Entre os maiores objetivos de qualquer política econômica, está o de garantir a expansão do emprego.
Há meses, o governo federal vem festejando a forte criação de empregos no Brasil e, desse ponto de vista, a política econômica da gestão Dilma Rousseff teria muito o que continuar comemorando.
Os números divulgados na quarta-feira (11) a partir do levantamento da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) – que toda empresa está obrigada a encaminhar ao Ministério do Trabalho – apontaram recorde de 44,1 milhões de empregos com carteira assinada em 2010. E o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reafirmou suas projeções anteriores de que, no ano de 2011, aumentarão em 3 milhões as contratações formais de trabalho no Brasil.
No mais, o desemprego no País se mantém em níveis historicamente baixos. Em março, estavam a 6,5% da força de trabalho, como apontou o IBGE, o que reflete virtual situação de pleno-emprego na economia.
No entanto, nada vem de graça. De um lado, o bom ritmo de criação de empregos é um fato positivo, porque cria renda e contribui para a melhora das condições de vida do trabalhador. Mas, de outro, produz consequências. A criação de empregos no Brasil deixou de ser inflacionariamente neutra.
Ainda na quarta, a divulgação da primeira prévia mensal do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) apontou a disparada em 30 dias de 0,94% nos custos da construção civil. Pesou decididamente nesse avanço o crescimento do custo da mão de obra. As informações da Rais corroboram esses números quando apontam que o setor de construção civil criou, sozinho, 376,6 mil empregos em 2010, ou seja, quase 14% do total.
Também reflexo desse momento de pleno-emprego é o que acontece nos serviços, setor em que o custo da folha de pagamentos entra, quase sempre, com o maior peso. Medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a alta no período de 12 meses concluído em abril atingiu 8,6%.
Esta Coluna vem apontando mais dois focos futuros de inflação nessa área, que passarão à condição de referência em toda a economia. O primeiro deles é a safra de reajustes salariais que coincidem com o pico de inflação em 12 meses, provavelmente acima de 7% em julho, agosto e setembro. E o segundo, o reajuste do salário mínimo, já definido por lei, em torno de 14%, a vigorar a partir de janeiro de 2012.
Nesse segmento da atividade econômica, o governo Dilma segue dividido e vacilante. Por um lado, estimula com despesas públicas, crédito fácil e investimentos públicos a formação de empregos e a criação de renda. Por outro, assiste à corrosão do poder aquisitivo desse mesmo trabalhador pela inflação. A decisão explícita é dar total prioridade ao combate à inflação. E, no entanto, esse combate exige forte desaceleração da atividade econômica e, consequentemente, desaceleração do atual ritmo de criação de empregos, ao contrário do que a presidente Dilma Rousseff pareceu defender nesta quarta-feira.
Por Celso Ming