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Temer retira professores estaduais e policiais de projeto da Reforma da Previdência

Proposta abarcará apenas os servidores federais. Estados e municípios definirão regras próprias

Temer recebeu da associação uma lista com sugestões de possíveis substitutos
Temer recebeu da associação uma lista com sugestões de possíveis substitutos
Temer recebeu da associação uma lista com sugestões de possíveis substitutos

Em um pronunciamento de última hora, o presidente Michel Temer disse, na noite desta terça-feira, que a reforma da Previdência abarcará apenas servidores federais. Caberá aos estados e municípios, segundo ele, a adequação de suas legislações e a realização de normas próprias em relação ao assunto para servidores estaduais e municipais. Temer disse que faz isso para evitar uma “invasão de competência” e para fortalecer o princípio federativo, o que vem defendendo desde o seu discurso de posse. Ele disse ainda que a nova fórmula a ser adotada será “muito adequada” e está de acordo com os apelos feitos por lideranças do Congresso Nacional. O presidente disse ainda que a mudança anunciada reflete o que deputados e senadores vinham pedindo com “insistência” ao Poder Executivo.

— (…) Surgiu com grande força a ideia de que nós deveríamos obedecer a autonomia dos estados, portanto fortalecer o princípio federativo e, assim sendo, fazer a reforma da Previdência apenas referentemente aos servidores federais, ficando portanto aos estados e municípios a edição de normas relativas a essa matéria — disse Temer.

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O presidente afirmou que desde o fim de semana tem feito reuniões para tratar das mudanças no sistema previdenciário e que a ideia de excluir da reforma servidores estaduais e municipais apareceu “com grande força” nessas conversas com lideranças do Congresso. Apesar disso, Temer ressaltou a importância de se aprovar a reforma para o desenvolvimento do país:

— Reitero a importância fundamental da reforma da Previdência para caminharmos no sentido do desenvolvimento, do cresicmento econômico do país, da adequação das contas públicas e da formulação de novos empregos para o nosso país — afirmou o presidente.

Temer fez o comunicado cercado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder do governo na Câmara, do ministro da secretaria geral da Presidência, Moreira Franco, do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e do relator e presidente da comissão que analisa a PEC da Previdência na Câmara , deputados Arthur Maia (PPS-BA) e Carlos Marun (PMDB-MT), respectivamente. Também compuseram a tropa de Temer os deputados Arthur Lira (PP-AL), Alexandre Baldy (PTN-GO) e Laerte Bessa (PR-DF).

Segundo participantes da reunião com Temer, a avaliação levada ao presidente por líderes do Congresso é a de que o governo e sua base estavam enfrentando enorme desgaste sem qualquer ganho com isso. Antes do comunicado, Temer consultou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que aprovou a medida e disse que não haveria impacto nas contas federais.

— O impacto é zero para as contas federais, por quê vamos ficar segurando um desgaste que não é nosso se não faz diferença para as contas públicas federais? — questionou um dos presentes.

Um ministro que participou das negociações afirmou ainda que o presidente já vinha “ruminando” essa ideia desde antes do envio da a mensagem ao Congresso Nacional, que marca a abertura dos trabalhos legislativos. Assessores do Palácio do Planalto disseram ainda que, antes do envio da proposta ao Congresso havia essa dúvida sobre incluir ou não servidores estaduais e municipais na proposta. Mas, diante da pressão de governadores, que avaliavam ser muito difícil fazer essa reforma nos estados, o governo acabou cedendo.

— Houve muita pressão dos governadores porque diziam ter muita dificuldade de fazer a reforma nos estados. Mas a pressão em cima dos parlamentares é justamente dos servidores estaduais, e os governadores também não estão ajudando — afirmou uma fonte do Planalto.

Integrantes do governo afirmaram ainda que foram citados casos de governadores que, de um lado diziam apoiar a reforma, mas de outro estimulavam protestos contra a aprovação da matéria para enfraquecer o governo. Portanto, a avaliação, agora, é de que as questões estaduais estão sendo “devolvidas” para as áreas de origem.

— Está se devolvendo essa responsabilidade a quem de direito — afirmou um dos líderes presentes.

‘ESPÍRITO DA REFORMA FOI MANTIDO’, DIZ INTEGRANTE DA EQUIPE ECONÔMICA

Integrantes da equipe econômica afirmaram ao GLOBO que a decisão do presidente Michel Temer de retirar servidores estaduais da proposta de reforma da Previdência foi tomada para facilitar a aprovação do texto no Congresso. Além disso, havia uma preocupação do governo com o risco de a reforma ser questionada judicialmente por ferir a autonomia federativa.

— O espírito da reforma foi mantido. Ela continua impedindo o crescimento do gasto descontrolado com Previdência no âmbito federal. Na esfera federal não mudou nada, nem uma vírgula. E vai ficar mais fácil a aprovação no Congresso — disse um integrante da equipe econômica.

Por outro lado, o presidente jogou no colo dos governadores a responsabilidade de fazer uma reforma previdenciária estadual, que agora terá que ser submetida às assembleias legislativas. Alguns governadores haviam pedido à União que tratasse dos servidores estaduais na reforma encaminhada ao Congresso justamente porque não teriam força para conseguir mexer em aposentadorias no âmbito regional. Ele preferiam não ter o ônus político de arcar com essas mudanças.

No entanto, de acordo com os técnicos do governo federal, a manutenção dos servidores estaduais na reforma da União estava prejudicando a aceitação do projeto nas bancadas:

— A retirada foi decorrente de uma avaliação política feito entre o presidente Temer e o Congresso. Os estados vão ter que lidar com seus próprios números nas assembleias legislativas — disse o técnico.

Fonte: O Globo