Seca já causa perda total

Rubens Nóbrega

Sendo ele uma das melhores fontes sobre realidade e atualidade do campo na Paraíba, recorri ontem ao Professor Antônio Carlos Melo para me atualizar sobre o que se passa no interior do Estado no momento em que o Nordeste enfrenta a sua pior seca dos últimos trinta anos.

Tema da coluna de ontem, volto à seca hoje em por conta justamente das informações que me foram repassadas por esse agrônomo que já ocupou cargos estratégicos no Governo Federal, no Estado e acumula respeitável experiência em defesa e apoio aos nossos agricultores e criadores.

Em razão do pedido que lhe fiz anteontem por i-meio, ele manteve contato com Liberalino Ferreira, presidente da Federação dos Agricultores da Paraíba (Fetag-PB). Com base no que conversaram, traçou para a coluna o seguinte panorama da seca em nosso Estado:
na região do Médio e Alto Sertão, o quadro de seca já está configurado, com 100% de perdas das culturas de milho e feijão;

já temos perda de animais com fome e sede em algumas localidades sertanejas, pois vários mananciais apresentam declínio no armazenamento; no Brejo e Cariri, onde as chuvas já deveriam ter caído, nada se viu até agora e muitos agricultores nada plantaram porque perderam por completa a esperança na ocorrência de chuvas proveitosas ainda este ano.

“É triste a situação de quem ainda vive do campo em nosso Estado, pois, além da costumeira falta de chuvas, temos no atual Governo a total falta de ações que garantam sustentabilidade a esta gente tão sofrida”, emendou o Professor Antônio.

Mantendo a postura crítica e a independência de sempre, além de ajudar na compreensão dos efeitos da seca em nosso território, o técnico relembrou que para agravar o quadro atual a Paraíba vem sofrendo com o “total descontrole da febre aftosa”.

Diz tal coisa com autoridade e base no índice de cobertura da última campanha de vacinação contra a doença, realizada em novembro de 2011. O Estado cobriu apenas 70,2% do gado, muito aquém do exigido pelo Ministério da Agricultura, que é no mínimo de 90%.

“Uma vergonha, portanto, e por isso continuo achando que o tão propalado crescimento da Defesa Agropecuária do Estado é para baixo, feito rabo de cavalo”, arremata, referindo-se aos reiterados pronunciamentos do governador Ricardo Coutinho sobre melhorias que diz ter proporcionado à Defesa Agropecuária.

Governo libera R$ 500 milhões

Em discurso anteontem à tarde da tribuna, o senador Vital do Rêgo cobrou ações imediatas do próprio Senado, do Governo Federal e dos governadores do Nordeste no sentido de adotarem providências que reduzam ao máximo os efeitos da seca sobre nordestinos em geral e paraibanos em particular.

Nos bastidores, Vital vinha atuando junto ao Ministério da Integração Nacional pela liberação de recursos emergenciais para as áreas mais castigadas pela seca. Deu certo. No começo da tarde de ontem, o senador colhia o resultado de suas gestões e anunciava a liberação, via Medida Provisória, de R$ 500 milhões para o Nordeste.

Já na Câmara, quem se pronunciou também anteontem sobre o drama foi o deputado Wilson Filho, que anunciou coleta de relatórios de todos os municípios onde a seca é mais aguda para formar e entregar um dossiê ao Ministério, incluindo entre seus dados a constatação segundo a qual “há lugares no interior da Paraíba que estão sem água há mais de um ano”.

O deputado vai, inclusive, pautar o assunto na sessão deliberativa que a Comissão da Integração Nacional, da qual é presidente, realizará hoje na Câmara.

A Emater faz a sua parte

Faltou, na coluna de ontem (‘Seca piorando e o governo, ó!’), ressalvar e ressaltar que ao lado de organizações como a Asa (Articulação do Semi-Árido) os agricultores paraibanos podem contar com o trabalho da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
Sucedânea da velha Ancar de guerra, na qual o Professor Vicente Nóbrega e tantos outros técnicos da melhor qualidade militaram, a Emater vem realizando atualmente suas Jornadas de Inclusão Produtiva, abertas quinta-feira passada, dia 12, em Pocinhos.

Na sexta-feira 13, foi a vez de Capim, no Litoral Norte; e do Conde, anteontem, no Litoral Sul. Amanhã, tem jornada em Queimadas, dia 25 em Marcação, dia 26 em Alhandra e Barra de Santana, 27 em Mataraca e 30 em Cabaceiras.

Nas jornadas da Emater acontecem a Feira da Agricultura Familiar, palestras focadas nos problemas locais e orientação sobre crédito fundiário, Programas Empreender e Cooperar e comercialização de produtos via Programas Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e de Aquisição de Alimentos (PAA).

Resumindo, a Emater continua positiva e operante. Faz a sua parte, muitas vezes como pode e dá. Porque nem sempre dispõe dos instrumentos e recursos que precisa e merece para realizar assistência e extensão rural com a qualidade que é capaz de produzir.