Sem o Legislativo, governo Ricardo se complica
As relações entre Executivo e Legislativo, por mais apelidos com que possam eventualmente ser qualificadas, têm que caminhar bem. Caso isto não ocorra, a penalização maior acaba sendo mesmo do chefe do Executivo. Os exemplos se multiplicam, desde a esfera federal, passando pelos municípios, até as diversas Unidades da Federação.
No país, o exemplo mais notável, que terminou virando case da ciência política, é o do ex-presidente Fernando Collor de Melo. Sua queda se deu, principalmente, porque havia perdido o apoio do Congresso Nacional. E, concomitantemente, o apoio popular, que poderia ser capaz de lhe fornecer alguma sustentação.
Collor amargou, depois de sua queda, em 1992, dez anos de ostracismo, retornando à política em 2002, quando foi derrotado no pleito pelo governo de Alagoas. Em 2006, finalmente, 14 anos após o impeachment, Collor conseguiu se eleger Senador da República, por Alagoas, cargo que ocupa atualmente.
O retorno de Collor somente foi possível por conta de sua idade. Ao ser cassado, Collor tinha apenas 43 anos, moço o suficiente para um retorno de grande dificuldade. Outros, exatamente por não ostentarem uma idade assim, sequer tentaram outra vez, ao passar a tempestade.
Na Paraíba, o exemplo mais clássico de como pode ser desastrosa a perda do apoio político do Legislativo é o do ex-governador Tarcísio Burity, em seu segundo mandato. O primeiro mandado, Burity tirou de letra, fazendo o dever de casa, isto é, mantendo maioria no Legislativo, o que lhe rendeu uma eleição para a Câmara dos Deputados na posição de mais votado no estado.
No segundo mandato, não foi isto que aconteceu. Terminou o governo em minoria na Assembleia. E, apesar de manter bons índices populares, o que impediu algum procedimento mais drástico, do Legislativo, contra o seu mandato, não conseguiu repetir, até sua morte, o sucesso político alcançado no final dos anos 70 e pelos anos 80.
Creio que a história deveria preocupar, por exemplo, o atual governador da Paraíba, Ricardo Coutinho. Nunca, nem ao tempo de Burity, um governador esteve tão mal no Legislativo como é o caso do líder socialista paraibano, neste momento. Apesar de normalmente uma tarefa difícil, os deputados estaduais paraibanos têm derrubado vetos do governo como se fossem folhas secas.
Não recomenda bem para o futuro político de Ricardo o estouro do relacionamento com o Poder Legislativo, conforme a realidade de hoje. E o pior: sem qualquer perspectiva de melhoria, ainda mais num ano eleitoral como o que estamos vivendo, onde o governador amarga posição sofrível na pesquisa de intenção de votos para o governo estadual.
E Ricardo Coutinho não é mais tão novo assim, como era Collor, em 1992.