Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro transformaram a divulgação de atos antidemocráticos – com pautas como o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal – em “negócio lucrativo” que pode ter rendido mais de R$ 100 mil, aponta a Procuradoria-Geral da República.
A CNN Brasil teve acesso à íntegra do inquérito aberto no dia 20 de abril pela PGR para investigar a organização desses atos. A suspeita é que parlamentares, empresários e donos de sites bolsonaristas atuam em conjunto e de forma orquestrada. Na semana passada, eles foram alvo de mandados de busca e apreensão e tiveram o sigilo bancário quebrado.
De acordo com as investigações conduzidas pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, há indícios de que os alvos passaram a disseminar “mensagens apelativas” em redes sociais em busca de dinheiro. O inquérito conduzido apura o financiamento das manifestações.
Segundo Jacques, “os frequentes entrelaçamentos dos membros de cada um dos núcleos” indicam “a potencial existência de uma rede integralmente estruturada de comunicação virtual voltada tanto à sectarização da política quanto à desestabilização do regime democrático para auferir ganhos econômicos diretos e políticos indiretos.
De acordo com o inquérito, sites bolsonaristas podem ter lucrado, especialmente, com a transmissão de atos que tiveram a participação do presidente.
O vice-procurador-geral cita dados de um relatório de uma empresa especializada em análises estatísticas de páginas do YouTube, segundo os quais, por exemplo, a Folha Política, site que diariamente publica vídeos em defesa do governo, pode ter faturado entre US$ 6 mil e US$ 11 mil com a “live” do presidente do dia 3 de maio em frente ao Palácio do Planalto.
Já o vídeo da participação de Bolsonaro no ato de 19 de abril, dia do Exército, pode ter rendido, segundo a PGR, lucro US$ 7,55 mil e US$ 18 mil. A manifestação, em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, pedia intervenção militar e o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal). O inquérito aponta que, com a transmissão, o canal “Foco do Brasil” teve 1,5 milhão de visualizações.
Jacques diz que, “com o objetivo de lucrar”, esses canais, “que alcançam um universo de milhões de pessoas, potencializam ao máximo a retórica da distinção amigo-inimigo, dando impulso,assim, a insurgências que acabam efetivamente se materializando na vida real, e alimentando novamente toda a cadeia de mensagens e obtenção de recursos financeiros”.
O inquérito aponta que a transmissões tornam-se “negócios lucrativos” quando apelam a “vídeos batizados com títulos expressivos”, como “Bolsonaro invade STF”, “A Força de Bolsonaro é maior que Congresso e STF”‘ e “Bolsonaro e Forças Armadas fechados em um acordo para o Brasil”‘.
“Há uma escalada em que mensagens apelativas produzem propagação e dinheiro; e a busca por dinheiro gera a necessidade de renovação de bandeiras com grande apelo e propagação”, diz Jacques.
O inquérito detalha que o dinheiro advém de publicidade, de assinaturas dos canais, da venda de produtos oficiais das páginas e até de anúncios pagos por empresas e órgãos públicos.
Embora destaque que não há ilicitude nas transmissões, o vice-procurador-geral afirma que “pode haver abusos e crimes que precisam ser apurados a partir do esclarecimento do modo de funcionamento estruturado e economicamente rentável” na organização dos atos –cuja a pretensão, diz Jacques, seria a “execução de ações contra a ordem constitucional e o Estado Democrático e provocação das Forças Armadas ao descumprimento de sua missão constitucional”.
Fonte: CNN Brasil
Créditos: CNN Brasil