O COI (Comitê Olímpico Internacional) e o Comitê Organizador Rio-2016 disseram que vão recorrer da decisão da Justiça que liberou manifestações políticas durante a Olimpíada.
Na segunda-feira (8), um juiz federal concedeu uma liminar liberando manifestações políticas pacíficas durante as provas.
A decisão do juiz federal foi tomada após alguns torcedores serem retirados das arenas por exibirem cartazes “fora, Temer”. No último sábado (6), a Polícia Militar de Minas Gerais retirou 12 torcedores das cadeiras do Mineirão durante partida entre Estados Unidos e França, pelo torneio feminino de futebol, por conta de um protesto político contra o presidente interino Michel Temer.
Na cerimônia de abertura, Temer tentou, mas não escapou das vaias do público. A organização do evento tentou poupar o presidente de apupos. Seu nome não foi anunciado em nenhum momento da cerimônia -mesmo quando estava previsto no roteiro oficial. Contudo, ele não escapou das vaias quando declarou os Jogos abertos.
A lei olímpica e as regras internas da competição vetam qualquer tipo de intervenção política ou religiosa nas instalações esportivas. No último domingo, o Comitê Rio-2016 havia se pronunciado e apoiou a decisão da Polícia Militar no Mineirão.
Logo depois do pronunciamento do Comitê Rio-2016, um voluntário decidiu abandonar a Olimpíada em protesto ao posicionamento do Comitê Olímpico Internacional e do Comitê Organizador de não permitirem manifestações políticas nas arenas esportivas.
Enquanto não conseguem derrubar a decisão atual, os comitês informaram que vão respeitar a Justiça.
“Revemos hoje a decisão com a liminar que reconsidera as manifestações legais. Pedimos às vistas do processo ao juiz. Vamos respeitar enquanto isso. A liminar está em vigor, vamos respeitar”, disse Mário Andrada, diretor de comunicação do Rio-2016.
“Só acreditamos que as instalações esportivas não são lugares para manifestações políticas e religiosas. Lembro que na Copa do Mundo a lei era exatamente a mesma”, completou.
VENEZUELA
Na segunda-feria (8), um grupo de torcedores venezuelanos levantou uma bandeira com os dizeres “SOS Venezuela” na partida de basquete entre Estados Unidos e Venezuela, que terminou com vitória americana por 113 a 69.
Eles foram retirados pela organização dos Jogos (estavam fora do assento deles) e instruídos a não levantar a bandeira. A organização informou à Folha que a bandeira não era permitida por ser um “conteúdo político”.
Também assistindo ao jogo, o venezuelano José Riva, preparador técnico do time de judô é taekwondo do país, afirmou ser contra esse tipo de manifestação.
“Defendo a livre expressão, mas aqui não é lugar de falar mal do nosso país, isso estraga o esporte”, disse.
Ele afirmou que não está faltando nada para as equipes venezuelanas. “Tem muito investimento no esporte da Venezuela, não nos falta comida, nem tênis, nem roupa”.
PÚBLICO
Enquanto o debate jurídico se desenvolve, o tema também divide opiniões entre os torcedores que frequentam os locais de prova.
O engenheiro aposentado Nilton Brás, 58, que leva uma bandeira do Cruzeiro para todos os torneios de tênis e viagens de turismo que faz, afirma que a “polarização” complica a exibição de faixas de teor político na Olimpíada.
“É diferente do futebol, que esparrama por todo mundo. Tem eu aqui, ao lado tem um flameguinsta e um vascaíno. Lá na frente tem uma bandeira do Palmeiras. Isso equaliza a questão. A política não, é polarizada, fica uma briga, complica”, afirmou o mineiro, enquanto acompanhava o duelo entre a australiana Samantha Stosur e a alemã Angie Kerber na quadra número 1 do Centro Olímpico de Tênis na terça (9).
“Ainda assim, acho que uma manifestação esporádica de ‘Fora Temer’ ou ‘Fora Dilma’, não tem problema nenhum. O que não dá é para liberar geral, fazer campanha política em quadra”, diz.
Nas partidas de tênis, as manifestações políticas até aqui foram raras. As futebolísticas, com bandeiras de clubes penduradas pelo estádio, são quase uma norma.
Na Arena do Rio, onde aconteceu a final da competição por equipes de ginástica artística, um cartaz de protesto contra o presidente interino, Michel Temer (PMDB), foi mostrado na arquibancada.
Grazia de Grazia, assistente social, e as advogadas Karina Uzzo e Vanessa Osório levaram o cartaz com a inscriçãoo “Fora, Temer” porque dizem não concordar com deposição de uma presidente eleita para a entrada de um não eleito.
Elas sabiam que os cartazes estavam proibidos no início dos Jogos, mas disseram que iriam levá-lo à arena mesmo assim.
Fonte: Folha de S. Paulo