Vale a pena ser fiel

Gilvan Freire

O eleitor de João Pessoa vai experimentar, nestas eleições, um dos maiores testes de fidelidade política com os seus líderes. É bem verdade que a traição entre os políticos ultrapassou a moda e virou mania. Moda é um estilo ocasional, passageira, efêmero. Mania é uma ‘excitação psíquica’, ‘euforia’, ‘atração exagerada por algo’. As lideranças fizeram disso uma doença, uma compulsão. E também uma diversão. Se não fosse muito bom, agradável e proveitoso, porque eles praticariam como esporte permanente?

Há também, é certo, entre os eleitores, uma contaminação crescente. É tudo um processo de imitação: os de baixo tendem a copiar os predicados dos que estão no topo, as figuras referenciais. Nada de anormal, a não ser o fato de que quem mais se obriga a ter palavra e honra são os mestres, e não seus seguidores, pelo caráter educativo dos bons exemplos.

Mesmo assim, a sociedade vem se irritando muito com os desvios de conduta em todas as classes. Sinais dos tempos. Sociologicamente se explica: o povo sempre reage quando chega à exaustão diante de abusos de confiança ou de tolerância. Isso é histórico. Só não se sabe exatamente quando, em que tempo – em que dia.

A fidelidade, enquanto a moral não se acaba por completo, trava sempre um duelo contra os maus costumes. Ela é um símbolo de confiança, da credibilidade, da dignidade. Não se conhece alguém digno de fé e crédito, confiável entre os infiéis. No mundo da política, os eleitores são, de lambuja, ainda os mais leais. E quando não o são é porque não acham lideres confiáveis e exemplares. Ai, eles os imitam e traem. Traem também como protesto e resposta.

QUEM SERÁ LEAL EM JOÃO PESSOA?

Os eleitores da capital, em sua maioria, abalados pelos contratempos enfrentados com o governo do Estado, sofridos pelas perdas materiais e afetivas que estão tendo com essa experiência de governo autoritário e totalitário, se organizam para enfrentar a estrutura de poder que os massacra. O descontentamento beira o risco da instabilidade social e alimenta até mesmo uma campanha, antes da eleição, denominada ‘#ForaRC’, que invade as redes de relacionamento pela internet. É sintomática de uma crise profunda envolvendo a população e seu líder oficial mais importante, o governador do Estado.

As eleições deste ano, em João Pessoa, vão resolver esse conflito, de forma pacifica, enquanto outros setores institucionais mais responsáveis se escondem debaixo dos birôs. Quando a fidelidade for exigida entre as pessoas do mesmo segmento (não sendo no setor político ou na área pública), é possível achá-la, como dentro das comunidades dos cidadãos triviais.

Haverá defecções, mas os eleitores governistas deverão ser leais ao governo. Isso é comum desde os tempos primitivos quando o primeiro homem pôde mandar nos outros e ofereceu algo para manter seu poder de mando. Nisso o governo sofre pouca traição. Ele compra fidelidade e paga com dinheiro dos eleitores. Até que um governo concorrente se instale.

A oposição pertence a um povo livre. Nada como ser livre. Eleitores oposicionistas não querem apenas ganhar as eleições em João Pessoa, querem tomar a cidadela de Ricardo Coração de Leão, o rei arrogante que consultou o oráculo e entendeu errado que o sol nasceu apenas para lhe prestar homenagem.

Não há nenhuma dificuldade para a oposição tomar o poder de RC em seu principal esconderijo e desmontar seu laboratório de experiências humanas inafetivas e cruentas: falta apenas escolher o líder certo.

Quem será o líder da insurreição das massas eleitorais? Será aquele que tiver coragem e autoridade para enfrentar RC e seu poder de mando. Será o que não transija com RC nem mesmo para se favorecer num eventual segundo turno. Será o que for fiel à ‘cara’, a outra face da moeda que não é a ‘coroa’ – cara de gente, cara de povo sofrido e revoltado, que exige palavra, honra e dignidade.

A campanha vai começar matando cedo os que não entendem o que o povo pensa e quer. Porque isso já seria a primeira grande deslealdade. Morrer ou viver, eis a questão.