Um lúcido diagnóstico do atraso da Paraíba

João Manoel de Carvalho

Não é por acaso que o jornalista Rômulo Polari já foi, algum dia,cognominado de “fundamentalista do desenvolvimento da Paraíba”. Ele fazia parte do grupo de economistas liderado por Celso Furtado, que deu uma das mais importantes contribuições para a formulação de políticas públicas compatibilizadas com o desenvolvimento econômico do Brasil e apara a ruptura com modelos neoliberais, que travaram o crescimento do país e foram responsáveis por uma chaga social decorrente do processo impiedoso de empobrecimento do povo brasileiro.
Na edição de 20 a 26 de janeiro do Jornal Contraponto, Rômulo Polari mais uma vez aponta o desenvolvimento econômico da Paraíba e traça, com rara lucidez e proficiência, o quadro do atraso e da estagnação que solapa a economia paraibana nas últimas décadas.
Em magistrado artigo intitulado “O atraso não é obra do acaso”, Polari começa por analisar a renúncia do prefeito de João Pessoa, Luciano agra, à candidatura à reeleição como conseqüência da fragilização da vida pública do Estado, cuja degradação teria levado o prefeito a afastar-se do processo político-eleitoral e a “tapar o nariz” diante da podridão em que vivem mergulhados os políticos do Estado.
Polari credita a renúncia como uma expulsão do prefeito da atividade política, que rejeitou as suas virtudes de homem público como a seriedade e competência.
Na renúncia do prefeito Agra estaria a chave do atraso da Paraíba que expungiu do seu cenário homens sérios, competentes e dotados de inquestionável espírito público, o que justifica a tese de Polari, segundo a qual, o atraso não é obra do acaso e sim arquitetura dos maus políticos.
Essa realidade terminou sendo responsável pelo fraco desempenho da economia paraibana e de terem sido os paraibanos malsinados com os piores índices de desenvolvimento humano do país.
Polari lembra que a economia paraibana, nos anos 60 chegou a ser a quarta maior entre os noves estados do Nordeste e a renda per capita chegou a ser a terceira maior.
O seu artigo traz uma revelação estarrecedora, segundo a qual, sem os recursos do Programa Bolsa Família, a Paraíba retroagiria nada menos que cinqüenta ou sessenta anos no tempo e no espaço e voltaria à era das convulsões sociais que agitaram nossos campos e cidades, nos anos 60.
Outro aspecto importante do artigo de Polari é, sem dúvida a sua constatação de que a Paraíba se acomodou com os paliativos das políticas assistencialistas do Governo Federal. Faltou ao nosso Estado lideranças políticas altivas para não mendigar, mas exigir do Poder Central políticas efetivas de distribuição de renda e geração de emprego.
O trabalho analítico de Rômulo Polari não só constitui uma contribuição indispensável ao desenvolvimento do Estado, mas tem o condão de servir de roteiro para todos os que se dedicarem a construir políticas desenvolvimentistas no Estado e na região nordestina.