Roberto, o rei do shopping, perdeu a coroa

Gilvan Freire

A construção do Shopping Intermares, a surpreendente noticia que a TV Tambaú guardou a sete chaves durante um bom tempo e soltou semana passada como se fosse uma poderosa bomba dos rebeldes sírios no local mais inexpugnável da Damasco protegida por forças leais ao governo tirano e corrupto de Bashar al-Assad, é a estratégia mais bem sucedida, nos últimos anos, da parte de grandes empreendedores de fora e de dentro da Paraíba que desejam dotar João Pessoa de um Shopping moderno e amplo, que pudesse ser fruto do capital e do trabalho limpos e da obediência às leis e processos administrativos decentes.

A Marquise, um conglomerado de capital cearense mas presente na Paraíba há anos, dona da TV Tambaú, do novo empreendimento e de outras empresas sólidas, entregará daqui a dois anos um grandioso Shopping em Intermares, município de Cabedelo, ao lado da pista duplicada da BR 230, área antes blindada pela corrupção a fim de que ninguém pudesse concorrer construindo outro shopping para disputar o mercado com Roberto Santiago – o empreendedor voraz que comprou homens públicos ao longo dos anos para que pudesse ter o monopólio do Manaíra no mercado metropolitano e bancar preços predadores de alugueis em que centenas de inquilinos se submetem sem alternativa.

Qualquer que tenha sido o custo político dessa segredada operação da Marquise em Cabedelo, a fim de conseguir furar o bloqueio da legislação municipal local, sempre alterada para evitar que algum desavisado tentasse construir um shopping concorrente de Roberto, o resultado do desbloqueio é uma grande vitória da população metropolitana e do setor de comércio. Enfim, aparece alguém capaz de desafiar e vencer Roberto Santiago, o poderoso ricaço que ajoelhava governantes e legisladores diante de seus encantos financeiros. Abalou-se, é possível, os alicerces do templo da promiscuidade e do incesto entre homens públicos privados e um empresário nada republicano em sua forma de convencer os cediços de que para lhe fazer bem e fortuna basta que se proíba alguém de concorrer com ele.

Ninguém sabe se por amor ou repulsa a quem, por qual interesse nobre ou menor, Cabedelo derrubou a muralha da indecência e liberou o ventre da terra para que ali fecundasse a livre concorrência, mesmo que Roberto Santiago já tenha gastado fortunas para manter a cidade e João Pessoa sob regime de escravidão moral.

Houve poucos momentos antes nessas cidades gêmeas em que os homens públicos locais estiveram tão deprimidos e envergonhados por causa do jugo que impuseram ao povo à custa de favores indevidos. Em Cabedelo, por exemplo, muitos tiveram de mudar de opinião e de parceiro, à preço de sacrifícios compensadores, para que a obra do dever político pudesse ser realizada. Mas ainda há resistência.

Certamente o empresário Roberto Santiago, ícone de RC, de quem recebeu doações em terras públicas e favores injustificáveis do Estado (que, como se vê, nenhum outro grande empreendedor busca, por zelo à imagem), perde de um lado mas ganha do outro. Do ponto de vista conceitual, Roberto poderia nascer agora como agente comercial da praça metropolitana, e, milionário como já é, aprenderia a disputar seu preço com seus legítimos concorrentes, reavaliando suas práticas para não sucumbir a falta de proteção do poder público.

Por outro lado, com seus flancos abertos e seu templo desguarnecido da proteção do governo do Estado e dos dois municípios, Roberto Santiago passa a ter, ainda assim, grandes ganhos em escala de economia. Como? – Todos deverão está perguntando, já suspeitando do que se trata. Mas, eu conto depois.