Um fenômeno chamado Estela

Rubens Nóbrega

Que me perdoem os ricardistas mais convictos ou desesperados, mas é negócio pra figurar no Guiness, o Livro dos Recordes, a espetacular e crescente rejeição da candidata do governador Ricardo Coutinho a prefeito da Capital.

Tiro pela Pesquisa Ipespe que o Jornal da Paraíba divulga neste domingo, a primeira do período eleitoral propriamente dito, que dá a Estela (PSB) a impressionante marca de 33% de eleitores que não votariam nela “de jeito nenhum”.

Quem acompanha as pesquisas Ipespe vê que a rejeição à moça cresceu 12 pontos em apenas um mês. Na pesquisa anterior, realizada dias 16 e 17 de junho último, ela tinha 21 pontos de negativa absoluta de intenção de voto. Tem agora incríveis 33 pontos.

Deve ser um caso único na história política da Paraíba, talvez do mundo. Com menos de três meses de campanha, a candidata do PSB conseguiu desbancar José Maranhão (do PMDB) do topo do ranking mais temido por quem disputa mandato eletivo.

A comparação com Maranhão é natural porque, além de vascaíno na rejeição, com seus atuais 28 pontos, o ex-governador tem 60 anos de vida pública e divide com Cícero a condição de alvo preferencial da poderosa artilharia midiática do governismo estadual.

O cacete em Maranhão e Cícero, que dominam a ponta da corrida sucessória, não arrefece um dia, não descansa uma hora sequer em programas de rádio e televisão, blogs, portais e jornais flagrantemente a serviço do projeto político de Ricardo Coutinho.

O próprio governador, quando tem oportunidade, dá suas lamboradas no ex-governador e não poupa o antecessor nem mesmo de comentários jocosos acerca da idade do ‘inimigo’. Uma pauleira assim deve surtir algum efeito. Tanto que Maranhão também aumentou seu índice de rejeição, de 23 para 28 pontos.

A candidata do ricardismo, por seu turno, parece orientada a centrar fogo em Cícero, supostamente porque o círculo íntimo do Palácio deve apostar que uma polarização com o senador do PSDB é a saída para Estela crescer na campanha.

O problema é que ela só conseguiu crescer dois pontos percentuais em intenções de voto entre uma pesquisa e outra. Em junho, 5%; em julho, 7%.

É como se a campanha socialista pilotasse um Fusca engasgado e a rejeição, uma Lambo daquela que andou frequentando a Granja Santana no auge da polêmica sobre o troca-troca de terrenos para viabilizar o Mangabeira Shopping.

Mas tudo isso, todo esse baixo astral que domina as hostes girassolaicas por conta de resultados pífios da campanha desenvolvida até aqui tem uma razão de ser evidente para todos e todas. E ela atende pelo nome de Ricardo Coutinho.

Impopular como nunca em seu principal reduto, ao governador deve ser atribuída toda a carga pesada que vem esmagando a receptividade às ideias e compromissos que Estela verbaliza com razoável competência.

O jeito é esperar pelo Guia Eleitoral na tevê e no rádio, onde textos bem lidos e bons efeitos especiais de uma produção cara e sofisticada costumam dar um gás a quem, por enquanto, corre o risco de encerrar precocemente uma carreira política que seria promissora não fosse o padrinho que tem.

‘A águia ferida voou’

Sob o título que dá título a este tópico, acolho e reproduzo abaixo homenagem a Ronaldo Cunha Lima confiada à coluna. É do também poeta Aderson Cavalcanti.

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Pilotando palavras
Em versos e rimas,
Voaste pela amplidão…
Cruzaste horizontes…
Venceste fronteiras…
Atravessaste as tempestades das dores
E a bonança dos amores…
Se a desilusão aparecia
Fazendo teu coração sangrar
Usavas as ironias de teus versos
Como bálsamo para que a dor doesse menos…
Mas, se era o amor que chegava
Teus versos cantavam a paixão
Cobrindo e aconchegando a tua alma
Debaixo do lençol de felicidade.
Mas quis o destino impiedoso
Pregar-te uma peça
Cortando-te teus passos e tua voz,
Não sabia ele que o poeta não anda,
Ele se transporta na nave dos sonhos e das fantasias…
O poeta não fala com a boca e sim com o coração.
Continuastes minha águia ferida,
Cantando as dores e os amores…
E eu fui de carona, montado em teus poemas
Para os mais longínquos horizontes
Do amor sem fim…
E hoje, a pedido de Deus,
Partistes para o além, morar
Porém, ficarão as eternas lembranças
De um poeta que nos fez amar e chorar…