Na última terça-feira (20), o Brasil ficou surpreso com as habilidades culinárias dos pequenos competidores do MasterChef Júnior. A hashtag do programa atingiu os Trending Topics mundiais e as redes foram inundadas com postagens relativas à nova atração da TV Bandeirantes. Alguns comentários, entretanto, passaram dos limites: uma das concorrentes foi alvo de mensagens com teor sexual explícito, mesmo tendo apenas doze anos (leia mais no texto da jornalista Carol Patrocinio).
Diante da repercussão do caso e suas consequentes discussões, o coletivo feministaThink Olga lançou, na quarta (21), a campanha #PrimeiroAssédio. A hashtag foi citada mais de 2,5 mil vezes apenas ontem e nesta quinta (22) chegou aos TT’s do Brasil. Por meio dela, diversas mulheres compartilharam no Twitter os relatos dos primeiros abusos ou assédios que sofreram (leia alguns abaixo).
Luíse Bello, publicitária e gerente de conteúdo e comunidade do Think Olga, explica que a presença do assédio sexual desde cedo na vida feminina já havia ficado evidente a partir da campanha “Chega da Fiu Fiu”– também promovida pelo coletivo –, que mapeia os episódios envolvendo esse tipo de violência em locais públicos. “Desde o início, já contabilizamos centenas de casos de assédio com crianças de 8, 9 anos, que são registrados no mapa ou que recebemos por inbox e e-mail”, conta.
“O assédio acaba sendo invisibilizado por dois motivos. O primeiro é que, ao reclamarmos dele, sobretudo quando crianças, ouvimos que é normal, que homem é assim, que ‘ele estava bêbado’, que estávamos com certa roupa e por isso não devemos reclamar”, argumenta Bello. “E isso vai ficando invisível para os homens porque normalmente não acontece na frente deles. Se uma menina está acompanhada pelo pai ou pelo irmão quando está andando na rua, dificilmente um homem vai mexer com ela – isso vai acontecer quando estiver sozinha.”
Para a publicitária, a nova ação nas redes é fundamental para trazer à tona essa realidade ao mesmo tempo tão silenciada e conhecida pelas mulheres. “A importância é a gente finalmente ter voz para falar, ter espaço para mostrar o absurdo que isso é”, destaca. “Falar é mostrar que [o problema] existe, é usar nossa voz para mostrar que acontece sim, que incomoda sim, e que nenhuma criança merece passar por isso”.
Revista Fórum