Uns tais insolentes e criquis entraram na campanha

Gilvan Freire

São muitos os agentes políticos que participam das eleições. Os de mais visibilidade são os candidatos, quase todos absolutamente certos de que estão eleitos, até que os eleitores os façam mudar de opinião, coisa que se agravou muito depois que as urnas eletrônicas dificultaram a recontagem de votos, a porta da esperança dos que detinham e perdiam e dos que não tinham sequer o que perder.

De todos os notáveis nas eleições, o eleitor é o deveria ser mais importante, porque é alçado a condição de manda-chuva, um juiz que remete de volta à casa a maior parte dos que dela nunca deveriam ter saído, mas pode também indulgenciar a alguns que só possuíam merecimento para voltar pra casa.

Com esse grau de importância toda, o eleitor é, contudo, um pobre coitado, porque não falta quem lhe afronte e provoque, e quem lhe desmereça moralmente. Chega a um ponto em que é melhor ser candidato do que eleitor, porque pelo menos o eleitor não anda por ai desmoralizando os candidatos. É uma pena.

Nos últimos tempos, entretanto, parte dos agentes políticos notabilizou-se mais ainda nas eleições. E não se trata dos eleitores – essas autoridades que decidem tudo e não valem quase nada. Ou pelo menos não sabem que valem alguma coisa, tamanho os desrespeitos de que são vítimas.

Fosse o eleitor consciente de seu poder, os políticos fariam do voto dele o que fazem? Algum líder se atreveria a tanto?

Notável mesmo e poderoso é quem desafia o eleitor. É quem o usa como arma de manobra e escada para alcançar posições, quase sempre em defesa de projetos pessoais ou de grupos. Parece até que o eleitor nem se sente mais ofendido com os que violentam sua honra e descaminham sua confiança. Está como na criminalidade: tudo é normal porque ficou banal.

Entre os que enfrentam o eleitor com a sensação invertida de autoridade e o transforma em alvo da zombaria e do insulto, estão os detentores de mandatos, ou seja, aqueles a quem o povo já elegeu. Não se sabe porque um representante político do povo pode ser maior do que o próprio povo. Não é uma coisa difícil de compreender?

Nessas eleições, na Capital, o que os governantes estão fazendo na cooptação do voto, quando não afrontar mais ao eleitor, afrontará aos costumes, que são coisas diferentes dos eleitores mas patrimônio deles. Ou melhor, atributos sociais pertencentes a eles.

Na hora em que não existir mais costume como regra usual de uma sociedade moralmente saudável, ninguém terá o compromisso de ter saúde moral. Estamos a caminho disso.

Mas esse banditismo institucional político que enfermiza a população hoje e nessas eleições, onde o poder público pode traficar emprego, dinheiro e pressão para acudir seus candidatos, ainda topa na resistência de cidadãos que não apenas têm deveres com a sociedade, têm pena dos eleitores. São os ‘criquis’, jornalistas independentes, idealistas, pensadores, jovens, mulheres bravas, ativistas das redes sociais, que fustigam os delinquentes, esses novos agentes notáveis que atuam fortemente nas eleições e fazem pouco caso do juiz.

Há dois militantes da legião da resistência que entraram fundo nesta campanha e funcionam como espiões a serviço de seus respectivos pseudônimos; um tal de Gosto Ruim e Paiakan, que colocam na sombra dos protetores algo a mais moral no processo. Rubens Nóbrega, criador de Gosto, disse hoje, em sua página: ‘Com minha opinião e descrédito compartilha o amigo Gosto Ruim, que se infiltrou ontem na solenidade do Palácio da Redenção e ouviu atentamente o discurso do soberano. A cada frase do homem, contudo, Gosto resmungava um “me engana que eu gosto”. E pensou que ninguém estava reparando nele. Menino, quando deu fé…

Um girassolaico guardião chegou junto, perguntou “o que tu tá fazendo aqui, hem, seu cabra?” e ordenou de dentes trincados bem pertinho do ouvido do meu amigo: “Vaza!”. Gosto vazou, lógico, mas, só de ruim, foi insuflar a galera de concursados que protestava lá fora, chamando o soberano de “enganador” e outros adjetivos que ofenderiam o decoro familiar dos leitores desta coluna’.

Sexta feira eu conto mais.