Somos o que escolhemos ser

Amadeu Robson Cordeiro

É de longa data que nós paraibanos vivenciamos a vida política estadual com certa dose de incredulidade, ou mesmo, de grande suspeita. Daí nos colocamos em posição defensiva com o “pé atrás” ou partimos para a ofensiva lutando, comprovando e cobrando direitos.

Nesse cenário político-partidário, a suspeita se desenvolve naturalmente porque gira em torno do poder, de sua conquista e da sua manutenção. Talvez seja exagerado afirmar que todos, na política, são desconfiados, daí os aliados de hoje serem os adversários ou inimigos de amanhã, como se fosse possível ser inimigo permanente num cenário partidário que se oxigena de poderes claros ou ocultos.

Como toda regra tem exceção, vou me redimir com o lado sujo da classe política, pois, pude concluir que não tenho o direito de suspeitar nem acusá-los de ladrão e corrupto, e sim de verdadeiras vítimas de minhas chantagens eleitorais. Digo isto, pois nenhum deles assume cargos de tamanha responsabilidade por vontade própria. Ou seja, eles não saem de suas casas afirmando: hoje serei vereador, deputado estadual, deputado federal, senador, governador ou presidente da República, mas, sim, através de um sufrágio constitucional democrático que é o voto, instrumento mais letal que uma arma bélica. Enquanto este tipo de arma mata o homem no corpo, o voto destrói o homem na alma (vende e compra a dignidade, a ética e a moral, enfim todos os seus valores).

A minha maior dúvida é de saber quem é mais ladrão: quem rouba ou quem compra o roubo? Ou então que é mais desonesto e corrupto: quem elege ou quem é eleito? Meu questionamento é baseado no fato de que me acostumei a reclamar silenciosamente de tudo e de todos, numa indigesta convivência que me agride internamente e que me acompanha há muito tempo. Afinal, posso reclamar?

Desculpe-me caro leitor, mas nesta “analogia” a carapuça vai cair em alguém. E partindo da célebre frase: “atire a primeira pedra” é que eu digo que como funcionário público reclamamos porque deveríamos ganhar mais pelo que produzimos. Como líderes associativos ou sindicais reclamamos das injustiças com a nossa categoria, mas aceitamos passivamente o corporativismo e a condição de capacho do governo. Como grande empresário, como banqueiro, reclamamos por achar que nossos impostos são injustos (INSS, PIS, Confins, ICMS, etc). Da falta de água que estragamos deixando a torneira aberta, do funcionário público que corrompemos para ceder um documento mais rápido, da Receita Federal que sonegamos o Imposto de Renda, reclamamos do Guarda de Trânsito que corrompemos para nos livrar da multa. Resumindo: como podemos exigir que nossos filhos sejam corretos se o problema maior está em nossas atitudes, em nossos exemplos, que sofremos de um tremendo desvio de conduta.

Por tudo isto, pude concluir que temos que assumir nossos erros e não transferir aos outros, com a mania de pensar em ser dono da verdade e estar acima de tudo e de todos. Há dois anos atrás muitos foram enganados. Aprendemos que entre o discurso e a prática há uma longa distância. Depois do segundo turno das eleições saberemos se demos mais uma vez oportunidade ao erro, ao engano camuflado. Saberemos se somos realmente hipócritas.