Um "projeto", duas visões

Flávio Vieira

A manutenção candidatura do agora ex-Secretário de Comunicação da Paraíba, Nonato Bandeira, continua sendo o grande enigma da eleição municipal de João Pessoa.

Reafirmada após a entrega do cargo na quinta-feira passada e da entrevista coletiva concedida hoje, a candidatura de Bandeira terá pela frente o duro desafio de se tornar viável e, portanto, de ser alternativa real para o bloco comandado por Ricardo Coutinho.

E viabilidade é algo que parece ser a grande dúvida que se apresenta para a pretensão do pré-candidato do PPS, ou seja, a dúvida é saber se Bandeira converterá em intenção de voto o apoio político que ele parece ter de partidos da base governista e setores da imprensa pessoense.

Tanto que o jornalista Luiz Torres fez questão de salientar as dúvidas que muitos nutrem em relação à candidatura de Nonato Bandeira. Para Torres, o que para muitos seria um ato de loucura – abandonar a condição de super-secretário do governo para aventurar-se numa disputa onde são mínimas as chances de vitória – foi tratado como um ato de abnegação e dedicação ao “projeto”.

Coincidentemente, é também em nome da preservação desse projeto que Luciano Agra mostra constantes atos de altruísmo político. Segundo ele, todos devem estar subordinados ao tal projeto. Só que, nesse caso, Bandeira aparentemente faz o caminho inverso.

Enquanto Luciano Agra abre mão de sua postulação em nome de um “projeto” (de poder), Nonato mantém sua candidatura também em nome do mesmo projeto. É um desprendimento raro de se ver nos dias de hoje e, certamente, digno de nota.

Pode-se dizer que são visões diferentes sobre a mesma questão. Se for isso mesmo, está explicado porque Agra e Bandeira são de partidos diferentes, mesmo compondo o mesmo grupo político. Mas, mesmo aqui, o que é a desgraça do atual prefeito – ser do PSB, o partido controlado pelo governador, – vem a ser a salvação de Bandeira.

Enquanto este finca o pé, aparentemente peita o governador e abandona o governo para ser candidato, Agra mostra resignação, mesmo desejando ser candidato. A questão é saber porque Agra não é tão bom para o bem do “projeto” quanto Estelizabel Bezerra parece ser.

Será que essas atitudes aparentemente desconexas podem explicar uma outra coisa: o motico porquê Luciano Agra foi o ungido à condição de vice de Ricardo Coutinho em 2008, que era uma maneira de ser prefeito de João Pessoa sem ter voto, e porque Nonato Bandeira foi preterido. Imagine se ao invés de Agra, o prefeito hoje fosse Bandeira, e RC desejasse uma outra candidatura? O “altruísmo” de Bandeira seria colocado à prova.

Em tempo: Apenas para registro: em termos práticos, a manutenção da candidatura de Nonato Bandeira assegura pelo menos que dois partidos não engrossem o caldo da oposição na eleição de João Pessoa: o próprio PPS e o PTB. Se Nonato não fosse candidato, abriria espaço, no mínimo, para a candidatura do oposicionista deputado estadual Jandhuy Carneiro, ou, piora ainda, que o PPS apoiasse Cícero Lucena numa articulação nacional entre o partido de Roberto Freyre e PSDB. No caso do PTB, que abriga o vereador oposicionista Tavinho Santos, a candidatura de Nonato Bandeira é o caminho menos traumático para que Armando Abílio, mais conhecido como “Mãe Diná”, transite para os braços do ricardismo sem dá muito na vista. Se isso for pouco, a candidatura de Bandeira ajuda na realização do segundo turno e na ampliação dos apoios a Estelizabel Bezerra, o verdadeiro “projeto” do ricardismo na eleição de 2012 em João Pessoa.