Apesar de toda a preocupação que cerca a Rio-2016, instalações importantes dos Jogos Olímpicos entraram na última semana antes da abertura sem poder contar com a segurança ideal para um evento deste porte. Engenhão, Riocentro, Marina da Glória, Sambódromo, a arena do vôlei de praia e o Parque dos Atletas, todos já recebendo esportistas para treinamentos, estão operando sem verificação de mochilas por raio-X ou scanner de credenciais em suas entradas.
A checagem de bagagens com o auxílio eletrônico, praxe em aeroportos, por exemplo, faz parte de um protocolo de segurança internacional para evitar o transporte de qualquer artefato proibido. O scanner de credencial, por sua vez, serviria para confirmar a autenticidade dos crachás de quem trabalha dentro das instalações. Os aparelhos estão lá, mas não são utilizados pelos membros da Força Nacional que são responsáveis pelo controle de entrada.
“É difícil me pronunciar sem ver o local, mas em geral, contra risco de pessoas armadas ou explosivos, não é suficiente a revista manual. É possível usar raio-X ou cães farejadores, por exemplo. Em locais de maior risco, isso seria de muita importância”, disse Ignacio Cano, professor adjunto da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e especialista em direitos humanos, violência e segurança pública.
É justamente a verificação manual que tem sido feita pela Força Nacional. Os oficiais abrem bolsas para observar se há algum problema e checam as credenciais de forma visual. Não há, no entanto, um padrão nesses procedimentos. Em algumas instalações, bagagens são reviradas para que não haja dúvidas. Em outras, uma visualização superficial já garante a passagem.
“Acho que é bastante preocupante. O ideal é que o raio-x funcione, mas tem como você fazer essa revista de forma manual, só que a preparação destes operadores tem de ser bastante enfatizada. A qualidade da segurança é considerada pela sua consistência. Quando ela não é consistente, abre brechas para ocorrências”, explicou Hugo Tisaka, diretor da NSA Brasil, empresa de consultoria de segurança privada.
Consultado pela reportagem, o Comitê Organizador da Rio-2016 disse que é possível fazer a segurança sem o raio-X e o scanner de credenciais sem colocar torcedores e atletas em risco. Só que o cenário atual é reflexo de um problema antigo. Responsável pela questão, a Sesge (Secretaria Extraordinária para Segurança de Grandes Eventos) decidiu contratar uma empresa para cuidar das revistas em 30 de maio, quando contratou uma empresa catarinense, sem experiência na área, por R$ 21 milhões. A Artel Recursos Humanos não conseguiu contratar o contingente necessário a tempo, entrou em atrito com o Ministério da Justiça e teve o contrato rescindido semanas depois da assinatura.
A responsabilidade de operar o maquinário, então, recaiu para a Força Nacional. Na abertura do Parque Olímpico, quando a verificação de raio-x também ficou parada pelos primeiros dias, os oficiais admitiram que não sabiam manejar os equipamentos. Com longas filas se formando, a Rio-2016 investiu na contratação emergencial da empresa Sunset, que agora está cuidando do controle de entrada do local. Só que não há previsão de que esse contrato vá ser estendido para as demais instalações.
A situação gera desconforto. Embora não fale sobre o assunto, o Comitê espera que a Sesge resolva a questão antes da abertura dos Jogos Olímpicos, marcada para a próxima sexta-feira. Consultada, a secretaria não respondeu aos questionamentos até o fechamento da reportagem.
Fonte: UOL