Tamborete de suicida

Por Rubens Nóbrega

“Começava a escrever a crônica de um suicídio político anunciado quando no meio da tarde de ontem recebi a informação de que o senador Vital Filho entrara no ‘quarto’ a tempo de evitar ou no mínimo adiar o enforcamento do PMDB na corda oferecida a todo instante, desde o começo do ano, pelos principais adversários do partido. Tanto os de fora como os ‘de casa’. Para tanto, ele foi ao Palácio de Planalto por volta das 15h para fazer duas coisas: primeiro, avisar que substituiria o irmão Veneziano na pré-candidatura ao Governo do Estado; segundo, pedir estrutura de campanha suficiente para manter o partido unido e Lucélio Cartaxo na chapa majoritária que na Paraíba repetiria a renovada aliança com o PT no plano nacional.

Vital deve ter recebido todas as garantias solicitadas ao governo. Tanto que saiu da Casa Civil da Presidência direto para o aeroporto de Brasília, onde pegou um voo para João Pessoa. Tinha previsão de chegar por volta das sete da noite e uma hora depois a intenção de expor aos correligionários mais expressivos as condições prometidas lá por cima para tirar o PMDB da forca que lhe fora armada cá embaixo. O senador chegou tarde, pelo visto. Pelo menos em relaçã
o ao PT, que por volta das 17h anunciou adesão ao projeto de Ricardo Coutinho de prorrogar o aluguel da Granja Santana por mais quatro anos. Em troca, o governador aceita o petista Lucélio Cartaxo como candidato a senador e garante não atrapalhar – mesmo se perder este ano – o plano do prefeito Luciano Cartaxo de tentar a reeleição quando 2016 chegar.
Mas o banquinho e o laço do PSB continuam no aguardo do pescoço do PMDB. Os socialistas ainda têm esperança de contar com Veneziano na chapa. Na condição de candidato a vice-governador, sob compromisso de deixá-lo assumir e disputar o governo em 2018 com apoio do já então candidato a senador Ricardo Coutinho. Fora essa parte chata de ter que combinar com o eleitor para conseguir tudo isso, a proposta é muito atraente e a tentação, enorme. Talvez maior do que a maldição do Frei Sarapião.

Fim do protagonismo
Depois de conquistar o PT, ninguém mais duvida da capacidade do governador de seduzir o PMDB. Prometendo mundos e fundos, mais esses do que aqueles, ele teria conseguido quebrar toda e qualquer resistência ao cerco que montou em torno de lideranças peemedebistas que ainda lutariam para preservar um protagonismo político que há mais de 60 anos coloca o partido de José Maranhão como alternativa de poder ou o próprio poder na Paraíba. De qualquer modo, trocar toda esse referencial e história pelo risco de se aliar outra vez a um Ricardo Coutinho ou, em desespero, a um Cássio Cunha Lima, equivale a subir no patíbulo e aguardar docilmente o momento de o carrasco chutar o tamborete sobre o qual se apoia o condenado. O próprio PMDB sabe e já provou a consistência e a duração da palavra empenhada por um ou outro. É semelhante a u
m risco n’água. Mas, fazer o quê? Se até o PT acredita e se entrega… Talvez porque prefira uma morte mais lenta, quem sabe uma infecção generalizada. Que, no caso, começa por um ferimento – a tiro – no pé.

Difícil compreender

Não me sinto qualificado, sinceramente, para tentar entender – muito menos explicar – a cena política paraibana e o comportamento de seus principais atores. Daí não costumo abusar da paciência e generosidade do leitor ocupando este espaço com análises para as quais não me sinto gabaritado. Salvo em casos excepcionais, como o de agora. Mesmo assim, recorro a analogias para dar algum sentido aos fatos que me parecem estranhos, na medida em que tenho também muita dificuldade para aceitar ou compreender a facilidade com que o fisiologismo mais escrachado ou o pragmatismo mais cínico se impõe nesse meio. A única coisa que posso dizer com alguma segurança sobre os últimos acontecimentos é que seus personagens e atitudes validam como nunca a máxima gaudenciana segundo a qual a política é dinâmica; na Paraíba, mais ainda. Porque aqui, como se viu ontem, boi pode até voar.”