POR: Roberto Cavalcante
Um amigo me confidenciou recentemente que ele e os irmãos cercavam a mãe, tão logo ela chegava em casa, para enredar uns dos outros. Cada um tinha, claro, sua versão dos fatos. E a mãe, coitada, se via arrastada para aquele círculo de fofocas e discórdias.
Certo dia, ela baixou um decreto: todos tinham que ficar em silêncio por pelo menos uma hora depois de sua chegada em casa. Quem quebrasse a regra ia automaticamente para o castigo.
Dessa forma, ela garantia a paz no lar e inibia a propensão das crianças para a fofoca.
Essa história me marcou porque, na minha casa, esse enredamento era terminantemente proibido. Costumo dizer que a primeira vacina que o doutor René me deu foi a da antifofoca. Desde então, estou imune.
E os que me conhecem sabem bem que esta compulsão não me atinge. Nem deixo prosperar o fluxo das maledicências.
Ou, pelo menos, tento estancá-lo.
Mas, diariamente, desavisados tentam (parafraseando George Lucas) me arrastar para o lado negro da força.
De fato, recebo com frequência (e fartura) um arsenal de futricas.
Um manda mensagem por celular – com ululante intenção de provocar ciumeiras – dando conta de que determinada figura pública recebeu regalos à beira mar.
Outro confidencia em Recife para amigos, em tom de aviso, que um publicitário integrante de campanha eleitoral recente se transformara em inimigo do Sistema Correio.
E um terceiro escreve para meu correio eletrônico depreciando artigo extraordinário que um dos nossos colaboradores publicou há poucos dias no Jornal Correio, sem saber que – minutos antes – eu mesmo havia ligado para o articulista parabenizando pelo texto emocionante.
Como se vê, o leque é amplo e indiscriminado.
E fico a lamentar a compulsão que alguns têm para promover a desagregação através da fofoca. E instalar, com comentários inoportunos (e aparentemente singelos) o mal estar e a intriga.
Dissimulam, mas sem sucesso. Pois jorram, com abundância, a verve do mal. Fazendo sobressair o perfil delator e denuncista.
Seus alertas e mensagens nunca têm viés positivo. Pelo contrário. São emissários de conteúdos atirados com alvo certo: tentar tirar sua tranquilidade.
Aos meus olhos, são verdadeiros espíritos de porco, incorporados em almas que se inquietam com a franqueza, a amizade e a solidariedade.