das ligações telefônicas”, acrescenta Verônica.
“Entre as premissas do CVV, estão o sigilo absoluto e as conversas não diretivas (ou seja, não se tenta influenciar a decisão da pessoa ou ajudá-la a encontrar soluções). Os voluntários recebem treinamento e passam por diversas simulações até começaram a receber as ligações nos plantões semanais de 5 ou 3 horas”, ressalta.
Confirmei as premissas com Jonas. Ele me assegurou também que ele e todos os seus colegas estão treinados e preparados para qualquer diálogo ou abordagem. Quanto aos plantões, revelou que todos são de cinco horas durante os chamados dias úteis e de quatro horas nos finais de semana.
Pois taí. Se o amigo ou a amiga precisa falar com alguém sobre algo que seria inadequado ou inoportuno partilhar com pessoas próximas, uma boa alternativa é procurar os serviços do CVV. Onde, seguramente, você encontrará quem apenas escuta e compreende o seu drama ou sua vontade de desabafar, sem julgamentos nem prejulgamentos, sem direcionar a conversa pra esse ou aquele rumo.
Garanto como depois da conversa você vai se sentir bem melhor e estará com as idéias melhor articuladas, além de dar o valor que a sua vida merece, porque os seus mais chegados e queridos dão muito valor a você e merecem ter você entre eles.
Ubuntu, uma história linda
Pra fechar a semana de uma maneira bacana, valho-me de um texto muito feliz sobre uma história muito bonita e sugestiva que recebi do advogado e defensor dos direitos humanos Alexandre Guedes. Acompanhem a seguir. Vale a pena ler ou reler.
***
A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.
Ela contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva.
Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito, com laço de fita e tudo, e colocou debaixo de uma árvore. Aí ele chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse “já!”, elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse “Já!”, instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.
O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces. Elas simplesmente responderam: “Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”.
Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda não havia compreendido, de verdade, essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?
Ubuntu significa: “Sou quem sou, porque somos todos nós!”.
Atente para o detalhe: porque somos, não pelo que temos…
Ubuntu pra você!