Torcer pelo Naça e pelo Mengão

Rubens Nóbrega

Vou logo adiantando que meu coração é dividido em dois quando o assunto é futebol: sou flamenguista e nacionalino. Alguns torcerão o nariz por eu vestir a camisa, aliás, como a ampla maioria dos paraibanos e nordestinos, do mengão, um time do Rio de Janeiro. Para estes, eu respondo: 1) eu não mando no meu coração;

2) não sou afeito a regionalismos, nem mesmo no futebol. Quanto ao Nacional, trata-se de paixão juvenil que eu cuido sempre de cultivar a cada Campeonato Paraibano. Guardadas as devidas diferenças, são amores saciados à distância, com a diferença de que eu posso ver de perto o verdão mais vezes, quando ele vem jogar em João Pessoa, ou quando, dependendo da campanha e da partida, me desloco para Campina, ou mesmo Patos, para ver meu “canário do sertão” jogar.

Paixão de infância

Eu tenho a plena consciência de que torço pelo Flamengo por conta do meu pai. Torcer pelo Nacional era inevitável, numa Patos onde 80 a 90% torcem pelo verdão. E eu jogava futebol – era goleiro – e muitas vezes participei de partidas preliminares de jogos do Nacional pelo Campeonato Paraibano. E sempre fiquei para assistir aos jogos principais. A primeira vez que fui aum estádio foi para ver o Nacional, e eu tinha entre sete e oito anos e ainda morava em Itaporanga. Nos deslocamos para Patos numa viagem inesquecível, porque o motivo eraincomum, até então. E foi contra o Campinense, numa linda quarta-feira à noite, e acho que era a semifinal do campeonato paraibano de 1975. Lembro do estádio lotado, fervilhando de torcedores. O José Cavalcanti na época só tinha uma arquibancada, mas era possível vê-los em todos os lados do estádio apertados no alambrado muito próximo do campo.  O Nacional não venceu aquela partida e eu conheci pela primeira vez a tristeza e a decepção no futebol, algo que iria se repetir muitas vezes com o verdão, que eu acho ser o time – excluindo Botafogo, Campinense e Treze –que mais vezes foi vice-campeão paraibano. O mais doloroso de todos foi o de 1992. Depois de dois vices seguidos, o Nacional chegou à penúltima rodada do quadrangular final.

Jogaria com o Auto-Esporte, em Patos, e na última rodada com o Botafogo, em João Pessoa. Não quis nem saber. Inventei um motivo qualquer e fui para Patos assistir ao jogo. Enquanto isso, jogavam em João Pessoa Botafogo e Campinense. O quandrangular estava tão embolado que se o Botafogo vencesse o Campinense, disputaria com o Auto Esporte na última rodada e poderia ser campeão, caso o Nacional não vencesse o Altinho do Amor na quarta. O Naça venceu por 3X1 o Auto e a torcida ficou esperando no estádio o fim do jogo de João Pessoa, que estava empatado, o que não era bom para o Nacional porque o Campinense disputaria o jogo decisivo em casa contra o Naça. Ao 45 do segundo tempo, pênalti para o Botafogo! Vibração total! Foguetes, buzinaços pela cidade! Parecia que finalmente havia chegado a hora de comemorar um título estadual, porque com a vitória do Botafogo o Campinense estaria fora da disputa e, na certa, como dois e dois são quatro, abriria o jogo para o Nacional no domingo. Não sei o nome daquele… jogador que perdeu o pênalti, mas depois disso tudo desabara. Tínhamos que, pelo menos, empatar com o Campinense no Amigão, o que era dificílimo com aquela torcida e tudo que fazem em campo para beneficiar os “grandes”. O pior de tudo, de tudo mesmo, foi o que aconteceu no domingo. Eu não tive disposição para ir a Campina e preferi assistir o Botauto, que não valia mais nada, com o ouvido no jogo de Campina. Pulei sozinho feito um maluco no meio da torcida do Botafogo quando o Naça fez 1 X O. Eu devia ter ido a Campina! O primeiro tempo terminou com a vitória do Naça e os times foram para o vestiário. Segundo os comentaristas, o Nacional dava um baile no Campinense. Então, aconteceu algo que eu jamais esquecerei. O time do Nacional voltou para campo no segundo tempo sem três ou quatro jogadores. Dizem que brigaram no vestiário por conta do “bicho” de campeão. E o juiz fez o jogo começar daquele jeito mesmo. Resultado, em menos de cinco minutos o Campinense virou o jogo, venceu por 3X1 e foi campeão. E o Nacional, vice mais uma vez. Tri-vice! E eu tive que esperar mais 17 anos para ver o Nacional finalmente campeão. E dessa vez pela TV. Gato escaldado…

Democracia de torcedor

Eu digo sempre para meus dois filhos que eles podem optar livremente por qual time torcer. Apenas sugiro que eles pensem direito antes da escolha: porque, caso não seja pelo Flamengo, ele podem ir arrumando as malas.

Fazer isso com o Nacional já é forçar a barra demais. Eles pouco vão a Patos. Tudo é brincadeira, mas, aqui entre nós, parece que eles resolveram não pagar pra ver, e o menino de oito anos já desfila todo orgulhoso o vestindo o manto sagrado do mengão. A menina, de quatro, já está bem encaminhada, também, o que é um alívio. Imagine ter que conviver com um vascaíno dentro de casa? E, mais recentemente, depois que o Corinthians resolveu que quer por quer ter a maior torcida do Brasil, meu maior pesadelo passou a ser esse: ter um filho corintiano. Isso seria a prova mais que cabal de que ele não preza pela opinião e despreza o gosto do pobre pai, além de ser uma demonstração da péssima educação que eu ofereci ao garoto, pois isso mostraria o quanto ele é suscetível à influência do marketing, da TV e, pior, de gente tipo Ronaldo Gorducho.  *** Com esta coluna, eu me despeço dos leitores do JP. Na segunda Rubens Nóbrega estará de volta. Se eu não consegui substitui-lo à altura, eu peço desculpas. Tentar, eu tentei.