Santiago já sofre cobrança de petebistas

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Nonato Guedes

Investido há pouco tempo na presidência do diretório do PTB na Paraíba, onde foi saudado com alvíssaras e evoés, depois de se desligar do PMDB, o ex-senador Wilson Santiago começa a enfrentar cobrança de filiados quanto à prática do diálogo que prometeu exercitar e democratização das decisões internas. Mais ainda: quanto às definições do partido para as eleições do próximo ano. A esse respeito, as dúvidas são cruciais: o PTB terá candidato próprio ao governo ou vai se compor com Ricardo Coutinho, Veneziano Vital do Rego ou com petistas e pepistas? Wilson será o candidato partidário ao Senado? Quando será deflagrado, para valer, o processo de fortalecimento da legenda?

Pelo menos um dos petebistas insatisfeitos assumiu atitude contestatória: o deputado estadual Carlos Dunga, que, depois de uma renhida luta judicial, conseguiu efetivar-se no mandato titular na Assembléia Legislativa. Ele se queixou, pela imprensa, de que não foi sequer convidado para a cerimônia de investidura do novo presidente do diretório, que sucedeu ao suplente de deputado federal Armando Abílio. Dunga reclama, também, da indefinição e da ausência de um planejamento sistemático por parte de Wilson Santiago, que teve o aval do presidente nacional em exercício, Benito Gama, para assumir o comando da legenda trabalhista. “Na minha opinião pessoal, ele (Santiago) ainda não disse a que veio”, estrilou Carlos Dunga. Uma outra questão pendente diz respeito ao empenho de Armando Abílio para assumir a titularidade na Câmara Federal, ainda que por alguns meses. Abílio sustenta que uma das condições para passar o bastão a Santiago foi a de ascender à titularidade, no mandato exercido pelo deputado Wilson Filho.

Até agora, contudo, as tratativas nesse sentido não evoluíram favoravelmente. Wilson Filho, que continua filiado ao PMDB, mesmo sofrendo hostilidades, como alega, mas devido a uma razão estratégica – o receio de perder o mandato, que poderia ser reclamado na Justiça – chegou a afirmar que não havia compromisso de se licenciar para que Abílio assumisse. Diante da reafirmação de Armando de que o compromisso houve, o jovem parlamentar recolheu-se em copas e evitou dar prosseguimento à polêmica. Seu pai chegou a dizer que ele faria um curso de estudos políticos no exterior e que, nessa ocasião, Armando seria contemplado com a titularidade. Providencialmente, ninguém falou em prazos.

No interior do Estado, segundo o deputado Carlos Dunga, há um ambiente de insatisfação de lideranças petebistas diante do cenário indefinido que a legenda enfrenta. “Enquanto outros partidos já estão se articulando, ainda que nos bastidores, com vistas a atrair parceiros para composições no pleito de 2014, o PTB mantém-se paralisado, sem qualquer ofensiva que possa sensibilizar correligionários que são importantes para o projeto futuro da agremiação”, protesta ele. Dunga confessa-se saudosista de uma época em que as coisas eram mais claras dentro do petebismo, tanto na sua gestão à frente da legenda como na gestão de Armando Abílio até recentemente. “As divergências sempre foram resolvidas de forma transparente”, explica o parlamentar.

Santiago deu a entender que o seu ingresso no PTB provocaria um tropismo em demanda da legenda, com filiações de lideranças municipais que, teoricamente, seguiriam a sua orientação. Ainda agora, ressalta que está organizando um cronograma de reuniões que deverão registrar filiações importantes. Mas os petebistas com mais tempo de permanência estranham a demora no deslanche da referida ofensiva, e confidenciam que na própria Assembléia Legislativa não há manifestações de interesse em filiação à agremiação. Também os segmentos jovem e feminino do partido começam a se inquietar com a falta de ações efetivas. Santiago não é considerado um político neófito. Tem uma longa trajetória, passando por partidos como PDT e PMDB e por mandatos como deputado estadual, deputado federal e até senador, por cerca de onze meses. Foi encarado pela cúpula nacional como a alternativa para oxigenar os quadros petebistas. Mas, como acentua Carlos Dunga, ainda não disse a que veio, o que é endossado por outros trabalhistas sequiosos de definições.