Juro como tentei outra vez, pra hoje, ‘mudar de assunto’, como diz um amigo.
Gostaria muito de repetir – com outro tema, claro – o que fiz na coluna de ontem, na qual abordei a anunciada tentativa do deputado Wellington Roberto (PRB) de emplacar um filho seu na Superintendência Federal da Agricultura na Paraíba.
Juro que me esforcei para dar um tempo nos escritos sobre atos e eventos protagonizados ou patrocinados pelo Ricardo I, mas o governador e seu governo não deixam. Não há como escapar.
Você liga o rádio e só ouve queixas, lamentos e arrependimentos de pessoas prejudicadas pelo governo ou decepcionadas com o governador.
Se liga a tevê, os telejornais locais lhe dão notícias de banhos de sangue e de assaltantes trabalhando como se estivessem numa linha de produção.
Pior: diante da escalada da violência, governador e governo reagem perseguindo policiais que ousaram reivindicar melhorias salariais e de condições de trabalho.
Se acessa a Internet, os portais de jornalismo atualizam a insatisfação, a revolta e a suspeita de que o governo não comete apenas erros decorrentes da própria incompetência.
O que se vê e se extrai das informações indicam que o governador e seu governo estariam praticando deliberadamente o errado, como nesse caso da troca de terrenos para favorecer o interesse do empresário Roberto Santiago.
Quase já desistindo de encontrar um mote alternativo, corro para abrir o i-meio que é pra ver se me salvo e me livro de comentar coisas tão tristes e angustiantes que estão maltratando a Paraíba e o seu povo. Mas aí…
Na ‘quarentena’ da minha caixa postal eletrônica me deparo logo com uma nota da Associação dos Professores de Licenciatura Plena (APLP) cobrando com justíssima indignação o dinheiro que a administração subtraiu do salário do magistério.
Vocês lembram, não? Irritado porque professores tiveram a ousadia de fazer uma greve para que o governo lhes pagasse o piso nacional, o governador mandou descontar faltas até de quem estava trabalhando, de licença, em férias…
Descontou e até hoje não repôs, talvez só para mostrar quem manda, quem sabe até para matar de cansaço e raiva quem ousou expor publicamente quão diferente é o Ricardo da agora daquele da campanha de 2010.
Pior ainda para ele, a greve dos professores e o tratamento que o governo dispensou ao movimento distanciaram-no ainda mais do Ricardo aguerrido, parlamentar de oposição a serviço das causas populares, entre as quais a valorização e o respeito aos trabalhadores em educação.
Até quando, Excelência?
A nota da APLP, assinada por seu presidente, o Professor Francisco Fernandes, começa perguntando “até quando o Governo do Estado vai prender os descontos, indevidos, feitos nos salários, do mês maio, dos profissionais em educação da rede estadual de ensino?”.
“Retirar, abruptamente, mais da metade de limitados salários de professores, é a prática maléfica da inconsciência!”, prossegue a APLP, questionando a seguir “a quem interessa essa postura inapropriada, mesquinha e inexplicável?”, mesmo sabendo que o calendário de reposição de aulas já está pronto.
“Companheiros e companheiras com dívidas, prestações atrasadas, limitações de sobrevivência por decisões que têm apenas o objetivo de punir, perseguir, maltratar! Os apaniguados que vivem escudados em gordas gratificações, refestelando-se nos sabores dos cargos comissionados, com certeza estão por trás dessa atitude reprovável. O Estado não pode transformar-se em propriedade privada de grupos!”, protesta APLP.
“Daqui, dessa tribuna, em nome do magistério estadual, dos seus familiares, dos seus filhos, solicitamos ao Governador Ricardo Coutinho que determine, imediatamente, a liberação dos valores salariais descontados”, conclui a nota da APLP.
Associo-me ao apelo dos professores, embora não alimente a menor expectativa de que o governador vá tomar conhecimento dessa manifestação. E, mesmo que saiba da existência da nota, a atitude mais provável do Doutor Ricardo é ignorá-la por completo.
Hervázio: missão impossível?
Lembro de quando, ainda no Correio, escrevi uma coluna elogiando o desempenho do vereador Hervázio Bezerra na oposição ao então prefeito Ricardo Coutinho. Na época, por conta disso, fui duramente recriminado por destacado porta-voz do alcaide.
Tudo porque elogiei a inteligência do Doutor Hervázio, a sua contundência e, sobretudo, a competência com que fazia críticas e denúncias contra o governo municipal, sobretudo porque sempre calçava tudo o que falava com fatos ou provas irrefutáveis, na maioria das vezes.
Lembro também da forma como Ricardo e os ricardistas desqualificavam o vereador, a quem ameaçavam com revelações bombásticas sobre episódios supostamente condenáveis do período em que Hervázio foi secretário de Saúde do município, na gestão do prefeito Cícero Lucena.
Hoje, por ironia do destino e circunstâncias da política, o deputado Hervázio Bezerra é líder do governo na Assembléia e, noblesse oblige, principal defensor do governador Ricardo Coutinho. Não é fácil, não será nada fácil, mas aposto como Hervázio vai se sair bem na sua missão, que muitos consideram impossível.
Aposto em Hervázio porque conheço a sua argúcia, a sua velocidade de raciocínio, o seu poder e capacidade de argumentação. E sei que vai dar muito trabalho à oposição, inclusive porque conhece as manhas e – êpa! – as fraquezas de alguns de seus ex-companheiros.
A minha esperança é a de que o retorno à convivência com Ricardo Coutinho (sim, eles foram amigos quando contemporâneos da mesma legislatura na Câmara de Vereadores da Capital) dê a Hervázio Bezerra Cruise a oportunidade de influir de algum modo nas decisões de governo.
Se tiver chance, certamente o líder aconselhará o governador a ser menos intolerante e autoritário no trato com os servidores públicos do Estado, com os segmentos organizados da sociedade, com dirigentes e representantes dos outros poderes e até mesmo com a oposição.
Refiro-me à oposição que resta na Assembléia e, sobretudo, àquela que cresce diária e exponencialmente nas ruas e casas de toda a Paraíba.