A cada dia que passa, você tem menos vontade de fazer sexo? Nem mesmo a masturbação te anima? Saiba que sentir pouco ou nenhum desejo sexual é algo mais comum do que parece entre as mulheres. As causas vão muito além daquelas de ordem biológica. Dormir mal, estresse, drogas, pílula anticoncepcional, menopausa, disfunções sexuais, vergonha e até mesmice estão entre as possíveis causas para não querer transar.
Segundo uma pesquisa feita pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, por meio do Hospital Perola Byton, 48% das mulheres procuram ajuda médica por conta de disfunções sexuais — 45% dessas estão entre a faixa etária de 40 a 55 anos; 36,4% entre 25 e 39; e somente 7,9% tem entre 20 e 24 anos.
Para se ter uma ideia, no estudo apenas 13% das mulheres atendidas pelo Perola Byton tiveram causas predominantemente orgânicas, como alterações hormonais ou problemas originados por alguma doença. A maioria das queixas das 455 pacientes examinadas tinha fundo psicológico e sociocultural.
Por isso vale identificar o que pode estar te levando ao caminho de uma vida sem prazer ou apetite sexual. Um palpite é que, provavelmente existam causas, no plural, já que o motivo dificilmente é um só. E, ao contrário do que muitos pensam, a abstinência prolongada não aumenta a libido.
Então, que tal entender o que está acontecendo com você?
Hormônios & Cia
A disfunção sexual hipoativa (nome da ausência persistente ou recorrente de desejo) pode ser consequência de desordem glicêmicas, como diabetes, alterações da tireoide e hiperprolactinemia, o excesso de produção de prolactina, hormônio responsável pela produção do leite. “A prolactina, responsável pelo aumento das glândulas mamárias e produção láctea, é também um bloqueador da estimulação das gônodas (nas mulheres, o ovário), diminuindo a produção dos hormônios sexuais”, explica.
A mudança hormonal intensa também causa transtornos de humor, mas existem duas outras explicações para uma mãe em período de amamentação não ter desejo: há o cansaço causado pela rotina do bebê e as questões físicas das dores pós-parto.
A fisioterapeuta Flávia Yanno, 34 anos, viveu um período de baixa libido justamente após o parto de Julia, sua filha de 2 anos. “Era um outro momento, eu não pensava em sexo. Estava mais preocupada em amamentar minha filha, se ia ter leite suficiente. Minha concentração foi toda nela”.
A libido de Flávia voltou ao parar de amamentar, quando Julia completou 9 meses. “Eu a matriculei na escolinha, estava cansada e precisava pensar um pouco em mim. Foi a partir daí que passei a sentir desejo sexual’, lembra.
Desconforto na penetração
Quando a falta de libido vem associada a dor na hora do sexo (dispareunia), as causas podem envolver infecções dos órgãos pélvicos. Nesses casos, ou são consequência de infecções sexualmente transmissíveis, como clamídia e gonococo (bactéria causadora da gonorreia), ou decorrência de processos inflamatórios, como pós-cirúrgicos, endometriose e tuberculose pélvica. “A dor também pode vir de distúrbios psicológicos, como o vaginismo, que é a contração involuntária da musculatura vaginal e ainda ser resultado de outras alterações anatômicas, que só o médico pode diagnosticar”, explica a ginecologista.
A pílula
Alguns anticoncepcionais também estão relacionados pois reduzem a libido por aumentar o SHBG (proteína carregadora de hormônios sexuais) gerando uma menor oferta de testosterona livre no sangue. Segundo Lívia, alguns métodos contraceptivos apresentam baixas doses de estrogênio, o que promove uma diminuição da lubrificação vaginal e o trofismo da parede vaginal. No último caso, também pode ocorrer dor durante o ato sexual.
Sueli Tapigliani, ginecologista da Mais Excelência Médica, ressalta que não devemos isolar o método anticoncepcional hormonal como causa única. “Existem outros fatores que podem se associar e instalar a disfunção sexual, que vão de causas ambientais, como no uso de drogas/álcool, a causas psicossomáticas, ligadas a depressão e estresse”, explica.
Câncer
A professora Jackelin Wertheimer Cavalcante, 32 anos, sentiu sua libido diminuir durante o tratamento para eliminar um tumor no ovário e no colón uterino. O processo todo durou um ano. “Às vezes, queria transar ou me masturbar, mas, na média, só tinha vontade de dormir”, lembra.
Alguns tratamentos, principalmente contra câncer nos órgãos pélvicos, podem gerar fatores que dificultam o prazer. “A radioterapia local, por exemplo, pode causar o estreitamento e o ressecamento vaginal. Em alguns cânceres, também utilizamos hormonoterapia, gerando a diminuição orgânica da libido”, explica Lívia.
A depressão
Tristeza, desânimo, fadiga e falta de motivação… A depressão é uma doença da mente que, infelizmente, também afeta e muito a vida sexual. Para se ter uma ideia, 40% das mulheres que se queixam de falta de libido são diagnosticadas com depressão, segundo Projeto de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (ProSex).
Não se trata apenas de falta de interesse puro e simples pelo sexo. O problema é, acima de tudo, biológico. Isso porque o distúrbio pode gerar uma diminuição dos níveis de dopamina no cérebro, um hormônio importante para a libido.
A publicitária Fernanda Noronha passou por uma depressão profunda durante dois anos. Casada, Fernanda não sentia vontade de tocar o marido e se negava a transar para cumprir tabela. “Eu chorava por tudo, tinha crises existenciais intensas e não ligava nem um pouco para o meu corpo, desejo zero. Era como se eu fosse apenas minha mente”, lembra. O resultado ela viu na balança, engordou 10 quilos. Foi somente após buscar tratamento psicoterapeutico que voltou a ter vontade de sexo. “Em poucos meses, passei a sentir novamente meu corpo e suas vontades. Hoje tenho uma libido equilibrada”, diz.
A ansiedade e o estresse
Ansiedade elevada também afeta negativamente o sexo. As mulheres com esse mal sentem dificuldades de alcançar o orgasmo, podem até ter dores na relação sexual e, principalmente, têm falta de desejo.
A atriz Priscila Santos, 46 anos, enfrentou problemas com a libido devido ao estresse de uma rotina intensa. Ela era casada, trabalhava 12 horas por dia como executiva de uma empresa, viajava muito e transformava a pressão de seu cargo em ansiedade. “Meu corpo estava robótico, mecânico, embrutecido. Eu só realizava tarefas, o sexo era mais uma da lista. Acho que isso afetou o casamento” conta.
Segundo Naiara Mariotto, psicóloga com especialidade em relacionamentos, equilíbrio emocional e sexualidade, o casamento cria outras prioridades e a mulher passa a enxergar seu companheiro muitas vezes como parte de suas obrigações, diminuindo o tempo para o desejo e para o sexo. “A mulher é mais responsiva do que espontânea, é baseada nos acontecimentos ao seu redor e diversas vezes leva isso para a cama. Se o seu relacionamento não está bem, ela não estará bem e sua libido não aparecerá”, comenta.
Priscila não deixou de transar com o marido, “Mas era como ir para a ginástica sem vontade”, conta. Viveu essa rotina estressante por cerca de três anos até sentir seu corpo esgotar, assim como seu relacionamento. As coisas só mudaram quando ela abandonou a carreira no mundo executivo e passou a ter mais tempo para se reconectar com seu corpo.
Fatores socioculturais
Lembra quando falamos que o transtorno do desejo sexual hipoativo não tem uma única causa, mas sim várias? Pois é, a maioria das mulheres que enfrentam alguma das situações apontadas anteriormente, enfrentam também os aspectos sociais. Isso porque a sexualidade feminina sofre repressão, segundo ressalta a psicóloga Naiara.
Basta observar que o diálogo sobre sexo com os homens é estimulado desde a infância. Com as mulheres, a simples menção ao corpo sexual gera constrangimento, insegurança e timidez. “Quando o menino colocava as mãos em seu órgão genital, tudo é engraçado e estimulado, e eles constroem o autoconhecimento por meio até do incentivo à masturbação. Já as meninas escutam apenas um ‘tira a mão daí, porque é feio!’, ‘menina não faz isso!’ e por isso acabam restritas do conhecimento sobre sua própria sexualidade”, comenta.
Tudo isso é refletido na vida sexual da mulher, que pode se tornar uma adulta reprimida. Vale lembrar das cobranças relacionadas a padrões estéticos inalcançáveis e a ideia de que apenas corpos perfeitos podem sentir prazer e são sensuais.
Relacionamentos longos
Os problemas com a sexualidade são uma grande dificuldade dentro da relação conjugal, principalmente nas duradouras. Uma pesquisa feita pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 2008 demonstrou que o relacionamento de longa data interfere negativamente no sexo, na opinião de 34,8% dos homens e 33,4% das mulheres.
“Após um tempo juntos, chega a famosa rotina: as ‘confidências’, o companheirismo e a amizade prevalecem, mas o sexo passa a ser deixado para o dia seguinte”, comenta Naiara. É justamente a segurança do relacionamento estável que faz reduzir os momentos de sedução entre o casal. Ademais, todos os afazeres e preocupações rotineiras se tornam mais importantes do que o sexo. “‘O ‘deixar para amanhã’ ou ‘para a próxima semana’ nutre não só a rotina, como o comodismo”, finaliza. A consequência: o desejo por algo que já foi conquistado diminui.
Fonte: Universa
Créditos: Universa