Um golpe na saúde

Nilvan Ferreira

Não tenho mais dúvidas. Essa proposta do governo, que visa entregar serviços essenciais, hoje ofertados pelo poder público, para entidades, denominadas de organizações sociais, é, na prática, o mais duro e profundo golpe no que podemos considerar como avanços importantes, conquistados ao longo de muitos anos, às custas de grandes embates, no sistema de saúde do nosso país, e, especificamente, do nosso estado.

O atual governo do estado tenta fazer o caminho inverso de tudo que assistimos e tivemos como foco quando nos referimos à luta pela universalização dos serviços de saúde, no atendimento daquilo que é considerado essencial aos mais carentes, os contribuintes da máquina estatal e que, só têm como referencia, aquilo que é ofertado pelo estado, responsável, segundo a Constituição, em oferecer um serviço de qualidade.

Ricardo Coutinho joga a luta em defesa da saúde pública na lata do lixo. E o mais grave: ele, o governador, também jogo o seu passado de lutas em defesa da saúde no lixo do esquecimento. Quem diria que isto pudesse acontecer tão cedo e de forma tão descabida. Ricardo, o hoje governador, outrora foi um dos principais questionadores radicais de qualquer tentativa de sucatear ou privatizar a saúde, a educação, ou qualquer serviço que tem o estado como gerente. Eram assuntos e temáticas inegociáveis para o então líder sindical em plena ascensão política.

Mas, acontece que Ricardo mudou. Hoje, pensa diferente daquilo no qual foi forjado quando construiu a sua trajetória brilhante. Para ele, a saúde, especificamente, não pode ser mais vista como um serviço do estado. Quer entregar a nossa saúde nas mãos da iniciativa privada, custe o que custar, sem medir as consequências. Quer tirar do estado a obrigação de oferecer um serviço de saúde de qualidade para o cidadão, mesmo que isto provoque piora no atendimento, desvio ainda maior de recursos e demissões de servidores em massa.

E o mais grave é que tudo acontece sem uma discussão mais profunda na sociedade. Coisas realmente intrigantes, que costumamos observar apenas em determinadas ditaduras aqui e acolá. Terceirizar ou privatizar, entendam como quiser, é golpe nas conquistas do SUS, estabelecido como base núcleo de algo que é direito do cidadão e dever do estado, gerenciador dos recursos oriundos do pagamento dos nossos impostos. Não existe meio termo. É fato consumado.

O estado tem mais é que resolver os problemas, priorizar investimentos, aplicar realmente o que se deve na construção de hospitais, na melhoria salarial do servidores da área de saúde, além de promover os avanços que a sociedade tanto exige nas questões de atenção básica. Ricardo não falou em privatização da saúde na campanha eleitoral. Uma proposta como esta não teria sido bem interpretado pela população e poderíamos ter resultados bem diferentes do que vimos em outubro do ano passado.

O atual governador foi eleito com uma votação consagradora, defendendo uma saúde de qualidade. Prometeu resolver os principais problemas da saúde dos paraibanos. Garantiu que o estado seria eficaz no tocante ao atendimento das necessidades básicas do povo. Foi categórico quando alimentou a esperança de que o estado seria cumpridor firme de suas obrigações básicas. E a saúde estava inserida na sua plataforma, amplamente discutida com diversos setores, preocupados com o pleno desenvolvimento do nosso estado.