Seca piorando e o governo, ó!

Rubens Nóbrega

Há quem diga, com base científica, que o Nordeste enfrenta atualmente a seca mais braba dos últimos 30 anos. Pra complicar, seriam mínimas as chances de salvação da lavoura com o volume de chuvas esperado para o segundo e terceiro trimestres. Mas nada é tão ruim que não possa piorar, já dizia o velho Murphy.

Estamos assistindo também a uma estiagem de iniciativas governamentais que possam atender emergencialmente pelo menos 12 milhões de nordestinos que dependem do socorro oficial para não morrer de sede. Lembrando que do total de vítimas, pelo menos 2,5 milhões sobrevivem a duras penas na Paraíba.

Contra as críticas de que está inerte e indiferente, o Governo Federal sempre pode alegar que está fazendo a sua parte porque ampliou o prazo para os agricultores renegociarem suas dívidas e suspendeu as execuções contra quem está devendo e não tem conseguido pagar os empréstimos que pegou para investir na produção no campo.

Brasília pode argumentar ainda que está agilizando o pagamento do Garantia Safra, que não garante mais do que R$ 640 parcelados em quatro vezes a quem perdeu mais de 50% do último plantio que fez de arroz, feijão, milho, mandioca e algodão. É muito pouco, convenhamos. No caso da Paraíba, o Garantia Safra chega a partir de hoje a não mais que 62 dos 166 municípios que mapearam suas perdas e inscreveram no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) agricultores que dão graças a Deus por essa merreca de indenização, na falta de ajuda mais substanciosa e permanente.

Tal ajuda seria perene, contudo, se o Governo Federal voltasse a tratar com prioridade a transposição das águas do São Francisco, águas que já deveriam estar servindo tanto para matar a sede de quem tem sede como para irrigar culturas que garantiriam emprego e renda a milhares de famílias paraibanas.

A desgraceira do momento só não é total porque algumas organizações não governamentais, feito a Articulação do Semi-Árido (Asa), há anos lutam para multiplicar barragens subterrâneas, cisternas e outros meios de acumular água pra encarar aperreios como o de agora. A atuação dessas entidades já deve ter salvado muita gente, graças às tecnologias e conhecimentos com que irrigam as defesas dos viventes e sobreviventes das áreas mais castigadas.
Governo estadual não funciona

Na parte que cabe ao Ricardus I nesse latifúndio de omissões e imprevidências, afora inaugurar barragens que encontrou quase prontas e levou mais de um ano para concluir, a falta de atenção e ação do governo estadual é tão patente quanto patética é a sua performance no apoio a quem mais precisa de água e providências de governo.

Afinal, quem, além de Ricardo Coutinho, seria capaz de no comando do Estado desmobilizar em tão pouco tempo um programa exitoso como o Leite da Paraíba, que sustenta centenas de pequenos e médios produtores do Sertão, Cariri, Curimataú e Brejo e é crucial para a sobrevivência deles em períodos de seca? Quem, além de Ricardo Coutinho, comandaria um governo capaz de pagar um valor (82 centavos) por litro de leite abaixo do custo de produção (87 centavos) aos fornecedores do Estado e ainda assim com atrasos que chegam a 75 dias?

Outra realização desse governo nessa área foi inaugurar no dia 27 de abril de 2011, ou seja, há quase um ano – e com toda a pompa e circunstância – um banco de sementes em Lagoa Seca que, suspeito, também já encontrou prontinho da Silva. Mas, tal e qual o atual governo em matéria de servir aos agricultores das áreas mais estiadas, o tal Banco Mãe de Sementes também não funciona.

Sinceramente, fico pensando vez em quando que é assim porque o nosso governador não tem a menor intimidade com problemas dessa natureza e talvez nem tenha notado ou tomado conhecimento de que existe uma seca em andamento e em processo de agravamento. De qualquer sorte, desconfio ainda que se ele souber é capaz de querer dar uma de Pilatos e botar toda a culpa no governo federal. Mas aí pode ser tarde, porque mais um pouco e faltará água até para lavar as mãos.
JUSTIÇA SE FAÇA

Até aqui, só sei de dois expoentes políticos da Pequenina que manifestaram preocupação diante da seca que nos assola. O primeiro, o ex-deputado Álvaro Neto, a quem encontrei semana passada sincera e bastantemente apreensivo com a situação. Doutor Álvaro, que deixou a política de lado e hoje vive mais advogando e cuidando de uma fazenda que tem no Cariri, pintou-me um quadro de extrema aflição por que passam os agricultores paraibanos em razão da estiagem prolongada.

O outro é o senador Cássio Cunha Lima, que recentemente lembrou ao governo federal que “a presente calamidade climática só será amenizada após conclusão definitiva da transposição (das águas do São Francisco para o Nordeste setentrional) e da sua rede de distribuição da água”.

Mas o culpado de tudo isso não é Dilma nem Ricardo ou algum prefeito que se exila do pequeno município que teve a desdita de elegê-lo. O culpado mesmo é um sistema meteorológico que atende pelo nome de Vórtice Ciclônico de Altos Níveis, que inibe a formação de nuvens de chuva e assim contribui para esticar a seca. Esse é o bicho que verdadeiramente não deixa chover no Nordeste, explicou-me ontem a Somar Meteorologia, empresa especializada em informações climáticas. Quem quiser saber mais, é só visitar a Somar no endereço tempoagora.com.br.