Um juiz indignado

Rubens Nóbrega

Encontrei-me ontem casualmente com um juiz aposentado que me segurou para “dois minutos de prosa” sobre “esses absurdos que estão acontecendo na Paraíba”.

Não vou ‘entregar’ a identidade do homem, muito menos se é da Justiça Estadual ou Federal, mas posso dizer que ele também teve destacada atuação no Ministério Público.

Mas não vou dizer, igualmente, se foi no MP federal ou estadual que ele trabalhou antes de ingressar na magistratura. Chega de pistas! Os DIPs de plantão e as Gestapos de campana que se virem com referências vagas e possíveis.

Sou nem doido de dar qualquer outra dica a mais, a não ser que o juiz e a torcida acham o Ricardus I…

Nosso magistrado está particularmente indignado com o tratamento que o monarca dispensa ao Judiciário e envergonhado com o que considera passividade do Poder.

“Já era pra ter pedido intervenção federal há muito tempo. Ele já deu motivos de sobra. Não tem o menor respeito pelo Judiciário. Por decisão de juiz, então, só aquelas que interessam a ele ou ao governo”, disse.

O Doutor … garantiu que se estivesse no lugar do colega que decidiu pela legalidade da greve do Fisco mandaria sequestrar verbas do Estado para repor os descontos no salário dos grevistas.

“Esse cidadão (refere-se ao governador) só vai respeitar o Judiciário no dia em que o Judiciário fizer com ele o que ele faz com o Judiciário”, provocou.

A cara do governo

Leiam com atenção, por favor, o relato-desabafo abaixo. É de uma professora do Estado que iniciou no último sábado (29 de outubro), em João Pessoa, sua participação em um curso de formação continuada oferecido pelo Ricardus I.

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Caro Rubens, sobre o que lhe falei por telefone, referente à Formação Continuada do Estado, peço que divulgue em sua coluna e repasse aos seus colegas as seguintes as informações a seguir.

1. Fizemos as inscrições pela internet e ainda preenchemos, na escola, um formulário de inscrição, entregue pelos gestores. Se não estou enganada, na 1ª Região de Ensino.

2. Ao chegarmos, no sábado, nas escolas, percebemos que não havia lista dos inscritos para o curso. Além disso, o critério estabelecido para se determinar a sala em que cada cursista ficaria foi o reflexo claro da desorganização da Secretaria: a sala que ainda tivesse carteiras disponíveis.

3. Não havia material necessário para a realização do curso: pastas (com cadernos, lápis) para os cursistas; apostilas (tenho informação de que apenas, numa escola, entregaram textos xerocados, os quais não estavam grampeados nem encadernados, pois foram entregues soltos, desorganizados); e, pasme, até papel ofício faltou. Soube que em algumas salas os cursistas arrancaram folhas de agendas e distribuíram com os colegas. Os professores não dispunham de qualquer recurso para suas aulas.

4. Não foi distribuída qualquer ementa com informações sobre conteúdos, metodologias, avaliações e bibliografia referentes ao curso.

5. Tivemos a impressão de que “recrutaram” professores efetivos e substitutos da UEPB e os mandaram para lá. Não nos parece que houve encontros prévios para se discutir e programar o curso.

6. O horário imposto é insano: 7h30 às 13h30, com um intervalo às 10h30 (não sei se de 15 ou 30 minutos), sempre aos sábados, até 17 de dezembro. É um tempo muito longo, o que torna o curso muito cansativo, mesmo para aqueles que lá estão porque querem aprender mais, aprimorar sua prática docente. Além disso, as salas são quentes, sem ventilação e as carteiras extremamente desconfortáveis.

7. Na hora do intervalo, tivemos outra desagradável surpresa: o “lanche” oferecido foi mais uma atitude de desrespeito com a nossa categoria – água, café e biscoitos de maizena ou de água e sal em quantidade insuficiente. Vários cursistas vieram do interior, viajaram horas e só tiveram isso para se alimentar. Soube que em algumas escolas nem esse “lanche” teve. A insatisfação e indignação das pessoas, nesse momento do intervalo, tornaram-se ainda mais fortes e evidentes.

8. Tive a informação de que em determinada escola uma turma não retornou à sala como forma de protesto. Em outras, todas as turmas saíram das salas, reuniram-se com representantes da Secretaria e exigiram providências.

9. Professores da UEPB que vieram do interior tiveram que contratar uma van e dividiram as despesas. Não foi fornecida ajuda de custo.

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Fica o espaço aberto a qualquer esclarecimento (se houver) da Secretaria Estadual da Educação. De qualquer sorte e forma, pela credibilidade da fonte e o que a gente sabe sobre como anda a administração estadual dá pra dizer tranquilamente que esse tipo de coisa não é apenas ‘a cara do governo’ que aí está. É a cara, também, sobretudo, da importância e prioridade que esse mesmo governo confere à educação e ao magistério estadual.