Santiago tenta aproximação com Cássio

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Nonato Guedes

Recém-filiado ao PTB, depois de deixar os quadros do PMDB, o ex-senador Wilson Santiago começa a fazer acenos com vistas a uma aproximação com o senador Cássio Cunha Lima (PSDB). Ele pretende disputar o Senado, numa composição em apoio à candidatura do governador Ricardo Coutinho à reeleição, com a qual Cássio se diz comprometido se houver espaços para o PSDB. Santiago sabe que o governador tem Cássio como um dos principais cabos eleitorais da sua campanha para voltar ao Palácio da Redenção em 2014. Cunha Lima, entretanto, não demonstra interesse em alinhar-se com Wilson. Há mágoas resultantes da campanha eleitoral de 2010, quando Santiago concorreu ao Senado pelo PMDB e Cássio pelo PSDB.

O PMDB, na época, moveu céus e terras para impedir o registro da candidatura de Cássio, invocando o fato de que ele fora cassado em 2009 no exercício do governo por suposto abuso de poder e prática de conduta vedada a agentes políticos. Cássio fez a campanha praticamente sub-judice, com a espada de Dâmocles apontada para sua cabeça. Tornou-se o mais votado, num páreo acirrado, obtendo pouco mais de um milhão de votos. Mas ações na Justiça levaram o Tribunal Regional Eleitoral a postergar a totalização de votos, e foram investidos nas duas cadeiras em jogo o senador Vital do Rego (PMDB) e Santiago, que ficara em terceiro lugar. Cássio recorreu e só depois de onze meses teve assegurado o direito legítimo de assumir, quando o Supremo Tribunal Federal entendeu que os efeitos da Lei Ficha só teriam validade a partir de 2012, não se aplicando às eleições de 2010.

Cássio, que já havia ficado indignado com a cassação à frente do Executivo, dizendo ter sido vítima do maior erro judiciário já cometido no país, protestou com mais veemência ainda ao ser impedido de assumir o Senado, sendo substituído por Wilson Santiago. Chegou a afirmar que ocorrera uma usurpação da vontade popular e que o então peemedebista estava ocupando a sua vaga indevidamente. Santiago ganhou prestígio dentro do Congresso, chegando a fazer parte da Mesa Diretora do Senado e sendo indicado como um dos representantes na delegação brasileira no Parlasul, o Parlamento do Mercosul, com sede em Montevidéu, no Uruguai. Cássio conseguiu, enfim, garantir sua posse e não deixou de lamentar o tempo perdido por causa de equívocos de interpretação judicial. Data daí a sua animosidade com Santiago.

Como senador, o ex-governador Cássio Cunha Lima familiarizou-se rapidamente com a Casa e conseguiu projetar-se em discursos na tribuna ou em atuação em Comissões influentes do Congresso. Defenestrado do mandato, Wilson Santiago se reapresentou à Defensoria Pública do Estado, em cujos quadros era lotado e recebeu missões do governador Ricardo Coutinho para equacionar pendências de interesse da Paraíba nas esferas federais, em Brasília. Mais tarde, começou a queixar-se de falta de espaços e de prestígio dentro do PMDB, que havia lançado a pré-candidatura do ex-prefeito Veneziano Vital do Rego ao governo do Estado para o próximo ano. O presidente do diretório regional do PMDB, José Maranhão, deixou claro que o pré-lançamento de Veneziano era consensual e tinha a chancela de líderes peemedebistas nacionais, como o vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente em exercício da agremiação, Valdir Raupp (RO).

Wilson tentou se articular, então, para conseguir ser indicado candidato à única vaga de senador que estará em disputa no próximo ano, mas não encontrou receptividade dentro da legenda, havendo rumores de que o próprio Maranhão possa vir a ser candidato. Insatisfeito e ao mesmo tempo obstinado em dispor de espaços próprios, Wilson passou a tricotar alianças que favorecessem seu projeto. Recebeu ofertas de alguns partidos e acabou se decidindo pelo PTB, que prometeu-lhe a presidência do diretório regional do partido e campo livre para participar da disputa majoritária no próximo ano. O acordo teve a anuência do suplente de deputado federal Armando Abílio, então presidente do diretório regional, que concordou em passar o bastão a Wilson. O deputado federal Wilson Filho continua no PMDB e avalia a situação, diante da ameaça de setores do partido de reivindicarem o seu mandato se ele migrar, também, para o PTB. Concretamente, Santiago convenceu a cúpula petebista a valorizá-lo invocando a liderança que teoricamente exerce junto a prefeitos e lideranças de vários municípios, principalmente na região do sertão. O complicador passa a ser, agora, a sua junção com Cássio no mesmo palanque de Ricardo Coutinho. Cunha Lima mantém o ponto de vista de que não se dispõe a essa convivência, apesar dos acenos de Santiago de que não possui diferenças com ele.