Roberto e o Aeroclube

Rubens Nóbrega

O empresário Roberto Santiago, dono do Manaíra Shopping e, segundo um amigo meu, também “do coração republicano de Ricardo Coutinho”, garante que nada tem a ver com a tentativa do prefeito Luciano Agra de desapropriar o Aeroclube de João Pessoa a preço de banana.
Para quem não sabe, esqueceu ou faz de conta que não lembra, estou me referindo à desapropriação de um imóvel que a preço de mercado valeria hoje uns R$ 200 milhões, mas na avaliação da Prefeitura da Capital sairia por ‘míseros’ R$ 5 milhões.
Roberto Santiago nega ainda, veementemente, ter orientado, solicitado, estimulado ou ajudado de alguma forma a invasão e a destruição da pista do aeródromo em 22 de fevereiro de 2011, ações perpetradas por homens e máquinas a serviço do prefeito Agra e, suspeitam as vítimas, de negócios nada republicanos.
O primeiro aniversário do ataque ao Aeroclube foi objeto da coluna de ontem (‘O Dia da Infâmia’) e da conversa que mantive anteontem com o empresário, tido por muitos como maior interessado na transformação daquela área em um parque municipal.
Conversamos por telefone. De cara, ele deixou claro que não passaria de lenda urbana a história segundo a qual queria a todo custo e a qualquer preço evitar a venda do terreno do Aeroclube a um grupo disposto a construir um grande shopping center no local.
Adversários políticos do prefeito da Capital e do governador do Estado falam sem reservas ou receios que o proprietário do Manaíra teria usado o seu indiscutível prestígio ou indisfarçada ascendência sobre Ricardo e Agra para impedir a possível concorrência.
Roberto Santiago sustenta, no entanto, que “para uma cidade do tamanho de João Pessoa, com dois shoppings tão próximos assim um do outro, os dois sairiam perdendo, inclusive porque dividiriam o público consumidor”. Nessa linha de raciocínio, um shopping no Aeroclube afrontaria a própria lógica comercial.
De outro lado, contudo, admite já ter ouvido falar no propalado interesse do Grupo João Claudino (Armazém Paraíba) na área. Mesmo assim, assegura mais uma vez, não teria feito qualquer pressão ou ingerência no Paço ou na Granja para obstaculizar o negócio.

NEM PRECISARIA…
Roberto Santiago fez menção a uma lei supostamente aprovada pela Câmara de João Pessoa em 2005 ou 2006 que proibiria substituir o Aeroclube por outra coisa que não fosse um parque, um bosque e, num quarto de terreno, casas e apartamentos.
O empresário não tem certeza da aprovação da lei pela Câmara, mas diz com muita convicção que iniciativa com aquele objetivo partiu da então vereadora Paula Frassinetti, que seguramente não tinha intenção de favorecer o Manaíra Shopping com o pretenso projeto.
De fato, Paula é um ícone do movimento ecologista na Paraíba e uma crítica contundente de obras como as expansões do Manaíra Shopping sobre terrenos de mangue. Além disso, como vereadora era ligadíssima ao à época prefeito Ricardo Coutinho, com quem Roberto Santiago “não se dava” (palavras dele) no começo da gestão ricardista no município da Capital.
Tentei e não consegui localizar nem falar com a Doutora Paula Frassinetti sobre o tal projeto de lei que ela teria emplacado na legislatura (2005-2008) em que foi titular de uma cadeira de vereadora na Câmara Municipal.
De qualquer modo, tais referências serviriam como prova de que a interdição ou remoção do Aeroclube só atenderia às expectativas do cidadão Roberto Santiago, jamais do empresário.
A propósito, ele manifestou a expectativa de que a mudança do Aeroclube para uma região de baixa ou nenhuma densidade populacional seria benéfica para todos, inclusive para o próprio equipamento, seus sócios e usuários.
Aproveitou, por fim, para rebater a insinuação de que auferiria ganhos extraordinários como corretor, dono de imobiliária ou de terrenos no entorno do Aeroclube, caso esse equipamento fosse retirado do Bessa e instalado em outro lugar.
O empresário possui uma quadra de 60 metros de frente na esquina da rua de acesso ao HiperBompreço, que se conecta com a avenida que contorna o Aeroclube. “Mas esse terreno é meu desde 1986 e hoje serve para depósito de material a ser usado ou já utilizado na expansão do Manaíra Shopping”, informou.


E A PARAÍBA, Ó…

O Professor Menezes mandou para Potinho de Veneno informações sobre o monumental aeroporto que o Rio Grande do Norte está construído com recursos federais e lamenta que estejamos condenados ao nosso limitado Castro Pinto.
“Talvez até fosse melhor mandar os tratores de Luciano Agra dar-lhe o mesmo tratamento que deram ao Aeroclube”, sugeriu. Diante de tal sugestão, Potinho resolveu perguntar ao Professor, com a cara mais lisa do mundo:
– Ué, e tem alguém querendo construir um shopping no lugar do nosso aeroporto, é?