Urgência sem urgência

Rubens Nóbrega

Descobri ontem as duas grandes vantagens do estacionamento pago de um grande hospital privado da Capital.
Graças ao serviço, primeiro a gente fica sabendo a hora exata em que se inicia a longa e enervante espera por um atendimento de urgência. Depois, concluído o atendimento, a gente conclui que chegou a hora de mudar o conceito de urgência.
Digo isso baseado na maratona a que me submeti ontem juntamente com mulher e filha caçula na Urgência daquele hospital. Começou exatamente às 17h44m03, segundo o ticket da empresa que explora o estacionamento. E acabou… Bem, vou ter que deixar essa informação para a última linha, se conseguir chegar lá.
Não posso informar agora porque acabei de sair do consultório pediátrico. Na qualidade de acompanhante, aguardo que alguém apareça para fazer com minha filha o que a médica mandou: medir temperatura, dar comprimido pra febre, nebulização e, após a temperatura baixar, coletar o sangue da minha menina, que não por acaso é uma impaciente clássica.
Mãe e filha contraíram uma virose, diagnóstico universalizado entre médicos e leigos para identificar o quadro altamente perturbador de humanos acometidos por espirros, tosse, nariz escorrendo ou entupido, dor de cabeça, dor por todo o corpo… Antigamente, pelo que lembro, chamavam isso de gripe. Hoje… Bom, pelo visto, vou ter que refazer outro conceito.
Antes de passar pro próximo ponto devo dizer que as gentis enfermeiras da pediatria cumpriram, enfim, os procedimentos recomendados pela Doutora. Menos a coleta do sangue para exame. Só depois que a febre baixar. Enquanto isso…
Pausa para uma boa notícia

Enquanto a pediatra não nos recebe, um telefonema do senador Vital Filho concede-me um pedacinho de contentamento em meio a angústias e apreensões naturais que antecedem uma consulta médica nas condições em que aqui chegamos.
O senador liga de Brasília para comunicar que a Paraíba será contemplada – dentro de no máximo dois anos, estimo – com um dos melhores e mais bem equipados centros de reabilitação funcional de pacientes de traumatismos diversos, inclusive ou, sobretudo, neurocirurgias (se peguei bem o sentido da coisa).
Vai funcionar atrelado ao Hospital Universitário Lauro Wanderley e será certificado pelo Hospital Sarah Kubitschek, de Brasília, referência mundial em medicina do aparelho motor.
Vital é um dos patronos da causa, causa que nasceu da ideia do neurocirurgião Ronald Farias de trazer para João Pessoa uma ‘filial’ da Rede Sarah.
Como não foram postas as condições objetivos de o sonho virar realidade, o médico uniu-se ao fisioterapeuta Stênio Lins, os dois convidaram outros expertos da saúde, formaram equipe e elaboraram o projeto do Centro de Reabilitação.
O esforço já recebeu reconhecimento e apoio de ninguém menos que o ministro Alexandre Padilha, da Saúde. O homem se comprometeu bancar equipamentos e autorizar uma residência médica que vai qualificar força de trabalho para cumprir as finalidades do Centro.
Um projeto de R$ 10 milhões

O Centro de Reabilitação Funcional deve funcionar como anexo e ocupar, em complemento (para internação e cirurgias), o primeiro e o sétimo andares do HULW.
Construção, aparelhos, mobiliário e instrumentos devem consumir cerca de R$ 10 milhões. Boa parte desses recursos o senador Vital e a deputada Nilda Gondim garantem viabilizar através de emendas individuais ao Orçamento da União.
Detalhe: as emendas parlamentares individuais costumam ser liberadas com integralidade e celeridade, porque dizem respeito ao interesse direto e imediato dos seus autores. Diferentemente das emendas de bancada, que o governo põe na geladeira do contingenciamento, para tanto contando com a passividade de bancadas pouco ou nada coesas como a nossa.
Mal comparando, emenda individual é feito consulta particular. Sai mais caro, mas o atendimento é mais rápido, infinitamente mais rápido do que consulta via plano de saúde no consultório médico escolhido pelo freguês ou na Urgência do hospital do plano, à qual se recorre quando a necessidade é enorme e ínfimo o tempo de procurar e escolher.
Termino. O atendimento, não

Vou ficar devendo a informação sobre o horário em que saímos da ‘urgência’ do hospital. Só posso dizer que a febre da minha menina baixou, colheram-lhe o sangue e, neste exato momento, faltando cinco pra nove da noite, estamos na expectativa do resultado e dos remédios que a médica ainda deve passar.
Não fosse a fome tremenda que nos assola (já são 21h07), sairia daqui direto para o Trauma, onde pediria um serviço de desempeno de coluna. Coluna vertebral. Se é que tenho alguma depois de redigir toda essa coluna sentado numa cadeira de plástico, imprensado entre o leito que coube a minha filha e outro em que uma criança de menos de cinco anos passou todo esse tempo chorando e tossindo.