Flávio Eduardo Maroja – Fuba
O arrependimento é uma forma de reconhecer um erro levando em consideração a humildade presente em seu coração. Se não existe humildade, não existe arrependimento. Se não existe arrependimento, não existe perdão. Se não existe perdão não tem como dar alivio a própria consciência. Já vi muita gente dizer: ”não me arrependo do que fiz e sim do que deixei de fazer”, mas sempre será um gesto de grandeza assumir os seus próprios erros e, se for o caso, arrepender-se. Eu mesmo já me arrependi de muitas coisas na vida. Arrependi-me de não ter ido morar na Europa com tudo pago e por um ano. Arrependi-me de ter acreditado em um projeto político e emprestado o hino das Muriçocas para uma campanha eleitoral arriscando minha própria história. Arrependi-me de ter confiado em pessoas que diziam serem amigas quando me apunhalavam pelas costas. Por tudo isso é pertinente se arrepender. Faz parte do crescimento da vida e o que é melhor, não mata!
Se arrependimento matasse, no entanto, tenho certeza que muita coisa seria revista nessa cidade e nesse estado. A começar pelo processo eleitoral da última eleição. Ninguém em sã consciência colocaria no poder uma pessoa que não está apta a dialogar com as classes e segmentos que compõem uma sociedade. Ninguém em sã consciência colocaria no poder um governante que remete culpa a outras pessoas para justificar a sua própria intransigência. Ninguém em sã consciência colocaria no poder um governo que diz ser progressista e persegue jornalistas e profissionais da imprensa vetando a liberdade de expressão.
Se arrependimento matasse, policiais, professores, artistas, servidores públicos, empresários, médicos, engenheiros, profissionais liberais, ambulantes e tantas outras pessoas não estariam reféns de um governo que hoje centraliza suas ações penalizando o povo que o elegeu.
O governador de hoje não é o mesmo político de ontem. O conheci defendendo causas importantes de professores, médicos, policiais e ambulantes. Ouvi muitas vezes sua voz ecoar em defesa dos mais necessitados. Vi outras vezes, ao lado de estudantes, cobrando justiça contra o aumento de passagens ou simplesmente reivindicando um benefício maior para um segmento qualquer. O governador de hoje, era um grevista de primeira! Denunciava como nunca qualquer irregularidade proveniente do poder público e era defensor nato dos movimentos sindicais. Já o vi invadir palácios, gabinetes e órgãos públicos ameaçando e incentivando a quebrar inclusive o nosso próprio patrimônio. Tudo por uma causa maior!
O governador de hoje mudou. E muito! Não é mais aquele vereador defensor das causas populares ou contra as injustiças sociais. Seu nome está associado a escândalos, perseguições, falta de diálogo, intransigência, contradições, cooptação e descaso com os demais poderes. Seja na boca do povo, na revista Veja desta semana, no noticiário televisivo local ou nacional, começam a aparecer o oposto de quem até então só pregava o discurso da transparência e da moralidade. Enquanto isso o feijão continua faltando na mesa dos mais necessitados.
Aproveitando o ditado popular “quer conhecer um homem lhe dê o poder”, não seria diferente se hoje, esse mesmo homem que tanto defendeu as causas populares tenha se embriagado pela força passageira do poder e mergulhado nas ilusões e contradições de um cargo de governante. É fácil gozar na benevolência dos outros ou mentir em causa própria para beneficiar o que lhe convém. O difícil é se arrepender!
Se arrependimento matasse teríamos hoje um exército de mortos, espremidos pela mentira e a falta de reconhecimento a qualquer tipo de sentimento e gratidão. Se arrependimento matasse não haveria arrependimentos! Apenas sobreviventes…