Ronaldo e Augusto

Rubens Nóbrega

foto

O Senado Federal vai dedicar o próximo dia 18 à Paraíba. Primeiro, às 18h30, realizará sessão especial pelos 50 anos de poesia e política de Ronaldo Cunha Lima, que naquela data completaria 77 anos se ainda estivesse rimando por aqui. Logo após, às 20h, no Salão Negro, lançamento da primorosa edição comemorativa do centenário do ‘Eu e outras poesias’, de Augusto dos Anjos.

A homenagem ao poeta que foi vereador, deputado, prefeito, governador e senador é obra do senador Cícero Lucena. Já o livro-homenagem aos cem anos do ‘Eu’ é obra da importância do autor somada ao prestígio do senador Cássio Cunha Lima, que propôs ao Conselho Editorial do Senado e conseguiu aprovar junto àquele colegiado uma edição diferenciada do padrão e estilo dos quais a poderosa Gráfica da Casa – onde o livro foi impresso – dificilmente abre mão.

Em vez do modelo tradicional, de capas nas quais o leitor divisa de pronto a logomarca ou brasão do Senado, no caso dessa edição do ‘Eu’ foi aberta, digamos, uma evidente exceção. Certamente porque os membros do Conselho Editorial compreenderam ou já tinham a dimensão da relevância da obra de um poeta igualmente excepcional, único na história da literatura universal.

De modo que a edição saiu tal e qual aquela organizada, patrocinada e publicada por Orris Soares em 1920, considerada a melhor com que foi contemplada a singular e mundialmente consagrada criação genial de Augusto dos Anjos, da qual o próprio Ronaldo Cunha Lima foi um dos maiores cultores e divulgadores.

Gonzaga e Ângela

Detalhe importantíssimo, fundador e decisivo nessa história: a belíssima réplica da edição de 20 preserva, inclusive, a grafia original de todos os poemas. Devemos isso ao esforço intelectual e ao mesmo tempo quase artesanal empreendido ano passado pelo escritor Gonzaga Rodrigues, então presidente da Academia Paraibana de Letras (APL), com o auxílio luxuoso da também escritora Ângela Bezerra de Castro.

Na retaguarda desse trabalho, é dever prazeroso registrar que o livro do Senado e da Academia resulta também da competência de Juca Pontes no projeto editorial, de Milton Nóbrega no projeto gráfico, de Allan Melo na editoração, de Martinho Moreira Franco na revisão e de Juliana Peixoto na digitação. De tudo isso – mais a qualidade de impressão da Gráfica do Senado – só podia sair um primor de edição, digna mesmo da grandiosidade do ‘Eu’ e do seu criador.

Pra fechar esse firo, outro pormenor de bastidores que merece vir a público em feitio de agradecimento e reconhecimento ao inteligente que trabalhou bem para dar à Paraíba e ao Brasil a magnífica reedição do ‘Eu e outras poesias’. Refiro-me ao intelectual e advogado Irapuan Sobral, que assessorou magistralmente o senador Cássio na articulação entre Academia, Conselho Editorial e Gráfica do Senado.

Irapuan, Campello…

Não pensem ser tarefa fácil botar uma cria dessas no mundo. Considerem o volume de material a ser impresso e a agenda de uma gráfica como a do Senado, o trabalho que dá mexer em posições arraigadas e referenciais imutáveis que permeiam o mundo intelectual e seus egos monumentais e, no final do processo, a gestão de vaidades que é preciso fazer para o lançamento, transformado em rito de passagem a que inevitavelmente se submete uma obra dessa magnitude para chegar às mãos e olhos de seu verdadeiro dono, ou seja, o público leitor.

Tive o privilégio de acompanhar todo esse processo por deferência especial do Doutor Irapuan e do próprio Gonzaga, que mantiveram o colunista informado sobre procedimentos, encaminhamentos e andamentos da obra.

Daí tomo a liberdade de adicionar nos créditos mais justos e devidos por esse bem fazer os nomes de mais três figuras de proa nessa história: os editores Campello Marques, José Francisco e Esmeraldo Braga, este paraibano de Sousa e autor do imperdível ‘Danação em terra quente’, romance que frequentava a cabeceira de ninguém menos que José Américo de Almeida.

Sarney, Renan…

A realização da sessão especial em homenagem a Ronaldo, falecido em 7 de julho de 2012, foi aprovada pelo Senado no dia 26 de fevereiro último. A ela deverão comparecer os principais dirigentes e lideranças da Casa, a começar pelo atual presidente Renan Calheiros e o ex-presidente José Sarney, que se juntarão a autoridades da Paraíba, familiares e amigos do homenageado.

Esse mesmo público prestigiará o lançamento da edição comemorativa dos cem anos do ‘Eu e outras poesias’, que também levará a Brasília o atual presidente da Academia Paraibana de Letras, Damião Ramos Cavalcanti, o ex-presidente Gonzaga Rodrigues e a acadêmica Ângela Bezerra de Castro, uma das maiores estudiosas e conhecedoras da obra de Augusto dos Anjos.

Na minha expectativa, antevejo uma tarde-noite inesquecível, de muito brilho, emoção e congraçamento entre paraibanos de diversos naipes, tendências e preferências. Políticas ou literárias. Algo, enfim, que somente a obra de um Augusto ou a história de um Ronaldo conseguiria reunir no mesmo espaço, na mesma data e sob as mais nobres motivações.