Se a imagem que Eduardo Campos tinha em vida fosse igual a que ele tem depois de morto, pouco lhe faltaria para ser presidente da República

EDUARDO CAMPOS, A MORTE E A PB

Gilvan Freire

campos e rico

Se a imagem que Eduardo Campos tinha em vida fosse igual a que ele tem depois de morto, pouco lhe faltaria para ser presidente da República. Lógico que tudo quanto se diz e se mostra dele tem agora um sentido emocional suplementar, visto pelo olhar da complacência e da comoção, dois elementos de endeusamento e divinização  dos homens diante de seu fim trágico. Poucos homens conseguem isso em vida, a não ser um tipo como Mandela e João Paulo II, só para lembrar duas figuras dos tempos recentes. Mas num e noutro caso, a comoção foi diferente, movida a compreensão do povo pelo fim natural da vida bem vivida, fenômeno que ocorre mais comumente em qualquer lugar.

No caso de Eduardo Campos, a tragicidade e a morte precoce abalam as pessoas e dão-lhes a sensação de perda, especialmente quando se trata de um aspirante à presidência do país e tem (como ele tinha) uma origem familiar saudável e sólida formação política. Na verdade, o sentimento do povo é de comoção e frustração, porque de repente ele foi descoberto como o melhor candidato, mas quando o eleitor precisa votar nele não o encontra.

 

Mas é impressionante como as qualidades humanas de Eduardo estão realçadas pela mídia,bem como sua personalidade política, o que nos leva à conclusão de que um líder como ele de modo algum conseguiria se mostrar tão bem aos eleitores durante uma campanha, terminando por não ser acolhido pelas virtudes excepcionais (somente agora reveladas integralmente) que tinha como candidato. Ou seja, talvez perdesse na disputa somente por que não conseguia demonstrar ao povo o que efetivamente era.

 

O que surpreende, porém, é que o povo já estava olhando para ele com um ar de curiosidade e atenção, querendo conhecê-lo melhor, talvez por causa dele ser nordestino, uma espécie brasileira que somente vence no Brasil depois que derruba muros de preconceitos e sobe montanhas de adversidades, como fez Lula. Nesse sentido, a morte de Eduardo equivale a ele ter caído da montanha perto do topo, e com ele ter desabado uma parte dos sonhos e do povo do Nordeste. Quase todos nós despencamos com ele.

 

                        A PARAÍBA SEM EDUARDO

 

Se Eduardo Campos tivesse um Cássio a seu lado, certamente iria ter uma votação grandiosa na Paraíba, não tivesse ele morrido. De alguma forma eles se pareciam muito, como se parecem com Aécio Neves, Beto Richa do Paraná e Luiz Eduardo Magalhães, que morreu precoce do coração, os novos líderes de linhagem familiar que o país preparou para exercerem grandes papeis nas últimas décadas.

 

De outro lado, foi também muito lastimável que os dois governos de Eduardo Campos em Pernambuco não tenham transcorrido com Cássio no governo da Paraíba, a fim de que ambos, com a identidade e amizade que tinham e a percepção integral da realidade nordestina, pudessem promover um projeto sincronizado de desenvolvimento regional. Como Eduardo terminou fazendo sozinho na divisa dos dois Estados, enquanto a Paraíba ficou só olhando, embora se beneficiando.

 

Alguém já imaginou se a Paraíba puder se aproveitar deste vazio deixado pela ausência de Eduardo Campos e fizer para a frente uma marcha até a divisa com Pernambuco para receber e continuar a obra de Eduardo? Basta saber que isso é possível agora, depois que Eduardo Campos fez a parte dele. Pena que ele não esteja vivo para ver. E ajudar.