Romero radicaliza contra Veneziano e condena “herança maldita”

Nonato Guedes

O prefeito recém-empossado de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSDB), não dá trégua ao antecessor Veneziano Vital do Rego (PMDB), a quem acusa de ter legado uma herança maldita, com pagamentos de servidores e fornecedores atrasados e sem saldo em caixa para a concretização de obras. O coro ensaiado por Romero é repetido à exaustão pelo vice-prefeito Ronaldo Cunha Lima Filho e pelo próprio senador Cássio Cunha Lima. Ambos têm vocalizado que Veneziano deixou uma situação de descalabro e não faltam insinuações de incompetência gerencial por parte do peemedebista. Veneziano tem partido para a contra-ofensiva, concedendo entrevistas a emissoras de rádio em João Pessoa e em outras cidades, nas quais procura desmistificar o que chama de orquestração dos adversários para desconstituir a sua imagem.

O pano de fundo, de acordo com o desabafo de Veneziano, seria o de queimá-lo para as eleições ao governo do Estado em 2014, quando o ex-gestor deverá concorrer pelo PMDB, conforme garantia já dada pelo presidente do diretório regional, José Maranhão, e até por lideranças nacionais da agremiação. Não há possibilidade mínima de consenso entre Romero e Veneziano sobre a extensão das dificuldades que teriam sido deixadas. Até porque não se processou uma transição transparente, nos moldes do que foi recomendado em cartilha do Tribunal de Contas do Estado para administradores em fim de mandato. Veneziano chegou a formar uma equipe incumbida de repassar informações, mas Romero sempre manteve desconfiança em relação a dados fornecidos ou alardeados. Ao se investir no cargo, ofereceu seu próprio diagnóstico: a situação é absolutamente caótica, e exigirá muita habilidade dele e da equipe para corrigir anomalias e drenar gargalos que estariam enquistados na máquina de poder local.

Romero Rodrigues, nas últimas horas, anunciou medidas drásticas de contenção de despesas, atingindo, especialmente, servidores públicos que seriam detentores de contratos precários ou irregulares com a prefeitura de Campina. As medidas de austeridade estenderam-se a empresas que haviam sido contratadas para executar obras na Rainha da Borborema. A equipe do novo prefeito teria identificado falhas gravíssimas que precisam ser equacionadas, se for possível recorrendo-se a instâncias judiciais. O prefeito tucano e os seus aliados se dizem estarrecidos com a radiografia repassada pelo antecessor, que se jactava, até então, de ter empreendido uma gestão revolucionária e inovadora, valendo-se da correta aplicação dos recursos públicos disponibilizados por Lei ou mediante convênios e parcerias que se firmaram nos dois períodos de mandato.

O senador Vital do Rego, irmão de Veneziano, também assume ostensivamente a defesa dos seus atos e critica o que chama de “pescadores de águas turvas”, apontando uma manobra diversionista no sentido de anestesiar a população campinense em relação a metas que ainda não foram colocadas em prática pelos novos administradores. O clima é de tensão permanente, amplificado nos meios de comunicação, em que há um revezamento de Romero de Veneziano para a veiculação de subsídios em torno da verdadeira situação administrativa. Independente do fogo cruzado, Romero assegura que não abrirá mão de executar prioridades que foram traçadas durante a campanha eleitoral, prometidas à opinião pública e alicerçadas com a vitória consagradora nas urnas, em que ele derrotou a médica Tatiana Medeiros, candidata “in pectoris” de Veneziano.

O novo gestor campinense está apostando fichas na relação com o governo do Estado para fazer deslanchar projetos idealizados para favorecer a população. O governador Ricardo Coutinho tem procurado corresponder a essa expectativa. Compareceu a Campina Grande para reforçar o mutirão da limpeza das vias públicas e tem reafirmado a disposição de colaborar com a gestão tucana. O seu argumento é o de que foi restabelecida a convivência institucional que, a seu ver, só pode acarretar benefícios para a população. O relacionamento de Veneziano com Ricardo foi bastante problemático, e o ex-prefeito queixa-se que não foi atendido num elenco de reivindicações que compilou e submeteu à apreciação do chefe do Executivo estadual.