Rômulo pode emplacar como vice na reeleição

Nonato Guedes

Há um movimento subliminar, da parte de algumas lideranças políticas, para incensar o vice-governador Rômulo Gouveia (PSD) e emplacá-lo no mesmo lugar na chapa do governador Ricardo Coutinho (PSB), que disputará a reeleição em 2014. Rômulo, ultimamente, vinha emitindo sinais de que estava ‘deslocado’ no cenário pelo qual saiu vitorioso em 2010, numa composição articulada conjuntamente por Ricardo e pelo senador Cássio Cunha Lima. Na época, atuando como deputado federal e filiado aos quadros do PSDB, Rômulo foi surpreendido em Brasília, quase à undécima hora, com um telefonema convidando-o a vir à Paraíba participar de uma chapa majoritária em que teria posição de destaque. Seu projeto incluía, até então, a hipótese de se recandidatar à Câmara Federal.

Não teve, porém, como recusar o assédio para ser vice de Ricardo, na chapa completada com Cássio ao Senado, tendo como suplente o empresário José Gonzaga Sobrinho (Deca do Atacadão). Rômulo fez rápidas consultas, principalmente, no círculo familiar, e ficou acertado que sua mulher, Eva, seria candidata a deputada estadual. A chapa majoritária foi vitororiosa, e Eva Gouveia ocupa mandato na Assembleia Legislativa. Em pouco tempo, Rômulo resolveu desfiliar-se do PSDB alegando desprestígio. Não teria recebido, sequer, um telefonema de cumprimento, por parte de membros da cúpula nacional, pela sua investidura no cargo de vice-governador do Estado da Paraíba. Por esse tempo, o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, articulava a criação de mais uma sigla partidária, que tomou o nome do PSD, legenda que polarizava com a UDN a influência política no país antes do estouro do regime militar de 64, que obrigou a implantação do bipartidarismo. O PSD de Kassab tenta se estruturar, a nível nacional, para uma presença mais competitiva, se possível até na disputa presidencial, embora não estejam claras as alianças que possa fazer nem os protagonistas que possa apresentar. Nos Estados, contudo, a situação é de melhor acomodação, teoricamente.

Na Paraíba, “em off”, Rômulo passou a se queixar de um fato diferente: a falta de espaços ou visibilidade no governo Ricardo Coutinho, que, por estilo, é centralizador. Isto já levou o vice-governador a cogitar a alternativa de sair candidato a senador ou a deputado federal. Chegou a argumentar, numa das entrevistas, que entendia ser a vaga de propriedade legítima do PSDB, pelo qual foi indicado em 2010. Estando ele no PSD, como está, pode parecer um estranho no ninho, cabendo-lhe, então, a missão de deixar o governador inteiramente à vontade para processar as alterações que julgar conveniente na formação da chapa para 2014. Rômulo é presidente do diretório estadual do PSD, e se sente bem na legenda.

Mas o seu pretenso sub-aproveitamento como vice-governador viria lhe causando incômodos, daí a origem dos desabafos sobre reavaliar projeções para a disputa do próximo ano. Ele não chegou a externar, de forma ostensiva, esses comentários, mas repassou-os de forma subliminar, o que acendeu luzes amarelas na constelação que ungiu Ricardo e Cássio em 2010. Em paralelo, surgiram rumores de que Ronaldo Cunha Lima Filho, irmão de Cássio e eleito vice-prefeito de Campina Grande no segundo turno de 2012, na chapa encabeçada por Romero Rodrigues, poderia vir a substituir Rômulo como vice de Ricardo em 2014. Cássio entendeu que a disseminação dos boatos causaria problemas de acomodação interna e decidiu “prestigiar” Rômulo, exaltando suas qualidades e a postura que tem tido na vida pública da Paraíba. O mesmo elogio partiu do governador Ricardo Coutinho, que, por coincidência ou não, nas últimas horas delegou missões ao vice para representá-lo em São Paulo num evento de empresários e autoridades de destaque. Não houve declaração oficial do governador sinalizando para a continuidade de Rômulo na chapa, mas Ricardo tem sido prudente a esse respeito, até porque pretende decidir em conjunto com o senador Cássio Cunha Lima. Em todo o caso, as referências que passou a fazer ao vice estancaram, momentamente, sinais de insatisfação que poderiam tomar corpo, ainda que de forma velada. A expectativa nos meios políticos volta-se, agora, para os desdobramentos concretos do enredo, em 2014.